No dia seguinte a Rosh Hashaná, ocorre o Jejum de Guedalyá, em lembrança ao assassinato do governador da Terra de Israel e à dispersão dos judeus remanescentes (no ano 3339 após a Criação).

Shabat Shuvá (entre Rosh Hashaná e Yom Kipur), quando lemos a Haftará Shuvá Yisrael (Retorna, Ó Israel), constitui-se num dos sábados mais importantes do ano. Até a chegada da véspera de Yom Kipur, o dia no qual nosso destino é selado para o ano todo.

O temor a D'us

"Afinal, tudo já foi ouvido: teme a D'us e guarda Seus mandamentos, pois este é o [dever do] homem completo".

Não é de se estranhar que o conselho acima tenha sido dado pelo maior e mais poderoso rei que já existiu: o rei Salomão. Nunca houve um rei mais glorioso e forte, que governou sobre o Reino de Israel. D'us lhe deu grande sabedoria quando, aos doze anos, herdou o trono de seu ilustre pai, o rei David. Todos os segredos da Criação lhe foram revelados. Ele compreendia a linguagem de todas as criaturas: das árvores, dos pássaros, dos insetos e dos animais. Podia dominar o vento e os espíritos; os demônios o serviam conforme a sua vontade. Sua fama espalhou-se pelo mundo. Os mais poderosos reis e chefes dos confins da Terra, vieram oferecer-lhe respeito, ouvir sua sabedoria e pagar-lhe tributos.

Poder-se-ia imaginar um ser humano mais poderoso que o rei Salomão? Normalmente, quanto mais poder e conhecimento, maior é a tendência de sermos orgulhosos e convencidos. Muitas pessoas perdem a cabeça por causa do sucesso e do poder. Frequentemente, esquecem que algum dia terão de prestar contas ao Criador e responder por seus atos perante o Supremo Rei dos reis.

Mas este não foi o caso do rei Salomão. O mais poderoso e o mais sábio de todos os homens era temente a D'us. Ele lembra-nos muito Moshê (Moisés) o mais humilde de todos os homens. Moshê tinha todos os motivos para se orgulhar: D'us o escolheu para libertar Seu povo da escravidão, para receber a Torá e ele se tornou o líder da nação e seu irmão, Aharon (Arão) o Sumo Sacerdote. Mesmo assim, Moshê foi o mais humilde de todos os homens que já viveram.

A modéstia de uma pessoa pobre e simples não impressiona; mas a humildade de Moshê é digna de reverência. Da mesma forma, não ficaríamos impressionados por uma pessoa frágil e humilde pregar a submissão a D'us. Mas é algo maravilhoso ouvir um homem como o rei Salomão dizer que todo seu poder e riqueza não lhe dizem nada e que a única coisa importante é o temor a D'us e somente a Ele.

Como podemos adquirir a grande virtude de temor a D'us? Pensando constantemente na majestade Divina e Seu poder ilimitado e, ao mesmo tempo, reconhecendo nossa insignificância e limitação de poderes.

Achamos que somos grandes arquitetos: podemos construir pontes imensas, arranha-céus altíssimos. Mas o que é isto comparado com o Arquiteto de todo o Universo? Acreditamos ser grandes engenheiros: podemos fazer uma máquina capaz de fornecer luz para toda uma cidade! Mas o que é isto perante a criação do Sol, que fornece luz, calor e energia para o mundo inteiro? Julgamos ser grandes químicos: podemos fazer coisas impressionantes em nossos laboratórios! Mas, como disse certa vez um grande cientista, uma folha de capim nunca poderá ser igualada.

Na realidade, somos ínfimos e insignificantes. Nossos poderes são limitados da mesma forma como nossa vida o é nesta terra. Somente D'us sabe tudo, pode tudo fazer e está em todos os lugares. Tudo o que possuímos é d'Ele. D'us criou todo o Universo e o homem para um determinado propósito. A finalidade é que o ser humano reconheça que D'us é o Criador e o Mestre; portanto, deve ser reverenciado. Isto significa que devemos servi-Lo, cumprindo as leis e mandamentos que Ele nos deu na Torá e fazer tudo o que for possível para sermos justos, honestos e corretos, pois D'us não aprecia iniqüidades. Ele sabe tudo o que fazemos, dizemos e até pensamos. O temor a D'us é a base da vida, é o primeiro passo para um caminho correto.

Os três pilares

A base do serviço a D'us durante estes dias se formam por meio de três pilares: Teshuvá (penitência, arrependimento, retorno), Tefilá (prece) e Tsedacá (caridade). A tradução habitual de "arrependimento, prece e caridade" não expressa, contudo, os verdadeiros conceitos judaicos de Teshuvá, Tefilá e Tsedacá.

Teshuvá é comumente interpretada como arrependimento. No entanto, a palavra exata em hebraico para arrependimento é Charatá. Charatá e Teshuvá são conceitos praticamente opostos. Charatá enfatiza a tomada de uma nova conduta, arrependendo-se por ter cometido uma ação má ou deixado de praticar uma boa ação e desejando se comportar de uma forma nova a partir deste momento.

Teshuvá significa um retorno. Um judeu é essencialmente bom e seu mais profundo desejo é praticar o bem. Porém, devido a várias circunstâncias, completa ou parcialmente fora de seu controle, ele erra. Este é o conceito judaico de Teshuvá - um retorno às raízes, ao seu mais íntimo ser.

Tefilá é geralmente traduzida como prece. No entanto, a palavra correta para prece em hebraico é bacashá. As conotações das duas palavras são contraditórias. O significado de bacashá é solicitação ou pedido e Tefilá quer dizer uma ligação. Bacashá enfatiza o pedido ao Todo Poderoso para que conceda nossas solicitações. Contudo, quando não necessitamos ou não desejamos coisa alguma, então o pedido se torna supérfluo.

Tefilá denota a ligação com D'us; e isto é importante para todos e em todas as ocasiões. Todo judeu tem uma alma ligada e presa a D'us. Entretanto, os laços que atam a alma ao Todo Poderoso podem se enfraquecer. Para corrigir esta debilidade, há durante o dia ocasiões específicas para a Tefilá, para renovar e tornar mais forte o elo com D'us. O conceito da Tefilá, o desejo de chegar mais perto de D'us, existe mesmo para aqueles que não necessitam de nada material. É o modo de fortalecer o apego e os vínculos entre os judeus e seu Criador.

Tsedacá é normalmente interpretada como caridade. Mas a palavra exata para caridade em hebraico é Chessed. Não usamos o termo Chessed e sim Tsedacá porque, novamente, os conceitos são antagônicos. Chessed ressalta a generosidade daquele que dá. Porém, aquele que recebe pode não ser necessariamente merecedor, nem o doador obrigado a dar, praticando o ato de bondade devido a sua generosidade.

Tsedacá, por sua vez, origina-se da palavra hebraica justiça, ressaltando que a justiça exige do judeu o cumprimento da caridade por dois motivos: primeiro, porque não está dando o que é seu e sim o que lhe foi confiado por D'us para dar aos outros; segundo, uma vez que todos dependem do Todo Poderoso para prover suas necessidades - embora D'us certamente não tenha obrigações para com ninguém - somos obrigados a retribuir "medida por medida" e dar aos outros, muito embora não devamos nada a eles.