Pergunta:

Pensei em você na semana passada enquanto assistia ao filme “Um Violinista no Telhado”. A barba e o casaco preto de Tevye me lembraram você. Tenho de dizer, aquilo me fez sentir que judeus religiosos são como antiguidades ambulantes, fora de sintonia com a moderna realidade. Se o Judaísmo de Tevye é algo do passado, você não acha que está na hora de ter uma versão atualizada?

Resposta:

Imagine se daqui a duzentos anos, seus tetra-tetra-netos estão pesquisando como era a vida no início do Século 21. Olhando nos arquivos da família, eles com empolgação descobrem uma relíquia daquela era – um antigo episódio dos Simpsons. Assistem com entusiasmo, confiantes de que aprenderão como era uma família típica no início do Século 21.

O que você acha? Eles terão um quadro acurado sobre você, baseados nos Simpsons?

Claro que não. Os Simpsons são uma sátira, não um documentário. É comédia, não história. Nós que vivemos hoje podemos apreciar seu humor, seus personagens exagerados com papéis invertidos, suas crianças sabem-tudo e os adultos desajeitadamente idiotas. Porém daqui a um ou dois séculos, a vida terá mudado e o humor terá mudado; a ironia pode ser perdida nas futuras gerações que assistirem aos Simpsons. Talvez eles o levem a sério, como uma narrativa histórica da vida familiar de seu tempo. Isso obviamente seria ridículo – uma comédia terá se transformado em história, e piadas terão se tornado fatos.

Mas é exatamente isso que aconteceu com o Violinista no Telhado. Este musical é baseado numa série de histórias curtas chamadas Tevye o Leiteiro, escritas pelo humorista yidish do Século 19, Sholem Aleichem. Ele próprio um secularista, Sholem Aleichem estava ridicularizando aquilo que ele via como tradições antigas e ultrapassadas do Judaísmo. Ele pinta a vida judaica como um museu empoeirado de rituais arcaicos e tradições teimosas sem sentido. Tevye é apresentado como um homem sincero mas sem cultura, teimoso em suas opiniões e cego em sua fé, cujos valores e crenças não podem competir no mundo moderno.

O Violinista no Telhado é gracioso e divertido. Porém é uma sátira, não história. O leiteiro Tevye não é uma representação de um judeu observante típico, assim como Homer Simpson não é um pai moderno típico. Porém para muitas pessoas hoje, judeus ou não, o Violinista é sua única ideia sobre judeus observantes, e aceitam-no como um quadro acurado da vida religiosa judaica.

A verdade é muito diferente que a caricatura apresentada no Violinista. O Judaísmo tem sobrevivido por causa de sua habilidade em falar a cada geração em sua própria linguagem, de apresentar respostas poderosas às perguntas enfrentadas em cada nova era, e de se reinventar em todo tempo e lugar sem perder seu conteúdo original.

O que Sholem Aleichem jamais teria sonhado é que embora sua cultura secular yidish tenha desaparecido, as tradições do Judaísmo estão vivas e fortes. Mais e mais judeus hoje estão reconhecendo que a sabedoria antiga e as práticas espirituais do Judaísmo são mais relevantes agora do que nunca.

Somos judeus atualmente porque nossos tetra-avós tinham a fé inabalável de Tevye. Nossos tetranetos serão judeus se tivermos a sabedoria de comunicar aquela fé a nós mesmos e aos nossos filhos numa voz moderna e dinâmica.

Os Simpsons um dia serão relegados à história, mas nossa tradição viverá para sempre.