Da mesma forma como o homem pode desviar-se do caminho central de uma maneira abaixo da lógica (que denomina-se tolice das “cascas”), assim existe o desvio acima da lógica, que é a banalização da santidade.
O Talmud nos conta [Ketubót 17a] que nos casamentos, Rav Yehuda Bar Ilay pegava um ramo de murta e dançava em frente à noiva. Rav Shmuel Bar Yitschac dançava com três (Rashi – fazendo malabarismo). Rav Zeira criticou-o dizendo que seu comportamento não estava de acordo com a honra do Sábios.
Quando faleceu, um pilar de fogo irrompeu, separando-o dos que o cercavam. Então Rav Zeira retirou sua critica. [No Talmud são recordadas três versões diferentes sobre a retratação de Rav Zei]
Uma diz; seu ramo(o ramo de murta com o qual ele dançava) ajudou-o; a outra diz: sua extravagância (enquanto dançava ele se fazia de palhaço) ajudou-o; a terceira diz: sua concepção (seu comportamento e sua conduta) ajudou-o. Essa alegria extremada está acima da lógica e adquire um nível elevado e maravilhoso.
[Por que os Sábios se comportaram desta maneira?] O Talmud [Sotá 17a] traz: “Quando um homem e uma mulher merecem, a Divindade paira entre eles” e explica: A palavra homem em hebraico é “Ish;” se a letra “Yud” cair, podemos ler “Esh” que significa fogo. A palavra mulher em hebraico é “Ishá;” se a letra “Hei” cair, podemos ler “Esh” (fogo). As letras “Yud” e “Hei”combinam-se formando o nome de D’us. Quando um homem e uma mulher merecem [quando concebem o casamento de modo apropriado], a Divindade paira entre eles.
[Os Sábios estavam conscientes do alto nível – adquirido no casamento, logo seu contentamento era enorme.] A união Divina no casamento é grande e infinita, portanto o casamento é chamado de “uma estrutura eterna”. Por isso, o contentamento dos Sábios não poderia ser limitado por restrições de boas maneiras. Também o pilar de luz, que ele recebeu por seu comportamento, tinha um alto nível; foi um sinal óbvio da revelação Divina.
[A necessidade da alegria da santidade, de um comportamento que transcende o intelecto, é descrito na passagem] “A luz do Ein Sof (Infinito) não pode ser captada pelo pensamento.” A essência Divina transcende todos os limites de compreensão. Há muitos níveis espirituais, refinados e abstratos que podem ser captados pelo pensamento, mas algo que nem é ligado ao pensamento (a essência Divina), não pode ser captada nem pelo intelecto mais elevado.
O Tanya [cap. 18] expressa este conceito como segue: “Em relação a D’us, que está acima da inteligência e conhecimento, que não pode ser compreendido, todos os homens são tolos, como está escrito [Salmos LXXIII: 22-23]: “E eu sou um bobo e ignorante. Eu sou como uma besta em Tua frente, mas eu estou continuamente conTigo,” significando que “porque eu sou um bobo e como uma besta, estou continuamente conTigo.”
Para chegar à essência Divina, a pessoa deve anular sua vontade, o que também é um ato que transcende os limites do conhecimento; por isto, também é chamado de Shtut (tolice).
[No Livro dos Reis encontramos um conceito similar.] O profeta é mencionado como sendo um homem louco, como está escrito: “Por que este homem louco veio?” [Reis II, IX, 1]. Estes termos foram usados porque durante a revelação profética a pessoa deve transcender toda a concepção mundana do material, totalmente além de seu entendimento e sentimento, adquirindo um nível de anulação acima de qualquer limite de entendimento [e só então ele é um receptáculo para a profecia].
Logo, durante a revelação profética, os profetas deviam remover suas vestes, como está escrito no versículo: “E ele (Shaul) também tirou suas vestes e profetizou” [Samuel I, XIX: 24]. [O remover das vestes representou um alto nível espiritual.] As vestes vieram apenas depois e em conseqüência do pecado da Árvore do Conhecimento. Antes do pecado, a Torá afirma: “E estavam os dois nus e não se envergonharam” {Bereshit II:25].
