Através da explicação acima, podemos entender por que o Tabernáculo era feito exatamente de tábuas de Shitim, visto que o serviço do Tabernáculo e do Templo era principalmente o de converter a escuridão em luz através dos sacrifícios (e particularmente através da oferenda do incenso). Através deste serviço no Templo, brilhava uma revelação de Divindade em todo o mundo.

O Templo e o Tabernáculo eram composto por madeira de Shitim, cuja origem etimológica – “Shitá” significa desvio, ou seja, qualquer desvio do caminho central para algum lado, para cima ou para baixo, chama-se “Shitá”. Da mesma forma, temos o significado de Shtut (tolice) que é o desvio do conhecimento e da sabedoria, sendo este o caminho equilibrado e o desvio dele chama-se Shtut. Existe a tolice que provém da impureza, conforme a Torá descreve o adultério no versículo: “ao desviar-se sua esposa” [Números V :12], [usando uma palavra derivada de Shitá], ao que Rashi comenta: “desviou-se dos caminhos de pudor.” E também está – escrito [quando o povo de Israel saiu do Egito rumo à Terra de Israel]: “E acamparam em Shitim” (onde cometeram pecados de idolatria e libertinagem) que também exprime a idéia de um desvio para o lado oposto da santidade.

Nossos Sábios, de abençoada memória, comentam no Talmud: “Um homem não peca a não ser que entre nele um espírito de tolice (Shtut).” Este espírito provém do lado oposto da santidade e é o espírito das “cascas” que encobre a verdade. O espírito é chamado de tolice porque é similar a [inclinação pelo mal que é chamado] “o rei velho e desvairado.” E este espírito oculta a luz e a revelação, pois a realidade é que a Divindade é a verdade e a vida, conforme está escrito: “E o Eterno D’us verdadeiro é o D’us vivo” [Yermyiahu X : 10]. O espírito de Shtut é denominado “casca” pois oculta a verdade e a vitalidade Divina; assim como a casca encobre o fruto, o espírito de Shtut encobre, esconde e oculta a luz da revelação Divina. Por este motivo, a pessoa chega a pecar, pois cabe a princípio perguntar: como pode um judeu chegar a pecar? Isto ocorre somente porque o indivíduo não percebe que através do pecado ele se separa da Divindade; ao contrário, ele pensa que ainda permanece em seu judaísmo.

Porém, se ele soubesse a verdade, que através do pecado o judeu torna-se separado da Divindade, então ele não pecaria de modo algum, Ao contrário, por sua natureza, nenhum judeu não quer, nem pode separar-se da Divindade. A prova disto é, que quando o judeu é testado e obrigado a algum ato de apostasia, na qual é óbvio que ele se torna separado da Divindade, ele é capaz de arriscar sua vida e receber sobre si toda espécie de sofrimentos e mesmo sacrificar-se para santificar o nome do Supremo D’us.

Este fato pode ser observado sensivelmente, mesmo nas camadas mais baixas, nos mais frívolos e nos pecadores de Israel, que estão prontos a sacrificar suas vidas para santificar o nome de D’us. Por quê?

Porque neste momento ele sabe e sente que este ato o separará de D’us. Nenhum judeu não quer, nem pode separar-se do D’us de Israel.

Mas, cometendo os outros pecados, o judeu não sente a separação causada entre ele e D’us; parece-lhe que ele continua em seu judaísmo, como antes de pecar. Esse sentimento falso provém do espírito de Shtut, da Sitrá Achrá, que encobre a luz e a revelação da Divindade, até que estas não sejam sentidas. Explicando melhor: o espírito de Shtut provoca no homem a insensibilidade; a intensidade da vontade por desejos e a efervescência da alma animal causam a frieza e a insensibilidade em assuntos espirituais. A pessoa pode estar tão tomada por prazeres e vontades grosseiros e materiais, que sua sensibilidades espiritual encontra-se no auge do ocultamento, até que se torna totalmente insensível. Ele não sente mais a satisfação, a doçura, o bem e a grandeza do cumprimento das Mitsvot (Mandamentos Divinos).

A pessoa não sente a baixeza da situação devido ao seu distanciamento de D’us causado por seu pecado, que decorre da cobertura da alma animal sobre a alma Divina.

A essência da alma Divina é Divindade [este fundamento aplica-se até os níveis mais baixos da alma, porém principalmente à sua essência], principalmente a faísca Divina que está dentro dela e ligada a seu corpo específico. Através da alma Divina, a pessoa sente todos os assuntos Divinos e é sensível a qualquer coisa que não seja Divindade; isto é, não quer algo que não seja reveladamente Divindade, muito menos algo oposto à Divindade. Frente a algo que seja oposto à Divindade, fugirá como quem foge do perigo e como uma pessoa que foge da morte. A alma Divina sabe que a morte espiritual é muito mais séria do que a morte material; logo, todo seu anseio e vontade volta-se, à Divindade e a fazer receptáculos para a Divindade.

A grosseria, o materialismo e a existência da alma animal encobrem, ocultam e escondem o sentimento da alma Divina; em termos mais simples, o prazer do mundo [Olam (mundo) em hebraico é relacionado com a palavra Heelêm (ocultamento)] encobre e oculta o sentimento Divino.

Ocorre exatamente o oposto do propósito da criação dos Mundos, quando D’us quis que Ele tivesse uma moradia nos níveis inferiores, através do trabalho do homem no corpo e na alma animal. O homem foi posto exatamente neste mundo pra refiná-lo e purificá-lo; porém na prática, deu-se o oposto o mundo oculta a luz da verdade para o homem e este embrutece-se e materializa-se tanto, até perder toda a sua sensibilidade em ramos espirituais devido à ação da alma animal. A alma animal é firmemente fixada e enraizada em assuntos mundanos, sendo estes objetivos de sua existência. Neles ela medita, pensa e fala vivamente e com entusiasmo. Esses sentimentos, especificamente o prazer que a alma animal desfruta, negam o sentimento espiritual. Este estado é causado pela frieza da alma animal e sua insensibilidade a assuntos espirituais. Pois a alma animal é animalesca na essência de sua existência, conforme seu próprio nome nos mostra: “alma animal,” cuja vitalidade e sensibilidade está em assuntos animalescos.

Podemos ver na prática, que há pessoas que, além de serem isentas de sabedoria da Torá e de maneiras adequadas, seus atos são literalmente como os de animais. Eles pisam e gozam dos assuntos espirituais, dos quais não têm sequer uma idéia, como um animal que pisa sem discernir se em terra, em madeira ou em um corpo humano. Isto provém da falta de sensibilidade, pelo fato do animal ser desprovido de conhecimento (incluído entre estes, estão aqueles que escolhem diversos caminhos, dizendo que este mandamento eles decidem cumprir e algum outro eles não querer cumprir).

Esse atos provêm da audácia e frieza da alma animal e do espírito de tolice. Estes escondem e ocultam a luz da verdade até o grau que a pessoa chega a pecar e ocorre exatamente o oposto do propósito da criação dos mundos. O propósito supremo da criação é para refinar o mundo e fazer dele um receptáculo para a Divindade. Ao invés disto, a alma animal efetuou exatamente o oposto. Não apenas o mundo não foi refinado e purificado, mas também encobriu-se a luz da verdade. E este é o espírito de Shtut que encobre a verdade.

SINOPSE: Explica que o espírito de tolice, a intensidade do prazer da alma animal em geral, ocultam a verdade e causam insensibilidade em relação à Divindade e à grandeza das mitsvot e a baixeza atingida com o afastamento delas.