Os judeus rezam virtualmente em todos os lugares e em todos os momentos. No entanto, muitas vezes fazemos um esforço especial para fazê-lo em lugares sagrados, onde a Presença de D'us é sentida ainda mais fortemente. Esses lugares incluem o Cotel, um remanescente do complexo do Templo Sagrado em Jerusalém, e os locais de descanso dos líderes justos de nossa nação e estudiosos da Torá.
Ao fazê-lo, muitos têm o costume de deixar (ou enviar) um bilhete que inclua o nome da pessoa1 e um pedido de bênção.
Existem várias razões para este costume antigo.
História: da Pedra ao Papel
O viajante judeu do século 12, Rabi Benjamin de Tudela (1130–1173), registra o costume de que os judeus gravariam seus nomes nas pedras do Cotel ou do Túmulo de Racuel.2
Com o passar dos anos, talvez devido ao papel cada vez mais disponível e à impraticabilidade de gravar em pedra, 3 as pessoas pararam de gravar seus nomes e começaram a deixar notas.

Assim, por exemplo, o rabino Chaim ibn Atar, conhecido como Ohr Hachaim (1696-1743), instruiu um aluno pobre a colocar uma nota nas fendas do Cotel.4
Agora, antes de abordarmos por que existe o costume de escrever notas especificamente, precisamos falar sobre um outro componente: o de rezar nos túmulos dos justos em geral.
Por Que Rezamos nos Túmulos dos Justos
Este é um antigo costume judaico que remonta aos tempos bíblicos. Quando Moshê despachou 12 espiões para reconhecer a terra, Caleb, um deles, desviou-se da rota indo para Hebron a fim de cumprir um desejo pessoal. O Talmud5 explica que Caleb foi rezar na caverna onde estão enterrados Avraham, Sara, Yitschac, Rivka, Yaacov e Lea.
Por que rezar6 nos locais de descanso daqueles que já faleceram?
Conforme explicado no artigo, é correto pedir a um tsadic falecido que peça por mim? Quando uma pessoa morre, é apenas seu corpo físico que morre – a alma continua viva. Para os justos, cujas vidas eram mais orientadas para a alma do que para o corpo, “mesmo em sua morte, eles são chamados de vivos.7
Assim como é costume dar ou enviar uma nota escrita a um tsadic enquanto ele está fisicamente vivo, continuamos a fazê-lo no túmulo, ao qual a alma mantém uma conexão permanente, significando nossa fé de que o tsadic continua a viver.
Na verdade, essa mesma expressão de fé na eternidade da alma ajuda a trazer a salvação e as bênçãos pelas quais estamos pedindo e rezando.

Forma de se Expressar
Podemos agora retornar à nossa pergunta original: Por que escrevemos bilhetes para os justos?
Em um nível muito básico, quando temos uma audiência privada com um Rebe ou tsadic, escrevemos nossos pedidos antecipadamente pois,devido à intensidade emocional do momento, provavelmente não iríamos conseguir organizar nossos pensamentos e nos expressar adequadamente. E continuamos fazendo isso em seus túmulos, pois os justos “mesmo na morte são chamados vivos”.
Ligando-se ao Físico
Mas há outro aspecto nisso.
O Rebe uma vez explicou que uma das razões para deixar um bilhete no túmulo dos justos é que é algo tangível, e desejamos trazer as bênçãos espirituais para este mundo físico.8
Da mesma forma, Rabino Yehuda Loew, o Maharal de Praga (1520-1609), explica que os decretos e bênçãos divinas geralmente permanecem em um estado potencial nos mundos celestiais até que façamos um ato físico para concretizar esses decretos.9
É também por isso que os profetas às vezes realizavam uma ação física para concretizar sua profecia. Por exemplo, Elisha fez o rei Joash atirar uma flecha em direção à terra de Aram, o inimigo dos judeus na época, e pegar uma flecha e acertar o chão, explicando que o número de golpes determinaria a força da vitória de Israel sobre Aram.10
Escrita Indelével
Em uma forma um pouco diferente, o Rabino Chaim Elazar Schapira, conhecido como Minchat Elazar (1868-1937), explica11 que o costume geral de escrever especificamente os pedidos de preces é sugerido no comentário talmúdico sobre Meguilat Esther.
Quando o Rei Achashverosh não conseguiu adormecer, ele fez com que seu escriba lesse seu livro de crônicas, onde estava escrito que Mordechai havia salvado o rei, mas nunca foi recompensado. As palavras nas Escrituras não indicam que o registro tenha sido escrito no passado, mas que estava sendo escrito naquele exato momento.12
Como isso foi possível? Shimshai, o escriba do rei, que odiava os judeus,13 não quis ler para o rei sobre a boa ação de Mordechai e, portanto, apagou-a do livro, apenas para que o Anjo Gabriel a escrevesse novamente.
O Talmud aponta que se as palavras físicas em favor do povo judeu não podem ser apagadas, os decretos espirituais no céu em nosso favor certamente não podem ser apagados.
Assim, Rabi Schapira explica que escrevemos especificamente os pedidos de preces para que o tsadic leia e reze para que o que está escrito “aqui embaixo” seja escrito nos “mundos superiores” e não seja “apagado”.
É claro que, quando se trata de atrair bênçãos espirituais para o mundo físico, o Rebe frequentemente explica que isso é melhor realizado resolvendo (e em nosso caso, incluindo na nota) assumir uma nova mitsvá ou ser mais cuidadoso em uma que você já está cumprindo.
Ao fazer isso, a pessoa abre novos canais para bênçãos tanto nos aspectos físicos quanto espirituais de sua vida.
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