Venho de uma família de judeus de Mashhad, Irã, embora tenha crescido em Stamford Hill, Londres, bem perto do centro do Judaísmo Ortodoxo na Inglaterra. Nossa família era tradicional. Observávamos cashrut e acendíamos velas para o Shabat; meu pai usava chapéu e kipá. Porém nada sabíamos dos ensinamentos da Chassidut.

Quando completei 18 anos, casei-me com Benjamin Karmely e nos mudamos para Milão, onde logo tive três filhos e me acomodei numa vida normal, culturalmente moderna, porém tradicional judaica. Durante treze anos tive tudo que uma mulher poderia desejar, sob uma perspectiva: tinha um marido amoroso que nos sustentava confortavelmente; três filhos sadios que eram a luz da minha vida; uma casa agradável, bons amigos, saúde… tudo.

Porém o tempo todo havia algo faltando – eu não saberia dizer o que era, mas sabia que estava ali. Havia dentro de mim um vazio, algo que eu tentava preencher com pensamentos de "assim que…" Sabe, assim que eu terminar a escola, tudo ficará perfeito. E então assim que eu me casar, me sentirei completa. E assim que tivermos filhos, tudo será realmente perfeito. Porém ali estava eu, com tudo – e apesar disso, algo estava faltando.

Há uma coisa que podemos saber: tudo que nos acontece é para o bem. D'us usa Seus próprios meios e estratégias – incluindo aflição, cura ou não – para nosso próprio bem.

Na época, como agora, Benjamin viajava bastante a negócios. Porém um dia ele chegou em casa após uma viagem à Tailândia, e quando fui buscá-lo no aeroporto pude ver, mesmo a distância, que algo estava errado. Ele estava mancando, e parecia doente – pálido, esgotado e obviamente com dor. Ele insistiu que estava bem, mas não conseguiu me enganar.

Algo estava muito errado.

Na manhã seguinte não havia mais dúvidas – ele sentia uma dor muito forte, e seu corpo inteiro tinha espasmos. Não conseguia andar ou mover as pernas, e até a fala foi afetada. Fomos ao médico e Benjamin foi hospitalizado de imediato, embora ninguém soubesse o que havia de errado. Nos dias que se seguiram ele passou por um exame após o outro, mas nada foi conclusivo. Enquanto isso, ele piorava cada vez mais. Às vezes ele ficava parcialmente paralisado, mas o tempo todo sentia fortes dores. Não conseguia sequer sair da cama por si mesmo. Eu ia ao hospital várias vezes ao dia para levar-lhe comida casher e levarlhe todo meu apoio e amor, mas enquanto eu assistia, ele continuava a piorar cada vez mais.

Os dias se transformaram em semanas, e quando nem mesmo o doloroso exame da medula óssea não deu indicações sobre o problema, eu comecei a me desesperar, rapidamente.

O pior dia foi cerca de um mês após sua hospitalização. Cheguei ao hospital um pouco mais cedo que o usual e encontrei meu marido, que geralmente era estóico, em lágrimas. Vê-lo tão abalado removeu a última das minhas defesas. Fiquei apavorada. Falei com os médicos, exigindo que me dissessem o que havia de errado, convencida de que eles sabiam, e estavam escondendo algo de mim. Eles insistiram: "Não sabemos. Não temos ideia do que pode ser." E como eles não descobriam a causa, não havia um tratamento específico a fazer. "Precisamos de mais exames", eles diziam, mais e mais vezes. Quanto tempo aquilo iria continuar? perguntei. Os médicos deram de ombros. “Não sabemos, Talvez daqui a alguns meses as coisas melhorem."

Meses ainda? Fiquei chocada com o frio prognóstico – não, era mais do que aquilo. Eu estava deprimida, frustrada, e me sentia totalmente perdida. Meu marido era o mais forte, nosso protetor, e aquele que sempre sabia o que fazer. Com ele tão doente, eu estava sozinha e assustada. Não sabia o que fazer, ou para onde me voltar. Fui para casa naquele dia, exausta e deprimida, e assim que entrei, o telefone tocou.

Era o costumeiro telefonema semanal de Rabino Moshe Lazar, um rabino de Chabad em Milão que tinha se tornado um bom amigo. Como estava meu marido? Ele queria saber. Eu não pude responder. Tudo que consegui fazer foi chorar.

Rabino Lazar tinha um fio de esperança sobre o qual eu ainda não tinha pensado. "Por que não pedimos uma berachá (bênção) do Rebe?" perguntou ele. "O Rebe" era Rabi Menachem Mendel de Lubavitch, Rebe de Lubavitch, que residia em Crown Heights no Brooklyn, Nova York. Eu jamais encontrara o Rebe, mas tinha ouvido histórias. Todo mundo tinha. Dizia-se que o Rebe era um homem sábio, sagrado. Por que não? pensei.

Dei a Rabino Lazar o nome de meu marido e o nome da sua mãe para que a berachá apropriada pudesse ser feita, e ele disse que ligaria para Nova York naquela mesma noite. Agradeci, e desligamos.

Eu estava agradecida, claro, e pelo menos tinha feito alguma coisa. Tive uma pequena sensação de paz. Porém se eu dissesse agora que tinha confiança num milagre de alguma espécie, isso não seria verdade.

Na manhã seguinte, à procura de alguma companhia e apoio moral para um dia que eu acreditava que seria exaustivo, convidei meu sogro para ir comigo ao hospital. Quando entramos, lembrei-me da bênção que Rabi Lazar disse que pediria, mas decidi não mencioná-la ao meu sogro. Não havia por que nós dois ficarmos desapontados. Saímos do elevador no terceiro andar, e olhei para o hall onde ficava a porta do quarto de meu marido.

Você pode imaginar nossa surpresa quando vi meu marido caminhando em nossa direção, sem muletas?

Mais uma vez, tudo que eu pude fazer foi chorar. Da melhor maneira que pude, entre os soluços, contei a história do telefonema de Rabino Lazar na noite anterior, o pedido de uma bênção do Rebe e agora… veja!

Não havia, é claro, explicação dos médicos sobre qual tinha sido o problema, ou o que causara a cura. Eles simplesmente não sabiam. Também não havia uma explicação clara, em minha mente, para todos os por quês que eu tinha acumulado. Por que nós? Por que meu marido? Por que ele fora escolhido para a aflição – e depois para a cura milagrosa?

Não temos a presunção de saber as respostas para aquelas perguntas, disse Rabino Lazar. D'us tinha Seu plano. Mas, ele nos lembrou, há uma coisa que podemos saber: tudo que nos acontece é para o bem. D'us usa Seus próprios meios e estratégias – incluindo aflição, cura ou não – para nosso próprio bem.

Meu marido já tinha chegado àquela conclusão. Quando ele voltou para casa, contou-me sobre os dias e noites que passou com dor no hospital, incapaz de andar, preocupado com o futuro. "Uma coisa eu com certeza aprendi", disse ele. "Há mais na vida que apenas negócios e prazer."

Aquilo era verdade, é claro. E obviamente tudo caminhou "para o melhor". Porém nenhum de nós sabia, naquele momento, o total impacto da recuperação de Benjamin, D'us ainda tinha mais cartas para jogar. Porém aquelas dependiam de Sua vontade, no momento, e nos eram completamente desconhecidas.