Pergunta:

Toda vez que sou convidado para uma refeição de Shabat, percebo que o anfitrião mergulha o pão no sal antes de servi-lo. No começo eu pensei que era apenas para dar sabor, mas depois percebi que isso era feito em várias casas. Qual é o motivo?

Resposta:

Sua suposição inicial estava (parcialmente) certa. O pão pode ser sem graça. Queremos fazer uma bênção sobre um pão mais saboroso, então adicionamos sal antes de compartilhar. Com base nisso, de uma perspectiva puramente haláchica, se você estiver comendo pão feito de farinha fina ou saboroso (e a chalá se qualifica), você não precisa mergulhá-lo no sal. 1

No entanto, o costume é sempre mergulhar o pão no sal – não apenas no Shabat. 2Por quê?

A Sua Mesa é Um Altar

O profeta Yechezkel fala ao descrever sua visão do altar a ser colocado no Terceiro Templo: “O altar era de madeira, com três cúbitos de altura e dois cúbitos de comprimento . . . e ele me falou: 'Esta é a mesa que está diante do Senhor.'” 3 Observe que o versículo começa chamando-a de altar, mas depois se refere a ela como uma mesa.

O Talmud explica: Quando o Templo estava erguido, os sacrifícios trazidos sobre o altar expiavam Israel. Mas agora, quando não há Templo, a mesa de uma pessoa – na qual ele alimenta os pobres – expia por ele. 4

Se a mesa é como o altar, a comida que se come nela é como as oferendas. Com relação às oferendas, o versículo afirma: “Você não deve omitir o sal da aliança de seu D'us de [ser colocado] em suas ofertas. Você deve oferecer sal em todos os seus sacrifícios.” 5 Por isso, adicionamos sal ao nosso alimento básico, pão – mesmo sobre as variedades mais deliciosas. 6

Como é Realizado? Uma Perspectiva Mística

De acordo com a Cabala, o sal, que é amargo, representa a severidade divina, e o pão, o bastão da vida, representa a bondade divina. Tanto a palavra hebraica para pão, lechem (לחם), quanto a palavra para sal, melach (מלח), contêm as mesmas letras. No entanto, desejamos dominar a severidade do sal com a bondade do pão. Portanto, o costume comum não é aspergir o sal (severidade) sobre o pão (bondade), mas sim mergulhar o pão no sal – bondade sobre severidade. 7

Além disso, muitos têm o costume de mergulhar o pão no sal três vezes. Uma razão para isso é que a gematria (valor numérico) de lechem é 78. Mergulhamos o pão três vezes, dividindo a energia de 78 em 3, o que equivale a 26, o valor numérico do nome de D’us (o Tetragrama). Isso nos lembra o versículo 8 “Nem só de pão vive o homem, mas de tudo o que sai da boca do Senhor o homem vive”. 9

A Aliança do Satan com o Sal

É importante ter sal na mesa. Por quê? No início de uma refeição, lavamos as mãos e depois sentamos para esperar que todos os outros façam o mesmo. O Midrash explica que enquanto esperamos em silêncio – não se pode falar entre lavar e abençoar o pão – estamos “desprovidos” de mitsvot. Nesse ponto, o anjo da acusação (também conhecido como Satan) tenta chamar a atenção para essa falha. No entanto, a “aliança do sal” mencionada acima nos protege. 10

Por que é uma “aliança de sal”? O que o sal tem a ver com nosso vínculo com D’us? O sal é um conservante que não estraga nem apodrece. Essas propriedades únicas fazem do sal a metáfora perfeita para a aliança eterna de D'us com o povo judeu. 11

Então, da próxima vez que você lavar as mãos a fim de comer o pão, dê uma olhada no seu saleiro e lembre-se da aliança eterna de D'us com o povo judeu. Mesmo quando você fica momentaneamente desprovido de mitsvot, o sal chama a atenção para o fato de que o pacto de D'us com Israel durará para sempre.