O trabalho no Tabernáculo e no Templo centrava-se no serviço de refinamento da submissão da natureza física, que traz e eleva até a conversão de escuridão em luz. Portanto, um dos trabalhos que havia no Templo era o serviço dos Corbanót (sacrifícios). Trazer um sacrifício não era apenas um ato físico. Ao contrário, a participação dos Cohanim e dos Leviyim nos seus serviços, sua música e seu cântico demonstrou que a principal importância do sacrifício era espiritual.
Na esfera pessoal, do serviço de um homem para D’us, a idéia de um sacrifício expressa-se através do versículo: “Um homem que aproximar de vocês um sacrifício ao Eterno, do animal, do gado, etc.” [leviticos I:2], onde a princípio cabe perguntar: se a intenção era simplesmente elucidar as leis do Corban, deveria ter dito: “Um homem de vocês que aproximar um sacrifício ao Eterno, esta e aquela será a lei da oferenda de um sacrifício e seus estatutos;” por que está escrito “Um homem que aproximar de vocês etc.?” A transposição da frase mostra-nos que a intenção do versículo não é apenas descrever os detalhes de como trazer sacrifícios no serviço espiritual da alma do homem.
O termo Corban [cuja origem em hebraico é Carov = perto] tem por objeto a aproximação das forças e dos sentidos. Assim podemos interpretar o versículo da seguinte maneira: “Se um homem quer se aproximar da Divindade, então de vocês será o sacrifício para o Eterno; de vocês e em vocês depende a questão de ser um sacrifício para D’us, ou seja, ser próximo do Todo Poderoso. [A responsabilidade, e a possibilidade de ser uma oferenda ao Eterno, de aproximar-se da Divindade, depende da própria pessoa.]
Mesmo que a pessoa conheça a si mesma e entenda até que degrau ela rebaixou sua alma com atos impróprios e compreenda como estes atos causaram uma separação genuína entre ela e a Divindade, a pessoa nunca deve perguntar: “Como me aproximarei de D’us?” Pois ela deve saber que a proximidade da Divindade depende “de vocês;” de vocês é que depende tudo, ou seja, da própria pessoa. E cada indivíduo de Israel pode dizer: “Quando alcançarão meus feitos, os de meus ancestrais Avraham, Yitschac e Yaacov?” [Tana Dvê Eliyáhu Rabá, Cap. 25.] Não há nenhuma limitação, impedimento e obstrução de subir e chegar a aproximar-se da Divindade. “D’us nunca sobrecarrega suas criaturas” [Avodá Zará 3a] e revela-se e ilumina a cada qual segundo sua força e capacidade, como encontra-se no Midrash Rabá [Números XII : 3] “E quando eu peço, não peço segundo Minha forças, mas segundo as forças deles,” segundo a força de cada indivíduo. Como D’us exige apenas de acordo com o potencial de cada um, não há obstáculos que nos impeçam de atingir o nível mais elevado.
Este é o sentido de: “Um homem que aproximar,” pois para o homem aproximar-se da Divindade, depende “de vocês;” de vocês a coisa depende, ou seja, “de vocês é o sacrifício para o Eterno,” pois de vocês aproximarão um sacrifício para D’us.
O pretendido aqui não é somente o sacrifício do animal, mas de vocês, ou seja, do animal que está no coração do homem, que é a alma animal. O versículo continua: “do gado e do rebanho,” referindo-se aos graus específicos que existem na alma animal, pois cada pessoa tem uma tarefa diferente no refinamento pessoal.
Há pessoas cuja alma animal é um touro chifrador, dono dos mais grosseiros hábitos; assim como há quem seja como um rebanho (carneiro), que apesar de ser um animal, é de natureza mais dócil (conforme se encontra analisado pormenorizadamente no Cuntrass Hatefilá 5660). O versículo termina com as palavras: “Eles oferecerão os seus sacrifícios” que cada pessoa deve trazer seu sacrifício, pois cada pessoa tem sua própria e única tarefa de refinamento pessoal.
