No sexto capítulo do Tanya Rabi Shneur Zalman enfoca um conceito discutido na Cabalá e Chassidut – de que tudo na criação está dividido em duas categorias, o "lado da santidade" e o "outro lado". Estas duas categorias são opostos equivalentes tão intimamente alinhados um em oposição ao outro que entre eles não há uma zona cinzenta. Assim, tudo aquilo que não esteja incluído no âmbito da santidade naturalmente está no âmbito oposto – "do outro lado". Não há um estado intermediário. O que caracteriza o lado da santidade, e quais qualidades (ou ausência delas) são exigidas para que qualquer ser criado seja incluído nessa categoria?
Rabi Shneur Zalman responde estas perguntas de maneira bem simples: Somente aquelas criaturas que demonstram "a morada e extensão da santidade de D’us" estão incluídas nessa categoria. E não faz diferença se esta santidade é atraída para a criatura, permeando-a, ou se simplesmente paira acima dela, iluminando-a a partir do alto, no aspecto de makif, transcendendo o ser que ele envolve sem ser revelado de uma maneira interior.
Modéstia Absoluta
Em todos os aspectos da vida é um fato aceito que a absorção eficaz de qualquer substância exige o material absorvente adequado, ou um recipiente. Isso aplica-se também a assuntos espirituais. O intelecto, por exemplo, é o recipiente adequado para absorver o conhecimento, e quanto mais a pessoa se aprofunda em qualquer campo do conhecimento, mais intelecto será exigido para entender o assunto.
Qual é o "recipiente" apropriado para acomodar ou absorver santidade? O autor do Tanya explica que o único recipiente apropriado para a revelação interior da Divina Presença é a absoluta modéstia, a submissão total a D’us, pois "D’us habita somente naquilo que se rende a Ele." Um aforismo de Nossos Sábios expressa perfeitamente esta idéia: "Um recipiente vazio pode conter, um vaso repleto não."
Um exemplo servirá para ilustrar melhor essa idéia: Um aluno que deseja absorver por completo a abundante riqueza da sabedoria que seu mestre passa a ele deve renunciar completamente a seu próprio conhecimento e entendimento do assunto que deseja aprender. Similarmente, alguém que deseja ser merecedor da revelação interior da Divina Presença deve colocar-se num estado de total rendição e submissão ao Criador – pois esse é o único "recipiente" que pode conter a revelação da Shechiná.
A verdadeira submissão e rendição é um atributo dos anjos que habitam os reinos superiores. Assim como um peixe no mar sente que a água que o cerca é sua própria fonte de vida, e sem ela ele deixaria de viver, portanto não deseja deixar o oceano e ir para a terra seca, assim também os anjos estão conscientes da Divina Luz (o Or Ein Sof)) que os cria e sustém. E portanto, todo seu ser vive num estado de total e constante submissão ativa ao Criador.
Quando ao judeu aqui neste mundo, mesmo quando ele não sente uma verdadeira submissão consciente a D’us em suas faculdades e poderes revelados, mesmo assim ele está sempre num estado de potencial rendição. Ele tem a duradoura capacidade "para render-se completamente perante D’us, através do martírio pela santificação do nome de D’us."
O Repouso da Divina Presença
Rabi Shneur Zalman cita duas declarações de Nossos Sábios, baseadas no princípio de que todo judeu tem o "recipiente" adequado para atrair a Shechiná. A primeira refere-se a um indivíduo: "Mesmo que uma única pessoa se sente e comece a estudar Torá, a Divina Presença paira sobre ele." A segunda declaração refere-se a qualquer grupo de dez homens judeus: "Em cada grupo de dez judeus paira a Divina Presença", sempre.
Há vários níveis e aspectos do repouso da Shechiná. Quando qualquer judeu se senta e se ocupa com Torá, merece o cumprimento do versículo: "E Eu habitarei no meio deles." Embora esse contexto do versículo implique que a Divina Presença habita no Templo, o significado literal das palavras "no meio deles", em vez de "nele", sugere que a Presença Divina repousa neles, "em todo e cada judeu". Mesmo assim, este nível de Shechiná relaciona-se com o indivíduo, ou seja, à centelha de Divindade dentro de sua própria alma. No entanto, o nível de Shechiná que paira sobre um minyan é muito mais elevado, pois está associado com todo o povo judeu.
"Em cada grupo de dez judeus repousa a Divina Presença" – quando dez judeus estão reunidos em um local, mesmo que não estejam ocupados com o estudo de Torá, ou qualquer outro assunto sagrado, a Divina Presença paira. Evidentemente, se eles utilizam a oportunidade para assuntos celestiais e decisões positivas, a Shechiná será revelada de maneira muito mais poderosa. É supérfluo destacar que se o grupo for um "ajuntamento de gaiatos", não haverá maior insulto à Divina Presença, D’us não o permita.
Por outro lado, é importante enfatizar que a Divina Presença mesmo assim repousa sobre uma reunião de pessoas perversas (cujos pecados "criam uma barreira entre eles e D’us") quando eles rezam num minyan, como é explicado na Chassidut. Além disso, este é o nível da Shechiná que está associado com todo o povo judeu. Tal nível de Shechiná não é revelado a nenhum indivíduo, mesmo que ele seja perfeitamente justo, um tsadic gamur.
ב"ה
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