Yom HaShoá é o dia oficial de Israel da lembrança do Holocausto quando os judeus do mundo inteiro recordam dos seis milhões de judeus vítimas da Shoa, e os incontáveis exemplos de heroísmo e resistência judaica durante aqueles anos.
Comemorando a Shoa
As citações a seguir foram tiradas de uma série de vídeos gravados em 2020, em parceria com a Confiança Educacional do Holocausto, para coincidir com Yom HaShoa e o 75º aniversário da libertação. Você pode assistir toda a série de vídeos aqui: RabiSacks/curriculum-resources/holocaust/
D'us e o Holocausto
A Pergunta: Por que D'us permitiu que o Holocausto ocorresse?
Resposta de Rabi Sacks: A primeira vez que fui para Auschwitz, fiquei simplesmente transtornado. Perguntei: “D'us, onde estavas?” E as palavras vieram à minha mente: “Eu estava nas palavras ‘Não deves matar.’ Eu estava nas palavras ‘Não deves oprimir um estrangeiro’. Eu estava nas palavras que foram ditas a Caim quando ele matou Abel, (o primeiro assassinato na Torá. ‘O sangue de teu irmão está clamando a Mim...’”
Quando D'us fala e os seres humanos se recusam a ouvir, até mesmo D'us fica sem agir naquela situação. Ele sabia que Caim iria matar Abel, mas Ele não o deteve. Ele sabia que o Faraó iria matar crianças israelitas. Ele não o deteve. D'us nos dá liberdade e nunca a tira de volta. Mas Ele nos diz como usar aquela liberdade. E quando os seres humanos se recusam a ouvir, até D'us fica sem poder.
Humanidade e o Holocausto
A Pergunta: Você tem fé na humanidade após o Holocausto?
Resposta de Rabi Sacks:O Holocausto representou talvez a maior falha que a humanidade jamais conheceu. Formava a combinação de brilhantismo técnico e eficiência burocrática, mas dedicada ao mais cruel de todos os objetivos. Esta realidade é a maior falha de humanidade em que posso pensar... Na notável avenida chamada a Avenida dos Gentios Justos, no Museu do Holocausto, Yad Vashem, em Jerusalém 14 mil pessoas são homenageadas ali. Pessoas que qualquer um de nós iria confiar pois colocaram suas próprias vidas em risco para salvar a vida de seus vizinhos e, em alguns casos, de estranhos. Esses foram fachos de luz em meio a uma das piores escuridões que a humanidade jamais conheceu, e portanto, sim, podemos confiar na humanidade se a humanidade se mostra capaz de agir em prol dos outros e aceitar riscos para salvar da morte seu próximo.
Esperança e o Holocausto
A Pergunta: Considerando a devastação do Holocausto, como podemos ter esperança no futuro judaico?
Resposta de Rabi Sacks: Na mais excepcional evocação do Holocausto, o Profeta Yechezkel, 26 séculos atrás, via o povo judeu como um Vale de Ossos Secos, e D'us falou a Yechezkel: “As pessoas dizem que nossa esperança está perdida... Mas não está perdida porque Eu vou tirá-las de seus túmulos e levá-las à Terra de Israel.”
Vejo três sinais de esperança hoje, e eles são notáveis. Hoje temos Israel, temos Judaísmo e temos o povo judeu, todos os três mais fortes do que jamais foram antes. E não preciso de mais pontos para esperança do que este. Nossa esperança jamais é destruída.
Aprendendo Lições com o Holocausto:
A Fé dos Sobreviventes
Segue um extrato do Epílogo do livro de Rabi Sacks, Future Tense:
Foram os sobreviventes do Holocausto que me ensinaram. Tenho lido centenas de livros sobre a Shoa. Fiz um programa de televisão de Auschwitz. Até hoje não posso começar a imaginar o que eles passaram. Como eles sobreviveram ao pesadelo, e como viveram com as lembranças.
Os sobreviventes que conheci nos últimos vinte anos foram impressionantes em sua tenacidade mantida na vida. Talvez seja como eles sobreviveram. Alguns acreditavam em D'us, outros não, mas todos acreditavam na vida – não a vida como a maioria de nós entende, algo aceito como garantido, parte do fundo de cena, um fato que raramente chama a nossa atenção, mas a vida como algo pelo qual lutar, como um valor conscientemente articulado, como algo de cuja fragilidade você está sempre consciente.
Eles tinham, na frase de Paul Tillich, ‘a coragem de ser.’ Lentamente comecei a pensar sobre outra frase, não uma que existe na literatura tradicional, mas uma que foi articulada em circunstâncias ruins e constituíram uma espécie de ponto de retorno na história judaica moderna: Kidush haChayim, a santificação da vida.
Eu tinha esperado que aquele trauma iria deixar os sobreviventes recolhidos, tornando-os suspeitos, até hostis, ao mundo em geral. Não foi assim, pelo menos não naqueles que eu conhecia, na época em que os conheci.
