Maamar escrito pelo Rebe Anterior, Rabi Yossef Yitschac Schnersohn z”l e divulgado em Yud Shevat (10 de Shevat) de 5740. Neste mesmo dia o Rebe anterior faleceu. Tornou-se costume entre os chassidim estuda-lo nesta data. Esperamos que esta tradução traga inspiração para aumentar o estudo da Torá e o cumprimento das Mitsvot e será mais um passo na propagação das fontes Chassidicas para fora.

(Tradução Livre)

Com a Ajuda de D’us

 Shabát Parashát Bó – 10 de Shevat 5710

Aniversário do falecimento de sua venerável avó a Rabanit Tzidcanit Rivka, de abençoada memória, cujo mérito nos proteja.

“Vim ao meu jardim, minha irmã, minha noiva” [Cântico dos Cânticos V:1].
[O Midrash explica que o Cântico dos Cânticos não é um simples romance, mas uma metáfora que descreve o relacionamento entre D’us e o povo judeu]. E comenta o Midrash Rabá (ibid.): “Não está escrito ao jardim, mas sim, ao Meu jardim particular, ao lugar onde originalmente Minha essência foi revelada...” E o Midrash continua: “No início da Criação, a essência da Divindade estava nos níveis inferiores. Porém, através do pecado da Árvore do Conhecimento, a Divindade transportou-se da Terra ao Firmamento, ao segundo e terceiro. E posteriormente, na geração do Dilúvio, do terceiro para o quarto. “Este fato pode ser visto no versículo: “Eu (Adão e Eva) ouviram a voz do Eterno D’us deslocando-se pelo jardim” [Gênesis III: 8]. Falou Rav Ava: Não está escrito “andando,” mas “deslocando-se;” o Midrash explica andando e saltando, andando e saltando.

O Midrash continua explicando que (após sete pecados que levaram a Divindade até o sétimo Firmamento) surgiram sete Tsadikim (justos) que trouxeram novamente a revelação da Divindade à Terra. Pelo mérito de Avraham, a Divindade desceu do sétimo ao sexto Firmamento; pelo de Yitschac, a Divindade desceu do sexto ao quinto Firmamento, até que Moshê, que é o sétimo dos justos (e o Midrash Vayicrá Rabá 29:11 diz que todos os sétimos são queridos) mereceu revelar novamente a Divindade na Terra.

E o principal da revelação da Divindade encontrava-se no Beit Hamicdásh (Templo Sagrado), conforme está escrito: “E que eles me façam um Santuário e Eu repousarei dentro deles” [Êxodus XXV: 8]. Não está escrito “dentro dele” (Santuário), mas sim, – “Dentro deles”; isto significa, dentro de cada um. [A Divindade não se restringe ao Templo, mas pode ser encontrada no coração de cada judeu. Cada judeu tem em si o potencial para ser um templo para a Divindade.]

E este é o significado do versículo: “Os justos herdarão a Terra e habitarão nela para sempre” [Salmos XXXVIII : 29] – onde “os justos herdarão a Terra” refere-se ao Gan Éden (Paraíso ). Por quê? Porque os justos fazem repousar (isto é, atraem ) a característica de “Ele habitará eternamente, exaltado e sagrado [é Seu Nome]” de forma revelada, neste mundo material. Através da revelação da Divindade no Templo e, mais particularmente, através da revelação da Divindade no coração de cada judeu, podemos entender a interpretação do versículo:.
“Vim ao meu jardim, ao Meu jardim particular,” ao local onde se encontrava Sua essência no início, pois a essência da Divindade encontrava-se nos níveis inferiores.

O principal propósito da Criação e concretização dos mundos é que o Santíssimo, Bendito seja, desejou ter uma moradia nos níveis inferiores; que haja uma revelação de Divindade em baixo, através do trabalho do homem de submissão e conversão de sua natureza física.
Que a alma que provém dos níveis espirituais, desça para vestir-se no corpo material e na alma animal. E estes ocultarão e esconderão a luz da alma divina e, apesar disso, a alma há de agir, provocando a refinação e purificação do corpo, da alma animal e também de seu quinhão no mundo. E este é o significado de “E que eles me façam de cada um, através do Trabalho de refinamento pela maneira de submissão e conversão de sua natureza física.”

O Tanya (mencionando o Zohar, parte II, pág. 128) nos traz: “quando a Sitra Achra [termo cabalístico que designa as forças opostas à Santidade] é submetida, revela-se a Glória do Santíssimo, Bendito seja, por todos os mundos.” A expressão “ por todos os mundos” refere-se ao nível da luz Divina que ilumina a todos os mundos igualmente, ou seja, a luz envolvente de todos os mundos (O Hassovêv Col Almin).

Há distinções de níveis espirituais nos mundos; os mundos superiores não se assemelham aos inferiores. Nos mundos superiores a luz brilha de forma revelada, enquanto nos mundos inferiores, a luz não brilha com tal revelação. Em alguns níveis a luz surge de forma oculta e escondida.

