Ainda muito jovem, fui apresentado à música, uma herança da minha família.

Meu tio, Albert Piamenta, era um saxofonista israelense que ficou famoso por misturar música árabe-judaica com o jazz. Minha mãe também amava a música, a tal ponto que o primeiro móvel que ela comprou para nossa casa em Tel Aviv foi um piano. E meu irmão mais velho, Yossi, tocava guitarra e, no decorrer da sua carreira, criou um estilo totalmente novo – uma mistura de rock e composições israelenses, que tiveram uma grande influência na música judaica.

Cresci tocando piano, mas após algum tempo, descobri o som mágico da flauta e aquele se tornou meu instrumento preferido. Aos dezessete anos, comecei a tocar com Yossi, que era então um soldado e tocava na banda da IDF, Forças de Defesa Israelenses. Lembro-me claramente de juntar-me a ele para um concerto exatamente quando irrompeu a Guerra de Yom Kipur em 1973. Tocamos para os soldados nas linhas da fronteira com bombas voando por cima de nossas cabeças.

Um ano após a guerra formamos a banda –Piamenta – que se tornou muito popular. A tal ponto que quando o famoso saxofonista, Stan Getz – um dos maiores estilistas de jazz que já existiram – chegou a Israel em 1976 e ouviu a música, nos convidou para um tour e para gravar com ele. Foi a primeira vez na história que um músico de tamanho nível colaborou com músicos israelenses, e isso causou uma sensação na mídia.

À medida que nossa fama crescia, fomos enviados pelo governo israelense para tocar nos Estados Unidos e Canadá nas celebrações de 30 anos de aniversário do Estado de Israel. Mas, a essa altura, eu tinha me tornado observante de Torá e pouco depois, fui exposto aos ensinamentos do Rebe Anterior, o fundador no Século 18 do Movimento Chabad, e decidi permanecer em Nova York para aprender Torá e ensinamentos chassídicos. Formei também uma yeshivá informal de outros músicos que chamei de Mitsvá Goreret Mitsvá (“Uma Boa Ação Produz uma Boa Ação”).

Enquanto isso, meu irmão Yossi também tornou-se mais religioso, e por fim a família inteira mudou-se para a vizinhança de Chabad em Crown Heights. Isso afetou bastante nossa música, pois aprendemos mais canções chassídicas e começamos a incluí-las em nosso repertório, desenvolvendo um estilo único.

Com o passar do tempo – creio que foi em 1980 – decidimos escrever ao Rebe para explicar o que estávamos fazendo, e a sensação que tínhamos de que podíamos influenciar positivamente outros judeus. Nessa carta de oito páginas escritas à mão por Yossi – na qual ele incluiu um álbum de fotos com a história da nossa banda – ele perguntou ao Rebe se merecia fazer aquilo que desejava fazer, o que estava trazendo judeus afastados retornarem de volta ao Judaísmo através da música.

E em resposta, o Rebe pegou a carta e riscou fora a palavra “se” e o que permaneceu daquela frase foi sua resposta a Yossi – “Mereço fazer aquilo que quero fazer…” Ele também escreveu uma longa resposta às outras perguntas com sua própria mão, que mais tarde eu soube ser algo raro para ele fazer.

Antes de mais nada, o Rebe escreveu que nosso plano de usar música como um meio para disseminar Judaísmo era uma ótima ideia. Ele citou o versículo do Livro dos Provérbios “Conhece a Ele [D'us] de todas as tuas maneiras,” o que indica que as pessoas deveriam usar todos os seus talentos para propósitos sagrados.

O Rebe então continuou analisando o estado presente do campo da música. Destacou que uma banda com tanto sucesso como a nossa – “1) capaz de conquistar corações, 2) capaz de prover um amplo meio de vida às pessoas envolvidas, 3) já faz sucesso no mercado” – pode seguir grandes caminhos contra a má inclinação no mundo.

Mas o Rebe precaveu: “Como você pode assegurar que aqueles a quem seu programa irá trazer ao mundo da música não irá também juntar-se à grande maioria… que não tem restrições [morais] nenhumas? Na verdade, sua regra é: ‘tudo é permissível para você; é ideal que você tente tudo por si mesmo… e somente mais tarde decida por si mesmo como se relacionar com todas as coisas sem noções pré-concebidas de maneira alguma.’”

Isto é exatamente onde poderíamos desempenhar um papel mais importante, disse o Rebe. Ele foi em frente explicando que, por um lado, “vidas estão literalmente em jogo” e o tipo de música que as pessoas estavam ouvindo significava que havia uma grande necessidade para a nossa banda. Mas, por outro lado, o estado da música no mundo significava que iríamos enfrentar grandes desafios.

Ele nos advertiu que teríamos de lutar contra o status quo e nos distinguir dos outro, “deixar de lado os erros dos educadores e líderes observantes, cujas preocupações estão baseadas na atmosfera prevalecente no mundo da música.”

E também nos deu conselhos específicos, recomendando que deixássemos claro por meio de anúncios que tínhamos embarcado noutro rumo. )O álbum de fotos mostrou a ele como era nossa banda durante todos os anos, incluindo antes de sermos religiosos). Precisávamos nos remodelar, por assim dizer, e isso deveria ser feito, ele escreveu, “Para deixar de lado as preocupações… que na essência, a banda, que está à vista por muitos anos, não mudou.”

Ele concluiu nos encorajando a lançar mais álbuns de canções com mensagens positivas e a continuar a colaborar com organizações religiosas para fazer tours e concertos. Ao mesmo tempo, ele nos dissuadiu de abrir um estúdio de gravações e uma estação de rádio – que era algo com que sonhávamos – pois “nossos Sábios nos ensinam que ‘se você agarrar demais, não vai segurar nada.’”

Obviamente, aceitamos e cumprimos todos os seus conselhos.

Eu, pessoalmente, fui bastante afetado, e sempre que viajei através do mundo, tenho procurado levar as mensagens da Torá a todos aqueles que vão escutar minha música. Sempre que estou tocando num Beit Chabad ou num festival de música onde as pessoas jamais viram um judeus usando tsitsit e uma kipá antes, eu sei que tenho uma missão a cumprir. Lembro que “as vidas estão literalmente em jogo” mas com algumas palavras da Torá, algumas palavras de luz e esperança em face à escuridão e ao desespero, posso ter um impacto duradouro.