Os vinte e quatro livros do Tanach (Torá, Nevi'im e Ketuvim), abrangendo os cinco livros de Moshê e todas as obras proféticas, toda a Torá Oral compreendendo as seis ordens da Mishná e as leis que derivam da Mishná e Guemará, como descritas no Shulchan Aruch, bem como os ensinamentos esotéricos da Torá encontrados na Cabalá e Chassidut, todos possuem um denominador comum. Todos são expressões da sabedoria de D’us e estão impregnados de santidade.

Quando um judeu lê os eventos descritos no Tanach, não está simplesmente revisando fatos históricos. Ele se envolve em santidade. E quem estuda uma seção do Talmud, e compreende o veredicto como halachá estabelecido na Mishná ou Guemará ou nos códigos haláchicos, assimila e absorve a Vontade Celestial. Isso é verdadeiro mesmo se a passagem específica que ele estudou trata de argumentos e alegações esclarecedores extremamente raros ou abstratos, que jamais foram levados à discussão no passado, e talvez jamais sejam discutidos no futuro. Mesmo assim, seu intelecto está revestido na sabedoria de D’us, e ele experimenta a maravilhosa unidade de sua alma com a Divindade.

Sabedoria não mundana

A sabedoria da Torá é muito diferente da sabedoria humana. Qualquer idéia ou teoria apresentada a nós por um cientista pode ser empiricamente testada. Se passa no teste, diremos que a idéia está correta ou que a teoria é sólida, pois segundo o entendimento humano os fatos empíricos provam (ou desmentem) a teoria.

No entanto, naquilo que diz respeito à Torá, ocorre o oposto. A Torá é verdadeira em si mesma e não precisa evidência empírica para atestá-la. Pelo contrário, a Torá define a existência, como declara o Zohar sobre a criação do mundo: "O Eterno, Bendito seja, olhou na Torá e criou o mundo, e quando o homem se ocupa com a Torá ele sustém o mundo!" Assim a Torá de D’us cria a existência, confere-a e a sustém. Quando uma pessoa estuda halachá, i.e., qual seria a decisão prática em determinado caso, mesmo se o caso é completamente teórico, o valor do aprendizado não é afetado por sua falta de aplicação prática no presente. Pois ele compreende a verdade eterna e se une à Divina luz.

A Divina Luz e a Sabedoria Mundana

Para entender este assunto de forma adequada, devemos esclarecer a diferença essencial entre a sabedoria da Torá e a sabedoria humana convencional. Como : "Tu criaste tudo com sabedoria", por que não deveríamos dizer que toda a sabedoria, incluindo a sabedoria humana convencional, é extraída da sabedoria de D’us? Podemos portanto concluir que ao estudar a sabedoria convencional, o aluno se conecta ao Criador? O Tsêmach Tsêdek, o terceiro Lubavitcher Rebe, de abençoada memória, explica em sua obra Torah Or que há uma vasta diferença entre a Sabedoria Divina e a sabedoria convencional. A diferença é evidente tanto na fonte quanto na origem desses dois tipos de sabedoria, e pela maneira em que elas nos são reveladas. A Torá que foi outorgada a nós no Monte Sinai tem sua fonte na sabedoria de D’us como manifestada no mundo de Atzilut, o mais elevado dos mundos espirituais. Outros tipos de sabedoria têm sua fonte no nível mais baixo do mundo inferior, em malchut de Assiyá.

A explicação do Tsêmach Tsêdek continua em palavras simples: Sabedoria natural ou convencional é comparável aos dejetos humanos. Embora alguns desses produtos tenham origem na cabeça, como o muco nasal, nenhuma conexão pode ser encontrada com a cabeça ou com o cérebro. Assim também ocorre com a sabedoria convencional relativa ao intelecto humano – embora ele em última análise derive de Sua bendita sabedoria, a conexão entre elas é indiscernível. Ou seja, a Luz Infinita não ilumina estes outros tipos de sabedoria; aquilo que é revelado, em vez disso, é simplesmente a inteligência humana. Em contraste, a Divina Santidade reside na Torá que foi outorgada a Israel. E mesmo após descer para ser envolvida em objetos materiais deste mundo, ela permanece exatamente como é no alto.

Além disso, mesmo onde a visão mundana a respeito de determinados assuntos reflete a opinião da Torá sobre os mesmos, há uma importante diferença entre eles. Há uma diferença entre aprender halachá das decisões do Shulchan Aruch e das autoridades haláchicas, e aprender o mesmo ato prático de outras fontes. Pois quando uma pessoa aprende de fontes 'alienígenas' é a inteligência humana que penetra seu intelecto. Em contraste, quando a pessoa se ocupa com a sabedoria da Torá de D’us, além de ampliar seu intelecto e entendimento, assimila a vontade e a sabedoria de D’us, e seu intelecto é envolvido por elas. E mais importante de tudo, ele merece atingir "uma unidade maravilhosa" com a eterna verdade, para a qual não existe paralelo.