Sobre o evento dramático da libertação do Egito, a Torá afirma: "Quando teu filho perguntar amanhã, 'Que é isto?', você responderá: 'Com mão forte nos tirou o Eterno do Egito, da casa da escravidão'".
O grande sábio Rashi, ao comentar este versículo, ressalta que a palavra "amanhã" possui dois significados. Existe um "amanhã" no decorrer das próximas 24 horas; e um outro, que indica um futuro mais distante. Entretanto, ambos se referem à questão indagada por nossos filhos.
A Torá fala que há dois tipos de filhos com dúvidas sobre o judaísmo. Alguns pertencem a categoria do "amanhã" próximo, ou seja, fazem perguntas, colocam dúvidas, se encaixam e possuem linguagem comum e imediata. Não estão afastados, nem mesmo distantes. Na verdade, são a segunda geração, o "amanhã" natural de nosso "hoje" e, como crianças, questionam e investigam.
É nosso dever nos preocupar com eles, diz a Torá; responder suas questões e esclarecer suas dúvidas. Há, entretanto, um outro tipo de jovem que, apesar de ser filho natural, pertence a um "amanhã" longe e distante, desagregado dos pais pelo "choque de gerações". Exemplos deste grupo são, infelizmente, muito comuns atualmente. É uma juventude com conceitos distintos, se comunica por meio de outra linguagem e as perguntas e necessidades são integralmente de outra natureza.
Que abismo de tempo se originou entre estes jovens que não falam a mesma língua e nem seguem o antigo modelo dos pais? Suas perspectivas de vida estão tão distantes das de seus pais!
Deveríamos esfriar ou mesmo afastar nosso relacionamento com eles? Talvez nem mesmo fosse preciso nos sentir responsáveis por eles. Além disso, não seria melhor negar resposta a suas questões e dúvidas, colocadas cínica e amargamente?
A Torá não teme perguntas. Pelo contrário, as enfatiza: "Quando teu filho perguntar amanhã" - trata-se de cada filho e de qualquer tipo de "amanhã". De fato, a Torá deseja que as perguntas sejam feitas para que o judaísmo seja compreendido. Claro, que o cumprimento das mitsvot e o estudo de Torá não devem ser colocados como condição à resposta dessas questões.
Se hoje em dia qualquer jovem lhe fizer perguntas sobre judaísmo, não importa o que e como indague, mesmo que suas dúvidas sejam colocadas de forma abrupta e agressiva, devemos nos conscientizar de que são nossos filhos. Precisamos estar preparados para lhes fornecer as respostas.
Sempre há tempo de reverter o quadro da "ignorância" do "deixa para lá" ou do "para que, não preciso disto", ou "vivo melhor sem isto". Devemos isto a eles.
É necessário lhes dar uma atenção especial, de coração e alma, como a um filho próprio. É preciso estender nosso braço e lhes dar uma mão para que sintam que também eles saíram do "Egito".
Através do conhecimento, poderão libertar as influências externas negativas que limitam seu potencial espiritual, atravessar solo seco e estarem prontos para receber nossa herança, sem fronteiras.
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