Esta passagem da parashá trata de uma mulher, que como resultado do seu comportamento, deu margem para seu marido suspeitar que cometera adultério, mas não havia provas sobre sua verdadeira culpa ou inocência. A Torá nos dá um processo milagroso capaz de provar que ela havia pecado e causava sua morte juntamente com a do homem que pecou com ela; ou então, mostrava, sem sombra de dúvida, que ela sempre foi fiel a seu marido, restaurando assim a confiança e amor no casamento.

O judaísmo, assim, enfatiza a definição de um matrimônio: não é um meio conveniente para satisfazer desejos físicos, mas sim um relacionamento santificado que exige fidelidade e pureza.

Este é o único julgamento na Torá que dependia de uma intervenção sobrenatural; era um milagre que ocorria enquanto o povo judeu se manteve num nível espiritual elevado e merecedor. Este processo foi abolido na época do Segundo Templo, quando o povo judeu tinha decaído em seu nível espiritual.

O objetivo deste procedimento era duplo: evitar o adultério e a imoralidade e nutrir a confiança entre marido e esposa. É uma realidade psicológica que, uma vez que um marido suspeita da esposa, não consegue mais confiar nela, mesmo se uma corte de justiça achar que ele se enganou; decisões legais raramente mudam os sentimentos. Somente o testemunho do próprio D'us será suficientemente convincente.

D'us ensinou estas leis a Moshê:

Um homem e uma mulher ficaram a sós por um tempo suficiente para cometerem pecado e de maneira tal que isto tornou-se possível. Antes deste incidente, o marido - baseado num comportamento impróprio de sua esposa - já suspeitava dela e a advertiu: "Não fique sozinha com fulano de tal". A esposa, porém, ignorou seu pedido. Duas testemunhas afirmam que ambos estiveram juntos e tiveram a oportunidade de cometer o adultério, mas não viram se de fato isto se consumou.

(Se havia uma testemunha afirmando que ela realmente pecou o teste de sotá não era realizado. A mulher também não era testada se foi forçada a esta situação; neste caso era inocente. O teste de sotá não produzia efeito, quando o próprio marido era culpado de infidelidade conjugal).

O marido a leva ao Grande San'hedrin, que é a mais alta corte judaica, com setenta juizes.

"Você pecou com o estranho com quem esteve?" - perguntavam os juizes à mulher.

Se ela responde: "Não", eles diziam: "Você será testada para sabermos se diz a verdade."

A mulher é então trazida perante um cohen.

A Torá chama uma mulher trazida ao San'hedrin pelo marido de "sotá", que significa: "se desviar", ou seja, a mulher que abandonou o comportamento judaico apropriado.

O Cohen Prepara a Mistura de Água

O cohen então preparava uma água especial que a mulher teria de beber. Isso iria testá-la para ver se dizia ou não a verdade.

O cohen pegava a água da bacia no Tabernáculo (kiyor) e a misturava com poeira do chão.

  • Por que D'us ordenou que a água fosse apanhada do kiyor?


O kiyor era feito de espelhos de cobre que as mulheres judias doavam. A água do kiyor é dada a uma esposa infiel para lembrá-la que: "Você não agiu como as mulheres judias no Egito, que foram fiéis aos maridos!"

  • Por que a poeira é misturada à água?


A poeira sugere a ela: "Você sabe qual é o fim de todos? Seu corpo retorna ao pó. Por isto, faça teshuvá antes que seja tarde!"

O cohen anuncia: "Escreverei novamente num rolo os versículos descrevendo a sotá. Estes versículos contêm o Ilustre Nome de D'us. Apagarei as palavras na água. Você, então, beberá a água."

"Se você é culpada, a água fará seu corpo inchar, e seus membros ficarão fracos. Você morrerá. Por isso, admita agora! Não precisarei então apagar o sagrado nome de D'us na água."

(Ambos, marido e mulher devem perceber a grande lição que D'us nos ensinou neste episódio: Ele permitiu que Seu Nome fosse apagado para restaurar a harmonia de um lar. Portanto, quando há uma discussão entre um casal, cada um deve estar pronto para sacrificar sua dignidade e honra pessoal em prol da paz).

O Cabelo da Sota é Descoberto

Durante este procedimento o cohen descobria o cabelo da mulher. Porque o cabelo da sotá era revelado? Diziam a ela: "Uma mulher judia casada é proibida de aparecer em público com seu cabelo descoberto (Talmud Ketuvot 72a). Você se desviou dos caminhos das filhas judias. Agora, você parecerá uma gentia."

Qual o significado das palavras, "Sua esposa será como uma vinha frutífera nos aposentos interiores do lar; seus filhos como mudas de oliveiras ao redor de sua mesa" (Tehilim 128:3)?

Este versículo promete fertilidade e filhos à esposa que se conduz com modéstia e recato, reservando sua beleza exclusivamente para o marido. A mulher que tem um cuidado especial, cobrindo seus cabelos completamente, merecerá filhos que brilharão como galhos de oliveiras.

Azeitonas podem ser saboreadas frescas ou secas; são comercializadas como iguarias; e o azeite produzido delas é de cor mais clara que qualquer outro óleo. Assim também, estes filhos se destacarão nos estudos da Torá e ainda outros serão comerciantes honestos, seguindo os ensinamentos Divinos em seus negócios. As folhas da oliveira não caem no verão e nem no inverno, simbolizando que seus descendentes perdurarão para sempre.

Mais ainda, ela faz com que sua família seja abençoada materialmente. Ela e seu marido viverão para ver seus filhos e netos como o versículo continua: "Merecerás ver os filhos de seus filhos" (Tehilim 128:6).

O Destino da Mulher Infiel

Quando o cohen terminava de advertir a mulher sobre sua punição, ele anotava num rolo de pergaminho as palavras da Torá que disse a ela. Apagava a escrita com água.

Finalmente, dava-lhe a água para beber. Se ela fosse culpada, seu corpo inchava, a face empalidecia e seus membros se enfraqueciam. Ao mesmo tempo, o homem com quem ela pecou também era punido, mesmo sem ter bebido daquela água. A mulher é tirada para fora do Templo Sagrado para então morrer.

Por outro lado, se ela não cometeu pecado algum, a água não lhe causava mal algum. D'us a recompensava pela humilhação que ela havia passado. Para esta mulher as águas agiam como um reconfortante remédio. Seus órgãos se fortaleciam, seu rosto se tornava radiante; se sofria de algum mal, estava curada. Se era estéril, conceberia um filho. Se tivesse apenas filhas, D'us, agora lhe concederia filhos homens. Se tivesse no passado complicações no parto, agora daria a luz com facilidade. Mais ainda, a Torá lhe prometia um filho especial e tsadic (justo).

A Promessa das Pessoas que Testemunharam a Sota

Muitos judeus que viram o que aconteceu à sotá prometeram: "Nunca mais tocarei em vinho. Pode ser que eu, também, beba demais, e faça algo errado.'

D'us disse: "Se um judeu prometer não beber mais vinho, deixe-o cumprir certas leis. Observando estas leis, ele se tornará um nazir", que significa: aquele que se abstém de beber vinho. E ao cumprir as outras leis de um nazir, torna-se uma pessoa santificada. Quais são essas leis?