Deixe-me contar-lhe uma história sobre a primeira prece que recitamos toda manhã, Modê ani lefanecha, “Agradeço por devolver-me minha alma”.

Aconteceu em nossa lua de mel. Elaine e eu estávamos viajando pela Itália e chegamos a uma linda cidade costeira chamada Paestum, um local com ruínas romanas e o mar reluzindo com o sol da manhã. O problema era… que eu não sabia nadar. Nunca aprendi. Mas quando sentamos na praia e olhamos através da água, percebi que a maré devia estar muito suave, porque as pessoas estavam distantes, dentro do mar e mesmo assim a água só chegava aos seus joelhos. Parecia seguro caminhar ali. E assim fiz. Entrei para o local onde tinha visto as pessoas de pé apenas alguns minutos antes, e a água estava gentilmente chegando aos meus joelhos. Então comecei a caminhar de volta para a praia. Foi quando tudo aconteceu. Dentro de um minuto eu me vi fora da minha profundidade.

Como aconteceu, não estou certo. Deve ter havido um buraco na areia. Eu não percebi quando entrei na água, mas no caminho de volta entrei direto no buraco. Tentei nadar mas falhei. Continuei indo para o fundo. Olhei em volta procurando ajuda, mas os outros banhista estavam longe – longe demais para me ver, me alcançar; até para me ouvir. Além disso, estávamos na Itália, e quando afundei pela quinta vez, lembro de ter pensado: “Que maneira de começar uma lua de mel.” E “Como é ‘socorro’ em italiano?”

É difícil descrever o pânico que senti. Obviamente alguém me salvou, ou eu não estaria aqui agora. Mas na hora parecia o fim. Evidentemente alguém, ao me ver afundando, nadou e me levou até a praia. Ele me colocou, quase inconsciente, aos pés de Elaine. Jamais descobri quem era ele. Em algum lugar encontra-se alguém a quem devo minha salvação.

Isso mudou minha vida. Durante anos depois, eu acordava pela manhã sabendo que se não fosse por um milagre, eu não estaria aqui. De alguma forma aquilo tornou tudo mais fácil de suportar. Toda vida passa por momentos difíceis, mas eu nunca esqueci aquele dia, numa praia italiana, quando a vida tão perto de ser perdida me foi devolvida. É difícil ficar deprimido quando você se lembra diariamente que a vida é um presente.

É por isso que toda manhã, recito com sentimento verdadeiro aquelas palavras: Modê ani lefanecha: “Agradeço a Ti, Rei vivo e eterno, por dar-me de volta minha alma em misericórdia. Grande é Tua fé.” Obrigado, D'us, por dar-me minha vida de volta.

Pense sobre isso. A primeira palavra que os judeus pronunciam todos os dias é Modê. Mesmo antes de pensar, agradecemos. Esta é a primeira regra da prece. É sobre não achar que a vida está garantida. É uma meditação sobre o milagre de ser. Estamos aqui. Poderíamos não estar. De alguma forma isso torna todo dia uma celebração.