A arca levou nada menos que 120 anos para Noach construir, permitindo muito tempo para os que olhavam sua obra poderem questionar suas ações e serem informados da calamidade iminente podendo mudar seu comportamento. Infelizmente, esse arrependimento nunca ocorreu.
Finalmente, no ano 1656 (2105 AEC), chegou o dia em que tudo iria mudar.
O Dilúvio
No 17º dia do mês hebraico de Cheshvan, a chuva começou a cair. Além disso, jatos de água fervente brotaram das profundezas da terra. A chuva continuou durante quarenta dias e quarenta noites, até que a face da terra ficou completamente submersa, cobrindo os cumes das montanhas mais altas com três metros de água.
Finalmente, a chuva terminou, mas as águas continuaram altas por mais 150 dias. Após esse período, o nível da água começou a diminuir lentamente, até que a arca pousou sobre as montanhas de Ararat.
Para determinar a extensão da diminuição da água, Noach enviou um corvo, mas a ave não voou até lá e meramente circundou a arca. Passado um tempo, Noach enviou uma pomba para um total de três missões. A primeira vez que a pomba deixou a Arca, voltou sem nenhum resultado. Na segunda vez, voltou com uma folha de oliveira no bico, indicando que a vegetação tinha começado a brotar. Na terceira e última vez, não voltou, indicando ter encontrado um local de descanso fora da arca.
Finalmente, no primeiro dia do mês hebraico de Tishrei do ano 1657 (2104 AEC), a água baixou totalmente. Cerca de dois meses depois, em 27 de Cheshvan, o solo secou totalmente, permitindo que Noach e o restante dos moradores da arca emergissem.
O tempo total que Noach passou na arca foi de 365 dias (um ano solar; um ano e 11 dias no calendário lunar).
O Dilúvio: Uma Linha no Tempo
Segue uma cronologia do Dilúvio, como indicado pelas datas e períodos dados na Torá e calculados por Rashi:
- 17 de Cheshvan (metade do outono): Noach entra na arca; a chuva começa.
- 27 de Kislev (início do inverno): Quarenta dias de chuva terminam: começo dos 150 dias de água subindo e inundando.
- 1 de Sivan (início do verão): A água diminui e começa a baixar alguns centímetros a cada quatro dias.
- 17 de Sivan: O fundo da arca, submerso 11 cúbitos abaixo da superfície, chega ao topo das montanhas de Ararat.
- 1 de Av (verão): Os cumes da montanha aparecem na superfície da água.
- 10 de Elul (final do verão): Quarenta dias após o pico da montanha ficar visível, Noach abre a janela da arca e despacha um corvo.
- 17 de Elul: Noach envia uma pomba pela primeira vez.
- 23 de Elul: A pomba é enviada pela segunda vez, e retorna com uma folha de oliveira no bico.
- 1 de Tishrei: (começo do outono): Terceira missão da pomba. A água baixou completamente. A pomba não retornou à arca.
- 27 de Cheshvan: O solo ficou totalmente seco. Noach com todos saem da arca.
(esta cronologia segue a opinião do sábio talmúdico Rabi Eliezer. Segundo a interpretação de Rabi Yehoshua o Dilúvio começou em 17 de Iyar, e todas as datas acima deveriam ser adiantadas seis meses).
Vida na Arca
A vida na arca não era um piquenique. O Midrash relata que durante a longa jornada na arca, Noach e seus filhos mal dormiam, pois estavam totalmente ocupados em alimentar os animais e as aves. Cada animal precisava receber um alimento específico na hora exata durante o dia.
A tremenda carga de trabalho e a pressão fizeram Noach cuspir sangue. Além disso, Noach certa vez atrasou para levar comida ao leão, e o animal furioso mordeu Noach.
Como a arca conseguiu conter centenas de milhares de espécies de vida animal e alimento necessário para alimentá-los durante um ano inteiro? Segundo uma opinião, a arca era milagrosa por natureza, permitindo uma carga muito além das suas reais dimensões.
Isso também explica como animais carnívoros conviviam em paz com suas presas. Os ensinamentos chassídicos explicam que a arca de Noach evocava o tempo da futura Redenção, quando “o lobo habitará com o cordeiro...”
Sequência e Legado
Ao deixar a arca, Noach ergueu um altar e sacrificou alguns dos animais casher e aves a D'us. Em seguida, D'us prometeu jamais erradicar novamente toda a humanidade. Para isso, D'us estabeleceu um pacto com Noach e seus descendentes, e fortaleceu o pacto através de um arco-íris. “Toda vez que a humanidade não for merecedora,” disse D'us a Noach, “e pensamentos de destruição surgirem em Mim, farei aparecer um arco-íris entre as nuvens. Isso Me lembrará de Meu pacto, e não permitirei que esses pensamentos se materializem”.
Após o Dilúvio, D'us dotou Noach e seus filhos com o mandamento da procriação. Além disso, D'us concedeu permissão a Noach e seus descendentes leis referentes ao consumo de carne animal (desde que o animal não estivesse vivo na hora do consumo), o que era proibido até então.
Nos dias após o Dilúvio, Noach plantou um vinhedo e fez vinho com a produção. Então tomou o vinho e ficou embriagado, deitando nu em sua tenda. Embora os filhos de Noach, Sem e Jafet cobrissem a nudez do pai, seu irmão Ham e o filho de Ham, Canaan, o desrespeitaram. Isso fez Noach amaldiçoar Canaan, declarando que ele seria um escravo para seus irmãos, e abençoou Sem e Jafet.
O Dilúvio foi seguido por uma calamidade de um tipo diferente: a dispersão. No ano 1997 da Criação (1764 AEC), uma multidão de nações se reuniu no vale da Babilônia. Com a meta de desafiar a D'us, começaram a construir uma cidade, com uma torre no alto – a Torre de Babel – que era para chegar aos céus. Quando D'us viu os seus planos, limitou cada nação a falar e entender um só idioma. Incapaz de se comunicar, eles debandaram, e D'us os dispersou sobre a face da terra.
Dilúvio de Pureza
À primeira vista, o Dilúvio parece ter sido um ato de ira cósmica. Mas a Cabalá ensina que a maior energia que guia o cosmos é a de chessed, bondade e compaixão. A ira é incompatível com a postura espiritual. Há claramente algo muito mais sublime na narrativa do Dilúvio.
Os ensinamentos chassídicos descrevem o Dilúvio como um processo de purificação. As águas do Dilúvio são como as águas de um banho ritual – um micvê – onde as águas limpam espiritualmente aquele que entra nelas. O mundo similarmente recebeu uma limpeza espiritual, estabelecendo o curso da história num curso de esperança e propósito. E assim como um micvê deve conter 40 seah (uma antiga medida de volume), também as chuvas do Dilúvio duraram por quarenta dias.
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