Sobre o nascimento do Rebe, Rabi Yossef Yitschac, temos a seguinte narrativa feita pela sua mãe, Rebetsin Shterna Sara:

Estávamos casados há alguns anos e ainda não tínhamos filhos. Eu era muito jovem e estava distante de casa, o que tornava aquilo ainda mais difícil.

Certa vez em Simchat Torá, quando o kidush estava sendo feito na casa do meu sogro, o Rebe Maharash, uma bênção foi recitada para todas as mulheres, jovens ou idosas, da família. Por algum motivo, passaram por mim e não fui abençoada. Naturalmente, isso me magoou, embora mais tarde a omissão fosse reparada e eu também recebesse a minha bênção. Apesar disso, o sofrimento permaneceu dentro de mim.

Voltei ao meu quarto e fiquei remoendo o fato de ainda não ter filhos, como estava solitária, o incidente da bênção me fez explodir em lágrimas. Enquanto eu estava chorando adormeci e tive um sonho. Vi um homem de semblante nobre entrar no meu quarto.

Voltou-se para mim e perguntou: “Minha filha, por que está chorando?” E abri meu coração a ele, que respondeu: “Não chore, minha filha! Granto-lhe que dentro de um ano você terá um filho. Cumpra esta condição. Depois da festa, dê dezoito rublos em tsedacá, e que seja do seu próprio dinheiro.” Assim dizendo, ele desapareceu.

Minutos depois ele voltou na companhia de dois outros homens. Informou a eles do trato que tinha feito comigo e eles aquiesceram em aprovação. Os três deram-me sua bênção e saíram do quarto.

Passaram-se horas antes da volta de meu marido, o Rebe, Rabi Shalom Dovber, que apareceu particularmente feliz. Ele estava tão animado que deu uma cambalhota na soleira da casa. Contei-lhe sobre o meu sonho, e sem perder um instante, ele correu ao seu pai para contar sobre ele.

Meu sogro chamou-me e pediu-me que lhe relatasse meu sonho com todos os detalhes. Quando terminei a narrativa, meu sogro, o Rebe Maharash, disse: “O primeiro a visitá-la foi meu pai, o Tsemach tsedec. Os outros dois eram o Segundo Rebe e o Primeiro Rebe.”

Ao término da festa, chegou o momento de eu cumprir a condição, mas como conseguiria a soma de dezoito rublos com os meus próprios fundos?

Eu tinha um vestido que, naquele tempo estava muito na moda, mas que meu sogro não queria que eu usasse. Entrei em contato com uma conhecida que se envolvia em atividades filantrópicas e pedi-lhe que vendesse o vestido para mim. Com o dinheiro que consegui com a venda, doei dezoito rublos para tsedacá. Naquele mesmo ano meu filho, o Rebe, Rabi Yossef Yitschac, nasceu.

O Rebe, Rabi Yossef Yitschac, é encarcerado na Prisão Spalerno

A data: Terça-feira, 14 de Sivan, a noite anterior à quarta-feira 15 de Sivan, 5687/1927 A hora: Meia-noite.

“Este dia, o 12° do mês de Tamuz, é a data que comemora a libertação de todos aqueles que estão engajados na divulgação da Torá…”

Somente agora o Rebe, Rabi Yossef Yitschac, tinha concluído a sua última audiência particular em sua residência na Rua Machovaya, 22, em Leningrado. O último visitante tinha entrado às onze da noite. O Rebe, cansado e exaurido pelas atividades do dia, rezou Arvit. Em seguida, lavou as mãos para a refeição noturna que fazia com os membros da sua família. Pouco depois da meia-noite, a campainha soou. A porta foi aberta e dois homens entraram ruidosamente na sala de jantar.

"Somos agentes da GPU (Serviço Secreto de Segurança). Quem é Schneersohn e onde está?"

Os dois agentes da GPU eram Nachmanson e Lulav, descendentes de famílias chassídicas que tinham mergulhado no abismo do inferno. Enquanto falavam, um destacamento de homens armados irrompeu na sala.

