Caro Rabino,
Eu sinto que comecei a me tornar neurótico sobre minha observância religiosa.
Continuo me preocupando se estou fazendo coisas 100% corretamente. Pronunciei a benção certa? Lavei minhas mãos como deveria antes da refeição? Estou com medo de me tornar compulsivo. Por outro lado, quero levar a sério a lei judaica.
Posso cumprir as mitsvot detalhadamente sem enlouquecer?
Resposta:
Ser cuidadoso em cumprir a lei judaica é algo muito bom. Quando se trata de colocar em prática a vontade divina, cada detalhe é importante. Mas há um limite. Aprendi isso quando estava estudando para tornar-me rabino. Tive uma experiência marcante que mudou para sempre minha visão de D’us e Suas leis.
Eu estava estudando em Israel em uma escola rabínica com várias centenas de outros alunos. Certa manhã, logo após as orações, um dos meus amigos veio me falar com um ar preocupado em seu rosto. "Eu acho que o seu Tefillin não está casher ", ele me disse. (Tefillin são filactérios. Não sei o que são filactérios, mas o tefillin são duas caixas negras, com rolos de pergaminhos contendo passagens da Torá que usamos em nossa cabeça e ante braço durante a reza). Perguntei-lhe o que ele queria dizer , E ele respondeu que meu tefilin da cabeça não parecia perfeitamente quadrado. Parecia que um dos cantos não tinha um ângulo correto e exato.
Isso era grave. As caixas de couro do tefilin, feitas à mão, devem ser quadradas. Se elas não forem quadradas, então não são tefilin. Não são nem mesmo filactérios. Se o meu amigo estivesse correto, se meu Tefillin estivesse fora do padrão, então eu não estava colocando um tefilin casher por anos, todos os dias, o que equivaleria a não tê-lo colocado durante todo esse tempo.
Eu sabia o que eu precisava fazer. Eu precisava mandar examinar o meu tefilin da cabeça. Eu corri imediatamente para um especialista em lei judaica. Ele era um rabino famoso e experiente por seus julgamentos claros e decisivos na lei judaica. Levei-lhe o meu Tefillin e perguntei se ele poderia checar. Eu mostrei a caixa de couro preto, apontando o canto imperfeito e aguardando nervosamente seu veredito.
O rabino examinou o tefilin, olhou-me com seus olhos amáveis e sábios, e sorriu. Ele respondeu-me com uma frase, uma citação do Talmud: “Os mandamentos de D’us não foram dados a anjos.”
Imediatamente entendi o que ele queria dizer. Meu tefilin estava bem. Quando a Torá diz para fazer seu tefilin quadrado, isso significa torná-los tão quadrados quanto mãos humanas são capazes de fazer. Não somos anjos que podem fazer ângulos perfeitos. Somos humanos que só podemos fazer o nosso melhor. E é exatamente isso que D’us exige de nós.
Se D’us desejasse perfeição, Ele não nos teria criado como humanos falíveis. Então obviamente isso não é o que Ele quer. Ele nos quer humanos, com todas as nossas imperfeições, para fazer todos os esforços dentro de nossos meios para cumprir nosso propósito divino.
Isso significa que nossos quadrados não serão quadrados absolutamente perfeitos, e nossos ângulos não estarão exatamente corretos. Ou seja, embora possamos nos esforçar para cumprir todos os mandamentos com a maior atenção aos seus detalhes, todos nós estamos sujeitos a falhas, todos nós às vezes erramos. Mas está tudo bem. Não somos anjos. D’us não se espera que sejamos. Devemos fazer tudo o que pudermos para seguir as diretivas divinas, sem no entanto nos tornarmos obsessivos.
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