Gelo. Frio. Insensível. Ártico. Inflexível, rígido e impassível.
No âmbito humano, o gelo representa apatia, frigidez emocional, resistência à mudança, e resistência à inspiração. Não deveria vir como surpresa então que o arquiinimigo de nossa nação, a nação de Amalek, esteja associado com frieza.“Lembra o que Amalek te fez, no caminho, quando saíste do Egito, Como ele te encontrou no caminho…” (Devarim 25:17).
A palavra hebraica para “te encontrou” é kar’cha – que também pode ser t raduzida como “te esfriou”.
Após vivenciar o milagroso Êxodo, a ainda mais espetacular abertura do mar, e então receber diariamente o maná vindo do céu – é compreensível que nossos ancestrais estivessem apreciando uma onda de calor espiritual. Aquecidos, empolgados, inspirados, no mais alto das alturas. O calor deles, e sua aura de invencibilidade, irradiava para fora, e nenhuma nação ousava confrontá-los. Nenhuma nação, ou seja, exceto uma.
Amalek não era afetado pelo calor, e ousadamente saiu para atacar os israelitas e aplicar uma compressa fria sobre o seu entusiasmo fervente.
Milagres e milagres…
Eles tentaram esfriar nossa paixão – e somos conclamados a jamais esquecer sua punhalada fria, e a eliminá-los totalmente da face da terra.
No nível pessoal, há um Amalek espreitando dentro de cada um de nós. É a voz gelada que tenta nos inculcar apatia e nos imunizar contra a paixão e a inspiração. Esse Amalek, também, deve ser destruído. Mas como?
Bem, o antídoto mais óbvio para o gelo é o calor. Com calor suficiente você poderia derreter uma geleira. Porém há uma outra maneira… Gelo!
Em termos do serviço espiritual, o gelo representa o comprometimento absoluto e inabalável com D'us. Não um comprometimento baseado em emoções (calor), não aquele que está sobre o alicerce de amor e reverência pelo Criador ou uma apreciação da beleza e importância de servir a Ele. Pois em última análise, qualquer relacionamento desses está baseado numa sensação do ser: eu amo, eu temo, eu sinto, eu gosto, eu aprecio, eu entendo… E quando o serviço depende do meu calor e entusiasmo, vai flutuar de dia para dia, até de minuto a minuto. Alguns dias serão ensolarados e quentes; outros serão nublados e frios.
Mas se o comprometimento não for impulsionado pelo calor e pela paixão, por aquilo que eu quero e sinto, mas por aquilo que é desejado de mim – então é firme e constante, e não sujeito a vacilações e mudanças. Porque aquilo para o qual sou querido e necessário não muda.
Na descrição de Yechezkel sobre a carruagem sobrenatural, ele descreve o “gelo impressionante” que fica acima da sagrada Chayot (Yechezkel 1:22). Os Chayot são anjos que, como pronunciamos em nossas preces matinais diárias, servem ao seu Mestre com um “poderoso tumulto”. Seu entusiasmo ao cantar louvores a D'us e proclamar Sua santidade desafia qualquer descrição. Mas há algo acima de suas cabeças, um serviço superior ao deles.
Gelo.
E não confunda a pessoa que serve a D'us com resolução gelada por um capricho, Não pense que sua falta de ego ou agenda pessoal o torna uma galinha-morta. Muito pelo contrário, sua determinação gelada não é mitigada por considerações de ego e orgulho. Ele afirma seu ponto não importa o que lhe apareça no caminho. Sua determinação pode afundar navios que eram considerados insubmergíveis.
Portanto, se você deseja derreter seu gelo interior, vá em frente. Mas eu recomendo que você lute contra o gelo com gelo.
Baseado numa palestra do Rebe, Parashá Vayishlach (14 de Kislev) de 5744 (1983). Publicado em Hitvaduyot 5744 (vol. 2) pág. 806-808.
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