[Antes do pecado, o homem era instintivamente bom; ele era motivado apenas nessa direção. Após o pecado ele “conheceu o bem e o mal”]; porém seus pensamentos mesclaram-se com estas duas forças. [O bem não é mais tão facilmente distinguível do mal], mas mistura-se com ele. Apenas depois que o pecado causou estes sentimentos, Adam e Chava puseram roupas. A raiz profunda desses sentimentos é a própria personalidade da pessoa, seu comportamento com o mundo do intelecto e das emoções.
Para adquirir a profecia, a pessoa deve tirar suas vestes, que é exatamente o desligamento da própria consciência racional e emocional. Ou seja, estar em estado de anulação de suas forças e sentidos, como Maimônides explica nas leis de Vessodê Hatorá (cap. VII, art. I): “Um dos princípios fundamentais da fé é saber que D’us concede profecia a homens. A profecia vem apenas a um homem sábio, que seja forte, isto é, que sobrepuja seus desejos e estes não o dominam. “E por isso, este nível chama-se tolice da santidade, que é o desvio acima do intelecto e da lógica, e não abaixo destes.
[Através do entendimento dos dois níveis de tolice (Shtut), podemos entender porque o Santuário foi construído de madeira de Shitim.] Como consta anteriormente, o objetivo do serviço no Santuário e no Templo era transformar a escuridão em luz, ao ponto em que a própria escuridão brilharia; neste caso, transformar o espírito de tolice (abaixo da lógica) para tolice de santidade. E por isso o Santuário era feito exatamente de madeira de Shitim; um claro exemplo de como transformar o comportamento abaixo da razão em comportamento que transcende a razão.
Através disto podemos entender a interpretação: “E vocês Me farão um Santuário e Eu repousarei dentro deles” – dentro de cada indivíduo. Através do serviço do homem de refinamento pessoal, que traz a transformação da escuridão em luz; ou seja, através de seu esforço de transformar o sub-racional em supra-racional.
[Para explicar o conceito em um nível prático, no comportamento cotidiano do homem:] Há certas coisas que a pessoa faz sem pensar, só porque todos as fazem. Estas coisas são como leis inalteráveis, pois assim é o costume do mundo, como algumas regras de boas maneiras, etc. Este comportamento deve ser elevado de baixo da razão para cima da razão, Por exemplo: comer e dormir são atividades fixas e regulares; também quando é necessário ocupar-se de negócios, são atividades inalteráveis para a maior parte das pessoas. Em contraposição, o tempo fixo para o estudo de Torá e para a reza é adiado e não é regular e, por alguns, é ignorado completamente.
Quando a pessoa faz um balanço pessoal e questiona até que ponto seu comportamento está correto, principalmente sabendo que ela não controla o tempo que viverá, como diz o Midrash [Devarim Rabá 9:3]: “O homem não tem controle para dizer [ao anjo da morte]: Eepere-me até que eu faça meus balanços e cuide da minha família, etc.” Quando a pessoa faz apenas uma avaliação, naturalmente perguntará: Como é possível gastar toda a energia de sua alma em coisas completamente fúteis e esquecer-se totalmente do propósito da descida de sua alma?
Ela deve saber que isto só é possível devido ao espírito de tolice que encobre a verdade. E este será seu trabalho – o de transformar essa tolice: e se esforçará e fixará tempo para o estudo de Torá e então: “Eu repousarei dentro deles,” a revelação Divina brilhará em sua alma.
Este é o significado de (como traz o Zohar): Quando a Sitra Achra é submetida, quando a tolice da alma animalesca e a excitação por prazeres mundanos for transformado em santidade através do cumprimento da Torá e mitsvot, então ‘revela-se a Glória do Santo, bendito seja, por todos os mundos: “A luz envolvente de todos os mundos brilhará e se revelará.”
SINOPSE: Explica que há também a tolice de santidade, desvio acima dos limites da razão e conhecimento, similar à transcendência do intelecto e emoção pessoal requerida para a profecia. O Santuário era feito de tábuas de Shitim, demonstrando como o Shtut, a tolice abaixo da lógica, pode ser transformada em tolice de santidade. E assim cabe a cada pessoa em seu serviço.
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