Não sou um cabalista. Nem filósofo.

Se eu fosse, poderia falar sobre realidades sublimes como beleza e verdade em algo, abordando um jeito autoritário. Porém tudo que posso dominar são algumas poucas lições de vida e algums vislumbres sobre a Torá.

Por exemplo: às vezes a verdade é feia.

Tome Avraham como exemplo. Eis aqui um homem que é herói para todos. Quem mais poderia ser adorado por cristãos, muçulmanos e judeus? Fundador do monoteísmo ético, anfitrião por excelência, educador, iconoclasta, desafiando os homens a se elevarem acima da própria mediocridade, porém desafiando D'us a descer de Sua excelência intransigente para nos valorizar por aquilo que somos.

Sim, Avraham foi lindo, porém não parou lá. Seu comprometimento foi muito além da sua bondade natural, muito além de sua natureza bondosa e sábia. Seu comprometimento foi supremo, e isso pode parecer assustador, bastante assustador.

O maior teste de Avraham, a amarração de Yitschac, não é o tipo de ação que se chamaria de sábia, nem bondosa, nem mesmo sana. Lembro-me de estudar a história da amarração de Yitschac com um brilhante erudito que acima de tudo amava a Torá. Porém essa história o incomodava, não, na verdade, o assombrava. “Ele estava errado! Não tinha o direito de fazer isso!” A história o deixava fora de si.

Avraham construiu toda sua vida no sentido de promover D'us no mundo. Ele afastou o Oriente Médio da idolatria, ensinou as pessoas, alimentou-as, nutriu-as com fé no Criador onisciente, justo e benevolente. Foi um modelo vivo do D'us bom que ele pregava. E então o quê?

Então veio o grande teste: oferecer Yitschac como sacrifício. Algo que se parece bastante com isso: Cometa um assassinato. Mate um ser humano, Mate seu próprio filho. Seu único filho. O filho que você ama. O prometido futuro pai de milhões de filhos. Vá em frente. Faça de mim um mentiroso. Amarre-o e corte sua garganta. Observe-o sangrar até a morte. Destrua a sua vida, destrua a Minha reputação, e não pergunte por quê. Apenas faça isso.

Ahhh, você poderia lembrar, recue. Não foi tão ruim. No último instante, D'us disse: “Pare.” Ele apenas queria a oferta, não o ato. Sim, D'us era lindo, mas Avraham não queria parar ali. “Deixe-me tirar apenas uma gota de sangue.” Avraham queria servir em verdade, com suprema verdade. E isso não é bonito.

Mas então mais uma vez, não sou filósofo, nem cabalista.

Se eu fosse, poderia ver a beleza dentro da feiúra, a verdade dentro da mentira. Mas adivinhe só. Tudo que sei é “D'us assim o disse.” E na verdade, isso basta, porque ironicamente, viver em verdade com D'us É lindo, quer entendamos ou não.