O Midrash declara que o Eterno, bendito seja, diz: "Não posso habitar junto com uma pessoa grosseira e arrogante!"

Explicando essa idéia, a chassidut Chabad ensina que aquele se enche de orgulho arrogante e egoísmo, mesmo que seja no menor grau, perde o privilégio da Shechiná pairando sobre ele. Esta idéia é magistralmente expressa no aforismo de Nossos Sábios: "Um recipiente vazio pode conter, um recipiente repleto não." Aquele que sente modéstia e submissão a seu Criador, e não tem egoísmo e vaidade, é um recipiente vazio que pode conter a revelação da santidade. Caso contrário – se ele é perverso e egoísta – pode estar saturado de estudo de Torá, mas não absorverá sua santidade. Similarmente, quando pega um lulav e etrog na mão em Sucot, ou quando coloca tefilin, pode desempenhar perfeitamente a parte técnica da mitsvá, mas não merece que a Shechiná habite nele.

Vitalidade da Parte Posterior

No sexto capítulo do Tanya Rabi Shneur Zalman explica que tudo que não se rende a D’us, mas se considera como uma coisa separada em si mesmo, não somente não é um recipiente para atrair e conter a santidade de D’us, mas mais ainda, a vitalidade que recebe não é da mesma fonte que aquelas criaturas que estão incluídas na categoria de santidade.

"E Tu animas todas as coisas", declara o versículo que repetimos em nossas preces matinais diárias. O Eterno, bendito seja, dá vida a todas as criaturas, portanto todo e cada ser, seja do reino inanimado, vegetal, animal ou do reino humano, contém uma centelha de Divindade que continuamente o leva a existir a partir do nada. (Esta doutrina é explicada por completo na segunda seção do Tanya, chamada "O Portal da Unidade e da Fé"). No entanto, embora aquelas criaturas incluídas na categoria de santidade recebam sua vitalidade "da santidade de D’us", do aspecto interior da santidade, de sua própria essência e âmago" – as criaturas incluídas na categoria de "o outro lado", que não têm modéstia e não se submetem a D’us, recebem sua vitalidade somente de sua "parte posterior", por assim dizer.

A efusão de vitalidade vinda da "face" e aspecto interior da santidade é comparável a dar um presente a um querido amigo. O doador oferece seu presente com prazer e com o semblante feliz. Ao contrário, a transferência de vitalidade da "parte posterior" é comparável a ser forçado a fazer uma doação. Embora o recebedor ganhe sua porção, é como se esta tivesse sido atirada a ele por sobre o ombro do doador, que lhe volta as costas.

Em geral, o "outro lado", que é repugnante e abominável a D’us, existe apenas pelo propósito de prover o homem com o livre arbítrio. Não tem propósito em si, e portanto toda sua vitalidade é conferida a ele do aspecto vindo da "parte posterior". Esta força de vida é severamente limitada e restrita: é suficiente apenas para dar-lhe existência.

Vida no Exílio

Além do fato de que o "outro lado" é animado pela parte posterior, Rabi Shneur Zalman explica que a vitalidade que anima aquelas coisas na categoria do "outro lado" desce grau a grau, por miríades de níveis.

Esta descida é chamada na Cabalá como hishtalshelut dos mundos, significando uma descida em cadeia dos mundos numa seqüência de causa e efeito, através de muitos tzimtzumim, ou contrações que diminuem a luz data por D’us e a vitalidade, para tornar-se envolvida nos objetos do domínio do "outro lado". Esta vitalidade torna-se tão diminuída e reduzida que apenas tem poder suficiente para manter estes objetos em existência e funcionando.

Quando uma pessoa está no exílio é incapaz de agir de acordo com sua própria vontade, e incapaz de expressar livremente seus talentos e poderes, pois está na obrigação de cumprir a vontade daquele que o governa. Este é também o caso com a vitalidade Divina aprisionada no "outro lado". Embora as criaturas deste domínio sejam também animadas por uma centelha Divina de força de vida, isso não as impede de anunciar: "Não há julgamento, nem há um Juiz." Além disso, eles usaram erradamente a própria vitalidade pela qual eles subsistem a fim de enfurecer seu Criador. É possível para eles fazê-lo, somente porque esta vitalidade se encontra num estado de exílio e banimento.