A semana antes de Rosh Hashaná é uma época agitada para qualquer rabino, e Rabi Schapiro do Chabad de North Shore não é exceção. Sua congregação, num subúrbio de Sidney, Austrália, é movimentada e o mantém ocupado o tempo todo, mas naquele ano particular, a semana antes das Grandes Festas o deixou especialmente atarefado. Em meio às suas preparações, ele recebeu um telefonema.

“Rabi Schapiro, não somos afiliados com nenhuma sinagoga, mas precisamos de um rabino. Talvez possa nos ajudar.”

Rabi Schapiro detectou um senso de urgência na voz da mulher.

“Quem está falando? O que posso fazer para ajudá-la?”

A mulher apresentou-se e explicou: “É meu sogro, James. Ele está no hospital, e os médicos dizem que ele tem somente pouco tempo; pediram permissão para invocar uma ordem DNR. Queremos que ele tenha um funeral judaico. Não tenho ideia de quem contatar.”

“Em qual hospital ele está?” perguntou o rabino, reorganizando mentalmente sua agenda lotada. “Ele pode receber visitas?”

A mulher deu o nome do hospital, mas acrescentou: “Ele não está realmente respondendo a ninguém. Sua condição é resultado de uma depressão severa. Ele se recusou a comer nas últimas quatro semanas. Os médicos dizem que seus órgãos estão começando a falhar…”

Quando Rabi Schapiro chegou ao hospital, não estava certo do que iria encontrar no quarto de James. Não conhecia o homem; sua família tinha uma conexão mínima com o Beit Chabad. Rabi Schapiro encontrou o quarto. Aproximou-se do homem semi-consciente na cama. “James? É o Rabino Schapiro. Como está? Gostaria de colocar tefilin?”

James murmurou seu consentimento.

Rabi Schapiro gentilmente enrolou o tefilin e ajudou James a pronunciar as bênçãos e o Shemá. Quando ele retirou o tefilin, James caiu sobre o travesseiro, exausto; mas a aura da morte parecia ter se dissipado, ligeiramente.

“Agora diga-me, que história é essa de não comer? James, ouça-me: você está nesse mundo para um propósito. Você está aqui para atrair Divindade ao mundo cumprindo mitsvot, e para fazer isso, você precisa estar saudável. Portanto, deve comer. D'us diz que você deve comer! Não pode simplesmente escolher partir. D'us colocou você aqui para viver! James, posso lhe dar algo para comer?”

O Anjo da Morte retrocedeu para um canto do quarto, atordoado, pois James concordou em comer.

“A forte personalidade do rabino lembrou-me do meu falecido pai,” James lembrou mais tarde.

Rabi Schapiro olhou em volta e encontrou uma tigela com flocos de milho e leite de soja. Chamou uma enfermeira.

“Poderia dar a esse homem algo para comer?”

“Comer?” ela perguntou duvidosa. “O paciente não tem comido desde que foi internado!”

“Não faça perguntas, apenas dê-lhe algo, qualquer coisa. Ele me disse que vai comer.”

“E eu lhe digo que ele tem delirado durante as últimas quatro semanas. Estarei de volta em meia hora, e vou tentar então.”

“Não! Você deve pelo menos tentar agora!” insistiu o Rabino.

A enfermeira viu que não tinha escolha a não ser sentar-se e tentar colocar uma colher cheia de flocos de milho na boca do paciente. Ela ficou surpresa quando ele realmente engoliu algumas colheradas. Depois que ele não quis mais comer, ela saiu. Rabi Schapiro pegou a tigela, e começou a alimentar James pouco a pouco, o tempo todo falando palavras de fé e de encorajamento.

No momento em que a “caixinha” foi esvaziada, o Anjo da Morte tinha deixadoo quarto; aparentemente seus serviços não eram mais desejados ali. Rabi Schapiro também saiu, prometendo retornar logo.

E assim ele fez. A cada dia ele ia para alimentar James, e nutria também seu espírito. Quando se aproximou a época de Simchat Torá, a Festa de Júbilo com a Torá, James estava suficientemente bem para ir à sinagoga. “Diga-me, James,” perguntou Rabi Schapiro, “o que você gosta de fazer? Você deve ter algo que pode oferecer ao mundo.”

“O que eu aprecio? Bem, gosto de pintar… costumava pintar dez anos atrás.”

“Então você deveria pintar. Essa é sua missão agora. D'us deu a você um presente chamado vida. Você deve permanecer saudável; deveria voltar a pintar, e dar alegria aos outros.”

James levou a sério as palavras do rabino, e começou a pintar. Ele pintava e pintava dezenas de obras vibrantes, todas de conteúdo judaico, pinturas cheias de alegria e cor, profundidade e calor, muitas delas expostas no Beit Chabad. James decidiu designar parte dos lucros das vendas de suas obras para tsedacá, e dessa forma cada quadro pode beneficiar o mundo de D'us em mais de uma maneira.

A vida é um presente de D'us para cada um de nós. O que fazemos com ela é o nosso presente para Ele.

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