O homem consegue entender o Eterno, bendito seja? Eliyáhu, o Profeta, declarou: "Nenhum raciocínio pode Te entender!"

Rabi Shneur Zalman explica longamente este conceito. Há uma distinção entre raciocínio comum e raciocínio envolvido em Torá e mitsvot. Através do segundo tipo de raciocínio, um judeu é capaz de "entender" o Eterno, bendito seja.

O significado de "entender" no sentido espiritual precisa de uma explicação. Os ensinamentos de D’us – a Torá – foram dados a nós para estudar e para entender. Mas a essência da Torá é pura santidade. Assim surge a questão: como é possível compreendê-la? Além disso, através de quais meios um judeu abraça o Eterno, bendito seja? Recebemos as respostas a estas perguntas no quinto capítulo do Tanya.

Absorvendo um Conceito

De um ponto de vista técnico, o conhecimento é adquirido em estágios. Desde o início, quando alguém é primeiro apresentado a um assunto (que geralmente aprende de maneira superficial e geral, neste estágio) ele "abraça" o conceito intelectual, para que "a mente apreenda aquele assunto e o domine."

Um estágio mais avançado de absorver o material é conseguido somente depois que ele tem um adequado e preciso entendimento de todo o tópico, tendo estudado todas as matérias específicas que compõe o assunto. Neste estágio o material que estuda é bem absorvido pelo intelecto. Na linguagem do Tanya, "o assunto é apreendido e envolvido, e revestido pelo intelecto que o entendeu e percebeu." Obviamente, este nível de compreensão não é atingível por meio do aprendizado superficial, mas sim através de intensa concentração e supremo esforço, com o resultado de que a pessoa compreende o assunto clara e completamente. Ao estudar com tamanha concentração, é incapaz de prestar atenção a qualquer outra coisa ao mesmo tempo. Como declara o Tanya: "o intelecto é envelopado dentro do assunto no tempo da compreensão intelectual."

A maneira pela qual o intelecto apreende um assunto, como descrito acima, é realmente verdadeiro para qualquer disciplina intelectual. Uma das razões pelas quais Rabino Shneur Zalman discute este tema a respeito de compreender a Torá é para aludir ao fato de que mesmo uma pessoa que estuda Torá pelos motivos errados, i.e., não pelo mérito da Torá em si, ou pior ainda, estuda a Torá de tal maneira que ela se torna um "elixir da morte", terminará por retornar ao caminho certo. Pois, enquanto a Torá é assimilada dentro dele, "a luminária dentro dela [da Torá] o fará retornar ao caminho certo."

Uma Maravilhosa Unidade

Rabi Shneur Zalman enfatiza a suprema importância de aprender Torá com a compreensão e entendimento adequados, pois além de todos os outros benefícios do aprendizado, aquele que estuda Torá merece atingir "uma unidade maravilhosa" com a qual não há paralelo no âmbito físico – a unidade do intelecto humano com a sabedoria de D’us.

A unidade é conseguida quando se estuda qualquer um dos ramos do conhecimento de Torá. Isso é verdadeiro mesmo quando uma pessoa se ocupa em solucionar um problema envolvendo o mundo material, tal como uma lei em Choshen Mishpat, a seção do Shulchan Aruch que trata de assuntos e disputas financeiras, e de conflitos entre vizinhos, etc. Quando ele entende claramente a lei, ele "compreende realmente a vontade e sabedoria de D’us".

Simultaneamente, seu intelecto é também revestido da Divina vontade e sabedoria contidas na Torá. Os dois aspectos da unidade – envolver e ser envolvido – formam a "maravilhosa unidade; no mundo físico não há unidade similar ou paralela a esta, e eles realmente se tornarão um e unidos de cada ângulo e lado."

A Filosofia Chassídica explica que ao aprender Torá, além do fato de que a pessoa estuda a vontade e sabedoria de D’us, também atrai sobre si a luz Divina. Esta Divina luz tem dois aspectos: a luz que é atraída para baixo, e é absorvida pela pessoa que estuda Torá; e um nível mais elevado de luz que transcende o intelecto humano, e que não pode ser absorvida internamente. Ao contrário, ela envelopa e envolve a alma. Assim, quando uma pessoa estuda Torá, e entende completamente o tópico estudado, seu intelecto envelopa e contém dentro de si a sabedoria de D’us (o primeiro aspecto da Divina luz). Ao mesmo tempo, seu intelecto é envelopado, e contido na sabedoria e vontade de D’us (o segundo aspecto da Divina luz).

Assim, ao aprender a Torá por inteiro, e entendê-la com perfeita clareza, o aluno se funde e se une com toda a vontade e sabedoria de D’us, não apenas com o assunto específico de Torá que ele estudou. O aspecto da Divina luz que pode ser entendido penetra sua própria essência, e o aspecto da Divina luz que transcende o entendimento humano reveste e envolve seu intelecto. Desta maneira, uma maravilhosa unidade é conseguida – o estudante de Torá une-se com a sabedoria de D’us para que "tornem-se realmente um e unidos de cada lado e ângulo."

A Superioridade dessa Unidade

A fim de entender mais claramente como é sublime esta unidade do intelecto humano com a sabedoria e vontade de D’us, citaremos explicações adicionais extraídas dos ensinamentos chassídicos de Chabad:

Quando uma pessoa se ocupa com o estudo de Torá, e se concentra em entender a verdadeira explicação do assunto em pauta, ela se une com a sabedoria e vontade de D’us de um modo muito intenso. Dessa maneira sua alma é elevada, pois está ligada e se funde na sabedoria de D’us.

"Israel está ligado à Torá": Quando o intelecto do homem compreende e contém a sabedoria de D’us, e ao mesmo tempo seu intelecto está envolvido pela sabedoria de D’us, um laço poderoso ata o estudante a D’us. Isso é análogo a um nó duplo – um nó sobre o outro, representando a dupla unidade dele com D’us, e de D’us com ele, através da Torá. Este tipo de nó jamais se desfaz.

Quando a sabedoria de D’us é absorvida em seu intelecto e entendimento, ele se une com a palavra de D’us. Então todo seu ser e sua existência inteira são transformados na realidade da Torá. Até este ponto ele se envolveu na Torá de D’us. A partir desse ponto, quando ele se une totalmente com a sabedoria de D’us, a Torá é atribuída a ele e é chamada por seu nome: "e ele pondera sua Torá dia e noite."

Quando uma pessoa atinge este nível de estudo de Torá, torna-se um rei, como declaram Nossos Sábios: "Quem são os reis? Os Rabinos [estudantes de Torá.]" Além disso, o erudito governa sobre toda a Criação, como explicam Nossos Sábios sobre o versículo: "D’us cumpre [Sua promessa] para mim": A Corte Rabínica tem o poder e autoridade de mudar a natureza e a existência física quando estabelece os meses de acordo com sua visão da lua nova e segundo as leis a respeito do ano embolísmico.