O profeta Yeshayahu fala: “Procurem a D’us quando Ele pode ser encontrado, invoquem-No quando Ele está próximo”. (Yeshayahu 55:6)

O Talmud explica que estas palavras se referem a época dos dias de Asseret Yemei Teshuvá, os Dez dias de Arrependimento. A tradução literal de Teshuvá não é bem arrependimento, mas mais especificamente “retorno” no sentido de uma alma sedenta ansiando para conectar-se com a sua fonte Divina. É uma espécie de um “retorno a casa” de um filho voltando ao abraço de um pai amoroso após certa ausência. Na terminologia Chassídica, nestes dias “a Fonte se aproxima da faísca”, a “Fonte” sendo D’us e a “faísca” a nossa alma, que é chamada “ a chama de D’us”.

Durante o ano toda “Fonte” está espiritualmente “distante”, quer dizer está oculta da “faísca”. Nos primeiros dias do mês de Av a “Fonte” encontra-se no ponto mais oculto; tão longe que a faísca quase não consegue sentir sua conexão com a Chama Mestra. No mês de Elul quando historicamente Moshê Rabênu iniciou sua última subida a Monte Sinai – a “Fonte” começa a se aproximar e ficar mais revelada. Durante este mês, progressivamente a “Fonte” fica mais próxima à “faísca” até chegarmos no período das grandes festas. A máxima aproximação é no dia de Yom Kipur, especificamente durante a Neilá. (a última oração de Yom Kipur, antes do toque do Shofar).

Quando a fonte se aproxima da faísca, esta última começa a sentir o calor e ela é atraída para a chama mestra maior. Por este motivo há maior consciência de D’us nesta época do ano.

Nos 10 dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur sentimos maior consciência de D’us na nossa vida.

O Shulchan Aruch recomenda que devemos tentar canalizar esta consciência em atos práticos de “piedade” no cumprimento das mitsvot: acrescentar mais zelo na observância na cashrut dos alimentos, ser cuidadosos no nosso relacionamento com o próximo e aumentar em Tefilá (oração) e Tsedacá (caridade). Desta forma D’us também será Piedoso conosco no Carimbo Final para o Ano Novo e nos abençoará com saúde, prosperidade e alegrias judaicas fornecendo as condições para servi-Lo com amor e alegria durante o ano todo.

O ciclo do perdão

Yom Kipur é chamado o Dia do Perdão. Neste dia depois que Moshê intercedeu em prol do povo judeu durante 80 dias rezando por eles Hashem respondeu com “Salachti k’Devarecha”, “Perdoarei, como você me pediu”.
Todo ano em Yom Kipur procuramos conectar a energia magnífica deste dia e receber nosso perdão. Mas não podemos esperar ser perdoados por D’us se não somos capazes de perdoar uns aos outros. Perdoar não é algo fácil, requer trabalho e uma conexão com D’us, a Fonte da vida. O segredo de podermos perdoar é lembrar que D’us nos deu vida porque nós importamos para Ele. Cada um tem um papel vital e insubstituível para aperfeiçoar o Seu mundo. Quando lembramos disto, encontramos os recursos para superar a dor que outros nos causaram e perdoar tanto a eles quanto a nós mesmos.

A palavra em hebraico para perdão é Mechilá, relacionado com a palavra Machol que quer dizer círculo. A vida é como um círculo abrangendo todas as nossas experiências e relacionamentos numa grande harmonia. Quando alguém nos machuca, o círculo é rompido. Através do perdão reparamos a fratura.

Perdão não se aplica apenas a pessoa que nos feriu, mas também a nós próprios, perdoar a D’us, perdoar até a vida com seus inesperados e incompreensíveis reveses e tristezas. Quando nós perdoamos, o círculo se completa novamente e somos envolvidos pela totalidade da criação de D’us da qual somos parte integral. E então podemos ter a confiança de ouvir Hashem em Yom Kipur falando para nós: “Salachti k’Devarecha”, Vou te Perdoar, conforme você me pediu”.

O nascimento da Esperança

Demorou apenas 40 dias para Moshê receber a Torá inteira de D’us no Monte Sinai, mas levou o dobro disso, 80 dias, para conseguir o perdão para o povo judeu após o pecado do bezerro de ouro.

No entanto, quando Moshê desceu do Monte no dia de Yom Kipur, as novas tábuas da Lei que ele trouxe superaram as primeiras. Estas foram esculpidas da profundidade da dor e simbolizaram a esperança que vem depois da perda – estas segundas tábuas, diferente das primeiras, foram indestrutíveis.

Não podemos esperar ser perdoados por D’us se não somos capazes de perdoar uns aos outros.

Este episódio nos ensina que é mais difícil reconstruir um relacionamento após este ter sido violado do que construí-lo na primeira instância. Mas quando sucedemos, a nova estrutura é muito mais sólida e jamais poderá ser derrubada.

Yom Kipur é o dia mais sagrado do ano porque é o aniversário do ingrediente mais singelo e significativo na vida – a esperança. A esperança na cura após a perda, no renascimento após a destruição, e que habilita sempre a reconstruir aquilo que foi rompido e torná-lo mais forte como nunca antes.

Yom Kipur também nos ensina como alcançar tudo isto, conectando-nos a D’us, fonte da imortalidade. Esta é a derradeira mensagem que devemos compartilhar com o mundo numa época em que nos conscientizamos que estamos vivendo um período de tempo quando a última batalha entre o bem e o mal está sendo travada. Nesta batalha levamos a mensagem de Yom Kipur: tudo é possível. Com persistência podemos superar qualquer desafio ou adversário. Depositemos nossa fé e esperança em D’us porque o bem pode e irá prevalecer.

A leitura da Torá dos dez dias de arrependimento a cada ano repete esta mensagem: “Sejam fortes e bravos. Não temam ou se sintam inseguros diante deles (seus inimigos). D’us o Senhor de vocês é Aquele que está indo com vocês, e Ele não lhes faltará nem os desamparará.“ (Devarim: 31:6).

Melhores votos para um Shana Tová e Guemar Chatimá Tová, um ano com muita saúde, alegrias, sucesso material e espiritual e paz para todos!