Sem se deixar intimidar, o Rebe dirigiu-se a eles com calma analítica: "Não sei qual Schneersohn vocês estão procurando, mas se entram na casa de alguém, presume-se que saibam sua identidade, e todo este barulho e confusão são desnecessários. Por que tanta algazarra e alarido? Quanto à GPU, nunca a temi, não a temo, e jamais temerei..."

Estas palavras, pronunciadas com tanta atitude e indiferença, penetraram naqueles corações empedernidos, e naquele primeiro momento os abalou. Contemplaram o Rebe, atônitos. Na sala, reinava um profundo silêncio.

Durante uma hora e meia eles revistaram todos os aposentos da casa do Rebe. Porém logo ficou claro que aquilo não passava de um pretexto. Seu único objetivo era colocar o Rebe na prisão, executando assim um "julgamento" que desde o início estava assinado e selado.

Antes do Rebe subir no veículo que o conduziria à infame Prisão Spalerno, ele disse aos homens: "Peço licença para colocar tefilin e rezar e, se os regulamentos permitirem, peço que a comida me seja entregue apenas por membros da minha família."

"Você pode," respondeu Nachmanson, "levar consigo seu tefilin, livros, lápis e papel. Dou-lhe minha palavra de que ninguém o impedirá de rezar, ler ou escrever. Antes do final do dia será trazido de volta para a sua casa. O propósito de mantê-lo na prisão é apenas para fazer algumas perguntas, depois das quais estará livre para voltar."

O nome da prisão, "Shpalerke" (Spalerno) já era o suficiente para infundir medo no coração daqueles que o ouviam. Quando um prisioneiro era encerrado ali, restavam-lhe apenas duas possibilidades: ou já estava condenado, ou tinha de passar por um período de interrogação antes de o ser. E para esta "Shpalerke" foi levado o Rebe, Rabi Yossef Yitschac, às 2h20 da madrugada.

Começa a Libertação do Rebe, Rabi Yossef Yitschac

O Rebe, Rabi Yossef Yitschac, foi aprisionado em 15 de Sivan. Seu interrogatório, feito por uma equipe de investigadores liderada por Nachmanson e Lulav, netos de chassidim, se prolongou durante toda a noite. Quando a sessão terminou, Lulav disse ao Rebe: "Dentro de 24 horas você será fuzilado!"

O anúncio de sua sentença de morte foi um choque para o Rebe, mas ele recobrou-se e disse claramente: "Hashem ajudará!" O anúncio de sua sentença de morte foi um choque para o Rebe, mas ele recobrou-se e disse claramente: "Hashem ajudará!"

Os agentes da GPU de Leningrado e aqueles da Ievsektsia não puderam executar a sentença. Foram impedidos pelas autoridades centrais, devido a pressões que chegaram de todas as partes do mundo. No centro dos esforços internacionais para salvar o Rebe estava o Rabino Mordechai Dubin, membro do Parlamento Latviano, e o Dr. Oscar Kahn, membro do Bundestag Alemão. Eles juntaram seus esforços em prol da libertação. Madame Peshcova, presidente da Cruz Vermelha Russa, também fez o possível para salvar a vida do Rebe. Estes esforços concentrados da parte de tantas pessoas foram coroados de sucesso, pois a sentença de morte foi comutada por exílio interno: dez anos nas Ilhas Solovaki. Porém a essa altura Madame Peshcova interveio novamente, na esperança de anular também este severo decreto. E assim foi: o Rebe finalmente foi sentenciado a três anos de exílio interno na cidade de Costrama.

Em Costrama

No domingo 3 de Tamuz, após 19 dias passados na fortaleza Spalerno, o Rebe foi exilado para Costrama, uma cidade com poucos judeus entre seus habitantes. Antes de partir para seu local de exílio, o Rebe recebeu permissão de visitar sua casa durante seis horas. Às oito da noite, ele deveria apresentar-se na estação ferroviária, onde embarcaria num trem com destino a Costrama.

