"Pois o homem é uma árvore dos campos." (Devarim 20:19)
"O homem é uma árvore dos campos," e o calendário judaico reserva um dia a cada ano - "O Ano Novo das Árvores" a 15 de Shevat - para que nós contemplemos nossa afinidade com nosso irmão botânico e aquilo que ele nos pode ensinar sobre nossa vida.
Os componentes principais da árvore são: as raízes, que ancoram-na ao solo e a abastecem com água e outros nutrientes; o tronco, galhos e folhas que formam seu corpo; e o fruto, que contém as sementes com as quais a árvore se reproduz.
A vida espiritual do homem também inclui raízes, um corpo, e frutos. As raízes representam a fé, nossa fonte de sustento e perseverança. O tronco, ramos e folhas são o "corpo" de nossa vida espiritual - nossas conquistas intelectuais, emocionais e práticas. O fruto é nosso poder de procriação espiritual - o poder de influenciar os outros, de plantar uma semente em um ser humano, nosso próximo, e vê-la brotar, crescer e dar frutos.
Raízes e corpo
As raízes são a parte menos "glamourosa" da árvore, e a mais vital. Enterrada sob o solo, praticamente invisível, não possuem a majestade do corpo da árvore, o colorido de suas folhas nem o sabor de seus frutos. Mas sem as raízes, uma árvore não pode sobreviver.
Além disso, as raízes devem se equiparar ao corpo; se o tronco e folhas de uma árvore crescem e se espalham sem um desenvolvimento proporcional em suas raízes, a árvore desabará sob seu próprio peso. Por outro lado, uma profusão de raízes proporciona uma árvore mais saudável e mais forte, mesmo se tiver um tronco esquálido e poucos ramos, folhas e frutos. E se as raízes são fortes, a árvore se regenerará mesmo quando seu corpo for danificado ou tiver os galhos cortados.
A fé é a menos glamourosa de nossas faculdades espirituais. Caracterizada por uma "simples" convicção e comprometimento com a Fonte da pessoa, carece da sofisticação do intelecto, das cores vívidas das emoções, ou do senso de satisfação que provém da realização. E a fé está enterrada no subsolo, sua verdadeira extensão oculta das outras pessoas, e até de nós mesmos.
Mesmo assim nossa fé, nosso comprometimento supra-racional a D'us, é o alicerce de toda nossa "árvore". Dela brota o tronco de nosso entendimento, do qual brota o ramo de nossos sentimentos, motivações e atos. E embora o corpo da árvore também forneça parte de sua nutrição espiritual, a parte principal de nosso sustento espiritual provém de suas raízes, de nossa fé e comprometimento com nosso Criador.
Uma alma pode desenvolver um tronco majestoso, ramos numerosos que se espalhem para todos os lados, lindas folhas e frutos capitosos. Porém esses devem ser igualados, na verdade suplantados, por suas "raízes." Sobre a superfície, pode haver muita sabedoria, profundidade de sentimentos, experiência abundante, copiosas realizações e muitos discípulos; mas se estes não estiverem seguros e vitalizados por uma fé e engajamento ainda maiores, será uma árvore sem raízes, fadada a desabar sob seu próprio peso.
Por outro lado, uma vida pode ser abençoada com um conhecimento escasso, parcos sentimentos e experiência, poucas realizações e "frutos" escassos. Mas se suas "raízes" são extensas e profundas, será uma árvore saudável: uma árvore que possua realmente aquilo que tem; uma árvore com a capacidade de se recobrar dos golpes da vida; uma árvore com o potencial de crescer e se desenvolver até tornar-se uma árvore mais elevada, mais bela e ainda mais frutífera.
Fruto e semente
A árvore deseja se reproduzir, espalhar suas sementes o mais longe possível, para que enraízem em locais distantes e diversos. Mas o alcance da árvore é limitado à extensão de seus ramos. Deve portanto, buscar outros "mensageiros" com mais mobilidade para transportar suas sementes.
Por isso a árvore produz os frutos, nos quais as sementes estão envoltas em polpas e sucos saborosos, coloridos e fragrantes. As sementes por si mesmas não despertariam o interesse dos animais e do homem; porém com seu envoltório atraente, não há falta de "fregueses" que, após consumirem o fruto externo, depositam a semente naqueles locais distantes e variados onde a árvore deseja plantar suas sementes.
Quando nos comunicamos com outras pessoas, usamos diversos meios para tornar nossa mensagem atraente. Nós a reforçamos com sofisticação intelectual, impregnamos com molho emocional, vestimos com palavras e imagens coloridas. Mas deveríamos ter em mente que isso é apenas o envoltório - o "fruto" que contém a semente. A própria semente não tem sabor - o único modo pelo qual podemos verdadeiramente causar impacto nos outros é transmitindo nossa própria fé simples naquilo que estamos lhes dizendo, nosso simples comprometimento à causa que estamos defendendo.
Se a semente lá estiver, nossa mensagem criará raízes em suas mentes e corações, e nossa própria visão será enxertada na deles. Porém se não houver semente, não haverá descendentes de nossos esforços, não importa quão saborosos sejam nossos frutos.
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