Essa é a história de um shamash (assistente da sinagoga) na cidade polonesa de Oswiecim que enterrou um rolo de Torá antes que os alemães invadissem sua cidade logo em seguida e renomeassem a cidade para Auschwitz.

Essa Torá ficou escondida por mais de 60 anos, enterrada onde o shamash a colocou até que o Rabino Menachem Youlus, que vive em Wheaton, Maryland, e dirige uma fundação sem fins lucrativos (chamada ‘Salve uma Torá’), começou a procurá-la há mais ou menos nove anos. O Rabino Youlus comentou que por mais de duas décadas a fundação achou mais de 1.000 rolos de Torá profanados – vindos da Siria, Irã, India e China assim como da Europa Oriental – e os restaurou, um processo penoso e caro. Esse caso então era muito difícil, mas o Rabino Youlus estava determinado.

Ele tinha ouvido uma história contada por sobreviventes de Auschwitz: Três noites antes de os alemães chegarem, o shamash da sinagoga pegou os pergaminhos da Torá e os colocou dentro de uma caixa de metal e a enterrou.

O shamash sabia que os nazistas pretendiam destruir o judaísmo além de matar judeus. Mas os sobreviventes não sabiam onde o shamash havia enterrado a Torá. Outras pessoas que se interessaram em resgatar essa Torá depois da guerra não tiveram sucesso. O Rabino Youlus pensou muito sobre esse assunto e chegou à conclusão que o último lugar que os nazistas procurariam uma Torá seria no cemitério, então esse foi o primeiro lugar que pensou em procurar na sua peregrinação a Auschwitz entre 2000 e 2001.

Com um detector de metais ele caçou um caixa de metal (se a história contada estava correta), num cemitério onde todos os caixões são feitos de madeira, de acordo com as leis funerárias judaicas. O detector de metais não acionou nenhum sinal, então ele sentiu-se muito desencorajado.

Retornou para casa em Maryland e um de seus filhos, Yitshac, então com 13 anos, perguntou se o cemitério naquela época teria o mesmo tamanho que hoje. Eles procuraram na Internet e descobriram registros de terrenos que mostraram que o cemitério atual é bem menor do que o original.

Rabino Youlus voltou lá em 2004 com seu detector de metais, e procurou pelo lugar específico onde deveria estar a gueniza (local onde os pergaminhos e livros com escrituras sagradas danificados são enterrados) daquela época. O detector apitou quando passaram por uma casa que tinha sido construída após a Segunda Guerra Mundial.

Ele cavou perto da casa e encontrou a caixa de metal. Mas quando a abriu, descobriu que a Torá estava incompleta. “Estavam faltando quatro painéis,” ele falou. “A questão óbvia era, por que o shamash enterraria o rolo de Torá com quatro painéis faltando? Eu estava convencido que esses quatro painéis tinham uma história toda própria.” E tinham... Ele soube disso quando colocou um anúncio num jornal polonês local perguntando se alguém sabia alguma informação sobre pergaminhos com letras hebraicas.

“Falei que pagaria uma boa quantia para quem os tivesse.” Falou o Rabino Youlus.

“A resposta veio no dia seguinte... de um padre. Ele falou ‘Sei exatamente o que o senhor está procurando, quatro painéis da Torá.’ Não consegui acreditar.”

Ele comparou as letras e a paginação, e pagou ao padre. “O padre me disse que esses painéis tinham sido levados para Auschwitz por quatro pessoas diferentes,” rabino Youlus disse. “Acredito que eles foram dobrados e escondidos. Um deles continha os Dez Mandamentos do livro Shemot (Exôdo), uma porção que, ao ser lida a cada ano, a congregação levanta-se para escutar a leitura dos Dez Mandamentos em pé. Outra continha um trecho similar no livro Devarim (Deuteronômio).”

O padre, que nasceu judeu, era também um sobrevivente de Auschwitz. Ele contou ao Rabino Youlus que as pessoas com os quatro painéis da Torá tinham lhe dado esses rolos antes de serem executadas.

“Ele guardou esses quatro rolos até que ver o anúncio no jornal,” disse o rabino Youlus. “Assim que ele leu teve certeza que se tratava dos seus painéis.”

O Rabino Youlus disse que quase metade das letras da Torá precisavam de reparos, o que foi realizado por uma fundação. Acrescentou que era uma Torá robusta e que não foi usada por décadas. Ela está agora na Sinagoga Central na Lexington Avenue na 55th Street em Nova York. O plano é torná-la disponível a cada dois anos para a Marcha da Vida, programa educacional internacional que agrupa jovens judeus para ir à Polônia marchar de Auschwitz até o campo de extermínio de Birkenau – seu vizinho. Essa é realmente uma oportunidade de olhar para o céu e agradecer pela restauração de um objeto sagrado tão caro e estimado para o povo judeu.

Os nazistas pensaram que varreriam os judeus da face da terra. “Aqui estamos mostrando o símbolo da esperança judaica, da sobrevivência do povo judeu e de sua eternidade ao usarmos a Torá redescoberta e reconsagrada,” afirma o Rabino Youlus. “Nós vencemos!”