Os tempos mudaram. Todos nós sabemos disso. Mas e as pessoas? Os seres humanos são diferentes hoje em dia do que eram nos tempos antigos? A natureza humana evoluiu ao longo dos milênios, ou somos, basicamente, o mesmo tipo de pessoas que sempre fomos?

Cerca de cinco semanas antes de sua morte, Moshe começa uma série de sermões que podem ser descritos como seu testamento ético. Ele prevê o futuro e tenta poupar seu rebanho das tragédias que podem surgir de seus potenciais erros de julgamento nos anos seguintes.

Ele fala dos tempos bons e dos ruins, e aborda as possíveis respostas do povo às fortunas e desventuras que podem enfrentar.

“E será que, quando o Senhor, seu D’us, o trouxer para a terra que jurou a seus pais, a Avraham, Yitschac e Yaacov, para lhe dar cidades grandes e boas que você não construiu, e casas cheias de todo bem que você não encheu, e cisternas que você não cavou, vinhedos e oliveiras que você não plantou, e você comerá e se saciará. Cuidado para não esquecer o Senhor, que o tirou da terra do Egito, da casa da servidão.” 1

Moshe entendia a natureza humana muito bem. Quarenta anos liderando seu povo lhe ensinaram tudo o que alguém poderia esperar saber sobre a psique humana. Ele percebeu que, em tempos de riqueza e sucesso, seu povo poderia facilmente esquecer o Grande Provedor de suas bênçãos.Portanto, ele os adverte a se lembrarem de Quem foi que lhes deu a liberdade em primeiro lugar: O Todo-Poderoso, que os tirou da servidão egípcia e lhes deu maná do céu, também lhes daria a vitória sobre as nações cananeias e lhes prometeu uma terra própria.

Moshe também entendeu que seria muito provável que fosse necessário uma mudança na sorte para que eles se lembrassem da fonte de suas bênçãos.

“Quando você estiver angustiado e todas essas coisas acontecerem com você no final dos dias, [somente] então você retornará ao Senhor, seu D’us, e obedecerá a Ele.”2

Ele estava errado? Quando clamamos a D'us? Quando estamos angustiados. Quando enfrentamos problemas. Quando os tempos são difíceis. É quando retornamos a Ele e ao Seu modo de vida.

Então, pergunto a você: A natureza humana realmente mudou? É diferente hoje dos dias de Moshe?

Quando as pessoas correm para a sinagoga, para o rabino, para os túmulos dos justos ou para o Muro das Lamentações? Quando enfrentam dificuldades, tempos difíceis. Quando o Sidur de repente inspira nossas expressões mais articuladas e eloquentes de apelo ao Todo-Poderoso? Quando clamamos a Ele com nossa sinceridade mais profunda e genuína, se não for quando pedimos para Ele nos salvar das nossas preocupações e problemas?E sabe de uma coisa? Isso é totalmente apropriado. Para onde mais devemos nos voltar? A quem devemos direcionar nossas orações e nossos gritos de ajuda, senão a Ele?

Mas o que Moshe está nos ensinando é lembrar de D'us como a fonte de nossa boa sorte também, não apenas em nossos momentos de dificuldade. Podemos ser inteligentes, trabalhar de forma produtiva e árdua, mas, ainda assim, sucesso e fracasso não estão necessariamente em nossas próprias mãos.

“Não há pão para o sábio,” 3 disse Shlomo HaMelech, o Rei Salomão, o mais sábio de todos os homens. De fato, conheço muitas pessoas muito inteligentes que nunca “chegaram lá” e algumas pessoas menos dotadas intelectualmente que se destacaram e obtiveram muitos sucessos. Claramente, há uma mão Divina em ação aqui.

A mensagem de Moshe é tão relevante para nós quanto foi para sua própria geração há mais de 3.000 anos. Portanto, de fato, parece que a natureza humana não mudou nem um pouco.

O Rebe lamentou que tinha muitas pessoas com “tsurets”, problemas em suas vidas, àqueles que se voltavam para ele quando os tempos eram difíceis. Ele até observou que, às vezes, a única maneira de perceber que os problemas das pessoas haviam sido resolvidos era quando ele não ouvia mais delas. Certa vez a Rebetsin comentou o quão grata ela estava quando um certo indivíduo de Londres viajou para Nova York apenas para dizer “obrigado” pessoalmente ao Rebe por seus sábios conselhos e bênçãos que o ajudaram imensamente.

Na minha comunidade de Joanesburgo, África do Sul, estávamos envolvidos em uma campanha para construir uma nova escola de ensino médio para meninas. O projeto recebeu um grande impulso quando um doador próspero foi abordado por um de meus colegas de rabinato para contribuir. Durante a conversa, o rabino perguntou ao empresário, “D'us não tem sido muito bom com você?”

A resposta honesta e humilde do homem? Uma contribuição de milhões.

Que todos nós tenhamos hatslachá, boa sorte, e nunca nos esqueçamos de onde ela vem.