Com a aproximação de Yom Kipur, Reb David de Michaelov, um dos mais ilustres chassidim do Báal Shem Tov, começava sua jornada anual ao seu mestre em Mezibush. Sua estadia com o Báal Shem Tov, que durava de Yom Kipur até o final de Sucot, dava a Reb David o sustento espiritual necessário para o ano inteiro.
Certo ano, Reb David viajou através de uma aldeia que tinha uma pequena comunidade judaica. Eles imploraram a ele que passasse Yom Kipur ali para que eles tivessem um minyan (quorum) para o dia sagrado. Reb David ficou dividido. Teria gostado de aceder ao pedido, mas como poderia deixar de lado a exaltada experiência do Yom Tov com o Báal Shem Tov? Não, ele simplesmente não poderia permanecer.
Quando Reb David finalmente chegou a Mezibush e entrou na sinagoga, sentiu imediatamente uma certa frieza por parte do Báal Shem Tov. Por mais que tentasse, Reb David não conseguiu descobrir o motivo pelo qual estava sendo ignorado.
Quando Sucot se encerrou, o Báal Shem Tov finalmente explicou-se. “Reb David,” começou ele, “você causou grandes danos ao não permanecer na aldeia para Yom Kipur. Naquele local havia uma alma que estava esperando há setenta anos pela sua chegada a fim de ser redimida. E não somente aquela alma sofreu, como também a sua, pois suas duas almas vieram da mesma fonte e raiz.”
O Báal Shem Tov explicou que a única maneira de ele reparar o dano seria passar por um período indefinido vagando sem destino.
Reb David perguntou: “Como saberei quando o período de exílio chegará ao final?”
“Você receberá um sinal, e ficará claro para você,” respondeu o Báal Shem Tov.
Reb David logo foi para a estrada. Embora fosse uma figura bem conhecida, ele passou sem ser reconhecido por cidades e aldeias. Posando como um “maguid”, um simples pregador, ele passava alguns dias em cada localidade, fazia um sermão inspirador e depois seguia em frente. Depois de dois anos, Reb David chegou à cidade de Slonim, onde faria o sermão do Shabat. No entanto, na mesma semana chegou um orador famoso e o sermão de Reb David foi adiado.
Os dois pregadores estavam alojados na mesma casa, a residência de um morador idoso da cidade. Quando o famoso pregador conheceu Reb David, perguntou: “E quem é você?” ao que Reb David respondeu: “Sou um simples orador itinerante. Eu faria meu sermão neste Shabat, mas em deferência a você, esperarei até a próxima semana.”
“Fala sério? Vamos ouvir o que você iria dizer agora mesmo!” disse condescentemente. O senhor idoso também pressionou Reb David e ele não teve como escapar. Depois que Reb David fez algumas breves observações sobre a porção semanal, o pregador fez pouco dele: “este sujeito é um ignorante!” Seguiu-se um silêncio constrangedor depois que todos se recolheram para seus quartos para passar a noite.
No dia seguinte, o anfitrião ficou horrorizado quando percebeu que todos os bens da família tinham sido furtados. A suspeita recaiu sobre Reb David, pois era um completo estranho, embora na verdade, o ladrão fosse ninguém menos que o “famoso” pregador!
Naquele Shabat, o pregador dirigiu-se à multidão com palavras de reprovação que poderiam tocar o coração do criminoso mais empedernido.
Quando terminou o Shabat, Reb David foi levado à sinagoga e acusado abertamente do roubo. Reb David nada disse para defender-se. De repente ouviu-se uma voz vinda de fora da sinagoga, dizendo: “Reb David Michaelov está aí entre vocês?” As pessoas saíram correndo para ver quem estava falando, mas não havia ninguém ali. Mais uma vez, foi exigido de Reb David que confessasse sua culpa. Mais uma vez, ouviu-se uma voz: “Reb David está aí?” E novamente, não havia ninguém lá fora. Finalmente, a voz gritou: “Reb David, por que não responde aos seus acusadores?”
Reb David lembrou-se das palavras do Báal Shem Tov, e ele soube que sua penitência tinha sido aceita. Então Reb David explicou comovido à assembleia os eventos dos últimos anos.
Começou com a história de como tinha cometido o erro de passar Yom Kipur com seu Rebe em vez de ficar na pequena comunidade judaica. Continuou com um inspirador apelo para que aproveitassem toda oportunidade de cumprir uma mitsvá. Descreveu como os últimos dois anos tinham servido como uma limpeza espiritual e tinham reparado o dano causado à sua alma e aos aldeões.
Logo, o verdadeiro ladrão confessou o roubo. A comunidade inteira suplicou o perdão de Reb David por tê-lo acusado injustamente e ele de bom grado os perdoou.
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