Durante o percurso o Rebe foi acompanhado por sua filha Rebetsin Chaya Moussia e seu futuro genro, Rabi Menachem Mendel Schneerson, e o Rabino Eliyahu Chayim Althaus. Na estação de trem havia uma imensa multidão de chassidim que tinham ido se despedir, e esperavam a sua chegada. Antes de entrar no vagão, o Rebe contemplou a multidão, dizendo-lhe palavras ardentes, repletas de orgulho judaico. Enfatizou especialmente a necessidade de servir a D'us mesmo ao custo da própria vida. Ele disse:

“Que todas as nações que povoam a terra tomem nota: é somente o nosso corpo que vai para o exílio, que se curva ao jugo dos reis. Nossas almas pertencem a nós - não se curvam nem são exiladas. Devemos dizer isso em voz alta para todo o mundo ouvir. Em tudo aquilo que diz respeito à nossa fé, à Torá de Israel, seus mandamentos e suas práticas, não existe homem que possa nos forçar a obedecer, não existe poder de coerção que possa nos escravizar. Devemos declarar com toda a força da nossa tenacidade judaica e com nossa determinação de morrer, se preciso for, como temos feito durante todos esses milhares de anos: 'Não toque nos Meus ungidos, não maltrate os Meus profetas...'

“E este é o nosso pedido ao Todo Poderoso - não nos abandone, não nos esqueça, mas nos dê a força para não recuarmos das provações da came - ao contrário, para nos submetermos com júbilo! Toda punição que eles infligem sobre nós por mantermos um cheder onde a Torá pode ser estudada, onde as mitsvot possam ser cumpridas, conseguirá apenas estimular-nos a redobrar nossas atividades para o fortalecimento do Judaísmo."

Com estas palavras ecoando em seus ouvidos, a multidão viu o Rebe entrar no vagão e o trem, resfolegando, deixar a estação a caminho da cidade de Costrama. Após uma viagem de 24 horas o Rebe chegou, sendo saudado na plataforma por Reb Michael Dvorkin, que o tinha precedido por alguns dias para aprontar um local para ele - em cumprimento do versículo: "... e ele enviou Yehuda à sua frente para Goshen" (Bereshit 46:28).

12 de Tamuz 5687 (1927)

"Chag Hagueulá" - Neste dia o Rebe, Rabi Yossef Yitschac, soube que seu exílio em Costrama chegara ao fim

Foi em 3 de Tamuz que o Rebe, Rabi Yossef Yitschac, foi exilado por um período de três anos na cidade de Costrama. O comitê formado para resgatar o Rebe decidiu pressionar em sua ânsia para assegurar uma libertação incondicional. Voltou-se novamente para Madame Peshcova, a presidente da Cruz Vermelha Russa. Ela, de sua parte, intercedeu com as autoridades soviéticas do mais alto escalão, em busca do seu objetivo. Contra ela estava Messing, o chefe da GPU em Leningrado, que colocou todos os obstáculos possíveis para impedir a libertação do Rebe. Ele também ameaçou que no caso de o Rebe ser libertado e voltar a Leningrado, deveria ser imediatamente preso outra vez.

Quando o Rebe chegou a Costrama, recebeu ordem de se apresentar todas as terças-feiras nos escritórios da GPU. Portanto, foi na terça-feira, 12 de Tamuz, que ele, acompanhado pelo chassid Reb Eliyahu Chayim Althaus, chegou para seu controle semanal, e foi saudado calorosamente pelo funcionário da GPU, que lhe disse:

"Você não precisa mais apresentar-se aqui. Recebemos instruções para libertá-lo, e estou contente por ser o primeiro a lhe dar esta notícia."

De fato, o dia 12 de Tamuz era um feriado público em Costrama, e o documento de soltura não poderia ser entregue ao Rebe senão no dia seguinte, 13 de Tamuz. Numa carta que ele escreveu sobre o tema de 12 de Tamuz, o Rebe explicou:

"Não foi apenas a mim que o Eterno, bendito seja, libertou em 12 de Tamuz, mas todos aqueles que amam nossa sagrada Torá, cumprem mitsvot e todos que levam o título de judeu.

“Este dia, o 12° do mês de Tamuz, é a data que comemora a libertação de todos aqueles que estão engajados na divulgação da Torá, pois neste dia foi estabelecido aos olhos de todos que a grande obra que realizei, ao disseminar Torá e resguardar a fé, é legal segundo as leis do país".