Muitos deles tinham aceitado, cinquenta ou mais anos após o Holocausto, visitarem as escolas e falarem com as crianças, especialmente crianças não judias. O que me impressionava quando os ouvia contando suas histórias e aquilo que eles queriam dizer: valorizar a liberdade. Entender que é um presente poder caminhar a céu aberto, ver uma flor, abrir uma janela, respirar ar livre. Amar aos outros. Jamais odiar. Praticar tolerância. Defender os outros se eles estiverem sendo perseguidos, maltratados, deixados de lado. Viva cada dia como se fosse o seu último dia.
Eles ensinaram as crianças a terem fé na vida. As crianças amavam esses estrangeiros idosos de outro mundo. Eu li algumas das suas cartas a elas; fizeram-me chorar. Sua coragem me manteve seguindo em frente através dos tempos. Eu me considero abençoado por tê-los conhecido.
Aconteceu Uma Vez...
Em 11 de agosto de 2017, o homem mais idoso do mundo faleceu, apenas um mês antes de seu 114º aniversário – tornando-o um dos dez homens que mais viveram desde o registro moderno. Se você não sabia nada mais do que isso sobre ele, você estaria justificado em pensar que ele tinha levado uma vida pacata, teria sido poupado de medo, tristeza e perigo.
A verdade real é o oposto. O homem em questão foi Yisrael Kristal, um sobrevivente do Holocausto. Nascido na Polônia em 1903, ele sobreviveu quatro anos no gueto de Lodz, e foi então transportado para Auschwitz. No gueto, seus dois filhos morreram. Em Auschwitz, sua esposa Chaje foi morta. Quando Auschwitz foi libertado, ele era um esqueleto ambulante pesando apenas 37 quilos. Foi o único membro da família a sobreviver.
Ele foi criado como judeu religioso e assim permaneceu durante toda a vida. Quando a guerra terminou e seu mundo inteiro foi destruído, ele casou-se novamente, dessa vez com outra sobrevivente do Holocausto, Batsheva. Eles tiveram filhos. Fizeram aliyah para Haifa. Então começaram novamente confeccionar doces e chocolates, conforme haviam trabalhado na Polônia antes da guerra. Tornou-se um inovador. Se você já adquiriu uma laranja israelense coberta com chocolate, ou licor de chocolates moldados como pequenas garrafas e coberto com capa de prata, você está apreciando um dos produtos que ele criou.
Aqueles que o conheceram diziam que ele era um homem sem amargura em sua alma. Ele queria que as pessoas provassem doçura.
Em 2016, na idade de 113 anos, ele finalmente celebrou seu bar mitsvá. Cem anos antes, isso era impossível. Na época, sua mãe estava morta e seu pai estava lutando na Primeira Guerra Mundial. Em seu bar mitsvá ele disse brincando que ele era o mais velho usuário de tefilin do mundo. Reuniu seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos sob seu talit e disse: “Aqui está uma pessoa, e olhem quantas pessoas ela trouxe à vida. Como vocês estão todos aqui sob meu talit, estou pensando: seis milhões de pessoas, Imagine o mundo que elas poderiam ter construído.”
Rabino Jonathan Sacks compôs essa prece (em 2013) antes do Yizkor ser recitado em memória das vitimas do Holocausto
Hoje, em Yom HaShoa, lembramos das vítimas do maior crime do homem contra o homem – os jovens, os idosos, os inocentes, o milhão e meio de crianças, famintas, baleadas, recebendo injeções letais, gaseificadas, queimadas e transformadas em cinza, porque eram consideradas culpadas do crime de serem diferentes. Lembramos do que aconteceu quando o ódio toma conta do coração humano e o transforma em pedra, o que acontece quando as vítimas clamam por ajuda e não há ninguém escutando.
O que acontece quando a humanidade deixa de reconhecer que aqueles que não estão em nossa imagem mesmo assim estão na imagem de D'us. Lembramos e pagamos tributo aos sobreviventes, que foram testemunhas do que aconteceu, e das vítimas, pois eles roubaram suas vidas, e eles não seriam também roubados de suas vidas.
Lembramos e agradecemos aos justos das nações que salvaram vidas, com frequência em próprio risco, nos ensinando na noite mais escura que podemos acender uma vela de esperança.
Hoje, em Yom HaShoa, clamamos a Ti, D'us Todo Poderoso, para nos ajudar a ouvir Tua voz que soa em toda geração:
“Não mate”. “Não fique parado perante o sangue do seu vizinho.” “Não oprima o estrangeiro.”
Sabemos que embora não tenhamos a habilidade de mudar o passado, podemos mudar o futuro. Sabemos que enquanto não podemos trazer os mortos de volta à vida, podemos assegurar suas lembranças vivas e que suas mortes não foram em vão.
E assim, nesse Yom HaShoa, nos comprometemos a um simples ato.
Yizkor, Lembre.
Que as almas das vítimas sejam unidas no vínculo da vida eterna.
Amén.
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