Yom HaShoá é o dia oficial de memória do Holocausto em Israel, quando os judeus de todo o mundo se lembram das seis milhões de vítimas judias da Shoá e dos incontáveis exemplos de heroísmo e resistência judaica durante esses anos.

O Holocausto tornou-se mais do que uma tragédia judaica. Tornou-se, para o Ocidente, um símbolo definidor da desumanidade do homem para com o homem. Alguns judeus se opõem a isso, mas estão errados.

Há uma diferença entre a lembrança judaica e geral do Holocausto. Para nós, é um luto observado. Recordamos os dois terços dos judeus da Europa, entre eles um milhão e meio de crianças, que foram fuzilados, levados às câmaras de gás, queimados e transformados em cinzas ou, em alguns casos, enterrados vivos: a maior tragédia de uma história manchada de lágrimas.

Lembramos comunidades inteiras de judeus da Suécia no norte à Grécia no sul, da França no oeste à Rússia no leste – pessoas que não eram uma ameaça concebível para ninguém – que desapareceram no buraco negro no coração da Europa.

Entre eles estavam famílias que viviam em certas terras há quase mil anos e ainda assim se consideravam estranhos sem o mais básico dos direitos humanos, o direito à vida.

O Holocausto foi mais do que uma tragédia judaica. Foi uma tragédia humana. Auschwitz fez mais do que tirar a vida de suas vítimas. Algo da imagem de D’us que é a humanidade morreu ali também. É por isso que todos devem se lembrar onde terminam os trilhos do ódio.

Há um erro que nunca devemos cometer, a saber, pensar que as vítimas da perseguição são a sua causa. Houve um tempo em que os judeus acreditavam que poderiam curar o antissemitismo. Eles não eram odiados porque eram diferentes? Bem, então, eles fariam todos os esforços para se tornarem os mesmos. Um por um, eles abandonaram as características distintivas da vida judaica. Integraram-se, aculturarase e se assimilaram. Mas o antissemitismo não acabou. Ele cresceu.

Aqueles que odeiam não precisam de motivos para odiar. Os judeus foram atacados porque eram ricos e porque eram pobres. Eles foram condenados como capitalistas e comunistas. Voltaire os acusou de primitivos e supersticiosos; outros os chamavam de cosmopolitas sem raízes. O anti-semitismo era multiforme e desafiador da lógica. Ele existe em países onde não há judeus. É por isso que a lembrança do Holocausto não deve ser confinada apenas aos judeus. A vítima não pode curar o crime. Isso exige o estado de direito, o respeito pela justiça e um esforço constante de educação.

O imperativo da lembrança nunca termina. Bósnia, Kosovo, Ruanda, Chechênia, Irlanda do Norte e Oriente Médio – todos esses e muitos outros são nossos lembretes de que os conflitos étnicos e religiosos ainda marcam nosso mundo.

O Dia da Lembrança do Holocausto não implica que a Shoá foi a única tragédia da história moderna. Ao contrário, lembra-nos que, sem controle, o ódio pode assumir muitas formas e reivindicar muitos tipos de vítimas.

Nossa melhor defesa não é o princípio abstrato, mas a memória específica, o conhecimento do que aconteceu uma vez e nunca deverá acontecer novamente.