Quando uma oferenda material era trazida ao Templo, era sacrificada no altar. O Talmud relata que o fogo do altar que consumia a oferenda vinha de cima sob a forma de um leão (Rashi explica: uma brasa que caiu dos céus nos dias do rei Salomão e que estava sobre o altar) e o Zóhar declara: “O leão que consome os sacrifícios.”
Este fogo dos céus também tem sua função no que se refere as serviço de uma pessoa individual.
Há um fogo de cima, que é a labareda que se encontra na alma Divina de cada judeu, conforme a passagem: “As labaredas dela são labaredas de fogo, a chama de D’us [Cântico dos Cânticos VIII : 6]. E encontra-se no Midrash Rabá (trazido no Yalcut): “Como o fogo de cima, onde o fogo não faz com que as águas se evaporem, nem as águas apagam o fogo;” o que significa que na natureza da alma Divina há labaredas de fogo, isto é, amor à Divindade que, da mesma forma que o fogo de cima, as águas não o apagam. [Conforme está escrito no Cântico dos Cânticos VIII : 7: “Águas abundantes não poderão apagar o amor e rios não o afogarão”].
O termo “águas abundantes” significa a multiplicidade de empecilhos nas preocupações com o sustento e confusões diversas em problemas distintos – que perturbam a pessoa no estudo da Torá e no serviço Divino [as orações]. E apesar de tudo isto, mesmo os rios não as afogarão, nenhuma dificuldade ou problema poderá apagar o fogo da alma de um judeu, pois as labaredas de amor, que estão na alma Divina, são semelhantes ao fogo que está em cima, ao qual as águas não apagam.
[Da mesma forma que a oferenda material era consumida pelo fogo Divino no altar, similarmente na esfera pessoal, a oferenda, isto é a alma animal de cada pessoa, deve ser consumida por sua labareda Divina.] E nisto precisa-se aproximar-se a alma animal para que também ela tenha amor pela Divindade, conforme está escrito: “E amarás ao Eterno teu D’us com todo teu coração” (Deuteronômio VI : 5) [normalmente a palavra em hebraico usada para designar coração é Libchá e a Torá usou Levavchá, isto é, duplicou a letra Veit. Isto é interpretado pelo Talmud da seguinte maneira (Berachót 54a)], “com tuas duas inclinações;” para que não apenas a alma Divina, mas também a alma animal chegue a amar D’us, através da investidura da alma Divina na alma animal. A alma animal, por natureza, não tem conhecimento nem sentimentos pela Divindade. Porém, com a investidura da alma Divina na alma animal e da concentração em uma meditação Divina que a alma animal também possa captar, faz-se a aproximação da alma animal (e conforme está escrito em outro local, forma-se uma impressão geral gravada na alma animal de que Divindade é também algo compreensível e captável etc.).
Sua natureza animal é transformada e consumida pelo fogo da alma Divina [como oferenda no Templo era consumida pelo fogo no altar]. Após este trabalho, “muita colheita pode ser feita através da força do boi” [provérbio XIV : 4], [a alma animal contribui com sua força e potência para o serviço Divino]. [No Templo, um dos propósitos da oferenda era o refinamento do mundo.] Os sacrifícios materiais faziam com que as faíscas Divinas encontradas nos reinos mineral vegetal e animal fossem refinadas e elevadas. Similarmente, através da aproximação espiritual, refina-se a alma animal e converte-se a escuridão da alma animal em luz.
Através deste serviço “Eles Me farão um Templo e Eu repousarei dentro deles,” isto é, dentro de cada indivíduo. E isto é conseguido através de seu trabalho na submissão de sua natureza física e principalmente por trazer sua conversão em santidade. Portanto diz o Zóhar: “Quando a Sitra Achrá é submetida, revela-se a Glória do Santíssimo, Bendito seja, por todos os mundos,” sob o aspecto de luz e revelação que é a luz envolvente de todos os mundos etc.
SINOPSE: Explica o objeto dos sacrifícios no trabalho do homem que aproxima, que deve ser de vocês um sacrifício. O fogo em cima e o fogo em baixo, o amor da alma Divina e da alma animal. O amor da alma animal vem através da investidura da alma Divina na alma animal.
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