Pela última vez, minhas mãos fecham a capa do seu álbum da Segunda Guerra Mundial que acabo de completar. Espero que você goste dele e veja quanto amor eu coloquei em cada página. Sei que prometi fazê-lo há muito tempo. Você enviou as legendas, as fotos e as lembranças confiando que o álbum seria completado. E ali suas fotos ficaram, durante anos. Meus filhos foram criados; meu casamento se desintegrou; minha própria carreira na Força Aérea chegou ao fim. E o álbum ainda esperando para nascer.
Então chegou a hora. Como sementes há muito enterradas brotam quando cai a chuva de inverno, acendi minhas velas de Chanucá e encantei-me com a luz que vem ao mundo quando alguns homens de bem estão dispostos a lutar pela verdade e por aquilo que é certo. Então pensei em você. De repente, tive vontade de completar o álbum o mais rápido possível. Sem me preocupar com o fato de que eu jamais tinha feito um livro de recortes como aquele que eu estava imaginando, fui comprar os materiais. Voltei para casa carregada com papéis exóticos, fitas e miudezas. Trabalhei literalmente noite e dia movida pela obsessão de completar logo este álbum.
Quero transmitir a você o quanto valorizei sua contribuição ao esforço da Segunda Guerra Mundial. Não importa se você ou outros milhões de homens aliados quiseram deixar seus lares e famílias ou se foram forçados a embarcar para terras distantes. Eles foram. Eles lutaram. Dever. Honra. Pátria. Aquilo tudo. Sim, tudo aquilo. Eu também valorizava tudo isso, e ainda valorizo.
Seu dever e seu sacrifício realmente asseguraram que eu seria criada num mundo "livre da miséria e do medo". Minha infância no pós-guerra foi um mundo de inocência e liberdade que meus próprios filhos não conhecem. Sim, você fez com que eu recebesse minha cota de Nãos (nãos demais para mim na época). E você me disciplinou o suficiente para ter certeza de que seus valores (os valores da Sociedade, de fato) seriam inculcados em mim. Eu deveria ser honesta e bondosa e respeitadora. Eu deveria amar a D'us. Eu deveria ser responsável por mim mesma e pelo meu mundo. Estudar muito. Fazer a coisa certa. Ser tolerante com os outros que são diferentes de mim, pois eles são exatamente como eu. Fui tão mimada e querida como todos da minha geração.
E se, ao crescer, os da minha geração descobriram que o mundo ainda tinha sua cota de problemas, isso não mudou o fato de que a Maior das Gerações tinha nos proporcionado um começo de vida seguro. Pelo menos esse foi o meu caso. Eu não carecia de nada. Eu temia apenas o Bicho Papão embaixo da minha cama e as enormes baratas que viviam no quintal. Cresci com a solene expectativa de que eu tinha o direito de falar o que pensava (e olhe, isso foi o que eu fiz!) e seguir minha religião da maneira que eu quisesse, sem temer censura governamental. Agradeço a você por isso, Obrigada do fundo do meu coração por você ter servido e lutado para que todas aquelas pessoas tivessem a Liberdade que a América tanto preza.
Eu mantive minha promessa, Papai, Finalmente fiz o seu álbum. E você cumpriu as promessas que me fez. Porém a promessa mais importante você fez muito antes de eu nascer. Você enfrentou as Trevas que ameaçavam o mundo inteiro, você lutou contra o Fascismo Italiano (Mussolini) e o Fascismo Alemão (Hitler e seus nazistas). Talvez você tenha sido apenas uma vela, mas combinada com um milhão de outras, você iluminou o mundo conhecido e baniu a Escuridão.
Algumas daquelas outras velas foram extintas nas batalhas da Segunda Guerra, mas você e outros da Maior das Gerações sobreviveram para espalhar sua Luz a um novo mundo. Umas poucas, como você, ainda ardem hoje. Os sussurros de fumaça vindo das Luzes deles chamam a mim e aos outros que estão ouvindo: "Lembrem-se, lembrem-se. Não deixe que tudo tenha sido em vão."
Talvez eu esteja muito emotiva, mas estes pensamentos não são apenas meras sensações, apesar do tom doentio usado por mim. A ameaça é bastante real. Hoje, a Escuridão espreita nosso mundo. O fascismo, antissemitismo, racismo, intolerância e terrorismo novamente clamam que irão nos destruir e acabar com tudo aquilo pelo qual lutamos. E temo que talvez seja preciso lutar novamente. Em breve.
Olho para Alex, seu único neto de quase dezessete anos e pergunto-me se ele terá a coragem e disposição de lutar uma outra Guerra Mundial. Dessa vez é uma guerra contra um inimigo tão ideologicamente movido que está disposto a jogar fora as regras tradicionais da guerra que protege as sociedades contra a barbárie.
Dizendo sua expressão favorita, "Legal", Alex folheia o seu álbum de guerra com o desapego e ignorância da juventude. Para ele, é apenas material dos livros de história. Ele não vê os dedos da Escuridão espreitando nas sombras de sua vida e do seu futuro.
A Escuridão não vencerá esta guerra. Preciso acreditar nisso. Tenho de acreditar que D'us criará outra geração heróica, que como você, seja forçado ou por vontade própria, lutará novamente contra o Fascismo – lutando contra as trevas, acendendo velas, uma a uma.
Obrigada mais uma vez, Papai. Obrigada pelo dever silencioso que você demonstra dia após dia. Alguém notou. Alguém está grata. Obrigada pelo seu amor, seu apoio, sua paciência, e seu propósito. Muito obrigada. O seu legado fará deste um mundo melhor e um exemplo para aqueles que tem a coragem de lutar e acender a luz.
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