Pergunta:
Rabino, com todo o respeito, meu pai já está idade avançada e não posso deixar de almoçar com ele nesse dia. Será que poderia adiar o jejum para uma outra data?
Resposta:
Eu me sensibilizo muito e acho lindo esse seu sentimento. Respeitar pai e mãe tem uma grande importância dentro do judaísmo e consta inclusive nos Dez Mandamentos.
E tem algo muito interessante nesta mitzvá, pois sabemos que os Dez Mandamentos dividem-se em dois grupos. Na primeira Tábua da Lei temos os primeiros cinco, que são os preceitos relacionados à relação espiritual entre o homem e Seu Criador (fé, Shabat etc.). Na segunda Tábua constam os outros cinco, relacionados às relações interpessoais (não roubar, não matar etc.).
O curioso é que o mandamento de respeitar pai e mãe consta na primeira Tábua (é o quinto mandamento), apesar de consistir em um preceito que envolve relação interpessoal.
A explicação disso é linda! Respeitar pai e mãe está acima de uma relação interpessoal – é de fato uma relação da pessoa com D’us. Afinal, três são os sócios na criação da pessoa: o pai e a mãe, que fornecem o material genético, e D’us, que concede a alma. Respeitar os pais é respeitar D’us; é por isso que esse mandamento consta na primeira Tábua da Lei.
As datas de “Dia dos Pais” e “Dia das Mães”, apesar de não serem ocasiões comemorativas judaicas, tendo em vista o mundo em que vivemos, acho até importante comemorar. Infelizmente são poucos que realmente respeitam seus pais. Portanto, quando há oportunidade, mesmo que comercial, de prestar uma homenagem a eles, devemos aproveitar e agarrá-la com as duas mãos.
Acontece que, neste ano, o Dia dos Pais coincidirá com um dia em que nosso Pai celestial e nós, os Seus filhos, estaremos de luto pela destruição dos dois Templos de Jerusalém. Nesta data, fazemos o jejum de Tishá Beav.
É verdade que essa tragédia ocorreu há milênios e é capaz de você nem sentir falta desses Templos... Por isso gostaria que soubesse que a destruição do templo há milênios reflete diretamente na nossa vida contemporânea, tem como consequência o amargo exilio em que vivemos, a perseguição e antissemitismo que enfrentamos, a falta de paz em Israel e no mundo, as doenças, fome, morte e tragédias que sofremos.
Portanto, no dia de jejum de Tishá Beav, ficamos ao lado do bom D’us, repensando os nossos atos e implorando por tempos melhores para toda a humanidade.
Tishá Beav é o dia em que todos ficamos juntos de nosso Pai, o Pai de todos nós. Nós sofremos pelas desgraças do mundo e o nosso Pai chora por ter de Se ocultar de nós. Ele quer, assim como nós, acabar com esse sofrimento. Cabe a nós remediarmos os nossos atos e merecermos finalmente a vinda do Mashiach.
Portanto, nesse domingo, o Pai estará sofrendo, chorando. E nós? Nós sairemos para comemorar?
P.S. O jejum acaba depois do anoitecer, então, quem sabe valha a pena comemorar o Dia dos Pais de noite, em um jantar com o seu pai?
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