O midrash [Pirkê de Rabi Eliezer, cap. 18] refere-se a esses diferentes níveis em seu comentário sobre o versículo: “Minha Mão estabeleceu a Terra e Minha Direita alçou os Céus” [Isaías XLVIII : 13], dizendo: “Estendeu Sua Direita e criou os Céus e estendeu Sua Esquerda e criou a Terra.” [Como se sabe, na tradição judaica é dada maior importância à mão direita do que à esquerda.] O Midrash explica que a mão direita indica luz e maior revelação. Este é o significado de “Sua Direita alçou os Céus,” onde o termo “Céus” refere-se aos mundos superiores, cuja revelação ocorre de uma maneira “direita”, ou seja, uma grande intensidade da luz e a própria luz encontra-se sob forma revelada. E o termo “Terra” refere-se aos mundos inferiores, caracterizados por uma maneira “esquerda,” onde a luz não se encontra de uma forma revelada e a própria luz vem sob o aspecto oculto e escondido.

Podemos entender melhor esse conceito, compreendendo a diferença entre os quatro níveis espirituais descritos no versículo: “Tudo o que se chama pelo Meu Nome e para Minha Glória, Eu o criei, Eu o formei e até Eu o executei” [Isaías XLIII: 7], que são os quatro mundos Abyá (Atsilut, Beriá, Yetsirá e Assiyá). [O mundo de Atsilut não tem existência própria; é apenas uma radiação da energia Divina]. A Luz Divina em Atsilut não é como em Byá; atsilut é a revelação do oculto, enquanto em Byá, isto não ocorre. O termo Atsilut vem da expressão “Etsló,” – que significa próxima d’Ele, “perto;” o termo Atsilut também provém da linguagem “salvar,” pois Atsilut, apesar de constituir um mundo, classifica-se como parte dos Mundos Infinitos. Porém em Beriá isto não ocorre; já é o começo da existência de alguma coisa a partir do nada e assim é dito: “Tudo o que se chama pelo Meu Nome e pela Minha Glória”, que Meu Nome e Minha Glória ainda estão unidos a Mim. Isto se refere ao mundo de Atsilut (Emanação), que é mundo da união e englobamento, no qual a luz encontra-se no ápice de sua revelação, não sendo sequer comparável à maneira de como se encontra em Byá.

E mesmo em Byá, há diferenças nos graus de revelação das luzes, como se encontram no mundo de Beriá (Criação)e nos mundos de Yetsirá (Formação) e Assiyá (Ação).

Entretanto, tudo o que dissemos é válido em relação à luz que vem dar vida aos mundos de uma maneira “Preenchedora de todos os mundos” (Or Hamemalê Col Almin), mas quando se trata da luz que está acima de um relacionamento com os mundos, ou seja, o tipo de luz envolvente de todos os mundos, que vem de forma envolvente e abrangente para os mundos, esta brilha em todos os mundos da mesma forma. E é isto que o Zóhar se refere como o termo “por todos os mundos”, ou seja, que a revelação da luz é por todos os mundos de maneira igual. A revelação desta luz envolvente de todos os mundos (Sovev Col Almin) vem através do trabalho de refinamento do homem, através da submissão de sua natureza física e conversão desta em santidade, como está escrito no Zóhar: “quando a Sitrá Achrá é submetida.

“Quando através de seu esforço há a submissão das forças do “outro lado,” ou seja, opostas à santidade e a conversão da escuridão em luz, então a virtude da luz provém precisamente da escuridão; ou seja, quando a escuridão transforma-se em luz, então temos a virtude da luz. Para que esta luz brilhe de forma tão revelada, até que ilumine realmente em baixo; isto é, que a luz se propague de tal maneira, que seu modo de propagação ocorra em todos os mundos por igual.

Assim explicamos: “Quando se submete a Sitrá Achrá, revela-se a Glória do Santíssimo, Bendito seja, por todos os mundos,” sob o aspecto da luz envolvente de todos os mundos, cuja maneira de propagação é envolvente e abrangente em todos os mundos por igual, logo ilumina em baixo assim como em cima. E assim se explica: “E que eles Me façam um Santuário e Eu repousarei dentro deles,” dentro de cada um, através do trabalho de submissão de sua natureza física e conversão da escuridão em luz. Através disso, traz-se a revelação de uma forma superior de luz, pois propaga-se a Glória do Santíssimo, Bendito seja, por todos os mundos, uma vez que ilumina e revela-se a luz envolvente.

SINOPSE: O principal da Divindade está nos níveis inferiores. Explica-se que o propósito da Criação dos mundos é que haja uma moradia nos níveis inferiores e isto se faz através da submissão da natureza física (Itcáfia) e sua conversão em santidade (Ithapcha), o que traz a luz envolvente, que se encontra igualmente em todos os mundos.