O Seder de Pêssach é uma oportunidade que nos dá o poder de acessar a liberdade em nossa vida pessoal e coletiva. Consiste de um programa intenso de quinze passos, um projeto para a libertação psicológica, emocional e espiritual. Eis aqui uma breve descrição de cada um dos quinze passos. Que a sua jornada seja significativa, corajosa e transformadora.

Cadêsh – recitar o Kidush, designando o tempo como sagrado: Designe um espaço em sua psique que seja sagrado, puro, incente, curioso e infantil. Sem este passo, há estática demais em sua vida para realmente ouvir, ter introspecção e crescimento.

Urcháts – lavar as mãos: Limpa suas mãos do envolvimento com impurezas. Purifica sua vida de mentiras, enganos, traição, relacionamentos imorais, vícios destrutivos, etc. Nenhuma liberação é possível sem este passo.

Carpás – Comer um vegetal mergulhado em água salgada: O vegetal que cresce no solo, sobre o qual recitamos uma bênção “Ele criou fruto a partir do chão,” simboliza o corpo, criado da terra.

Yachats – Quebrar a matsá do meio: humildade, vulnerabilidade é a mensagem dessa etapa. Você deve ter pessoas em sua vida com as quais você é completamente franco, sincero e vulnerável. A falsa sensação de “Eu sou completo” é o maior obstáculo para a genuína libertação.

Maguid – recitar a Hagadá: Conte a história; ensine a história. Estude, aprenda, aprenda um pouco mais. Isso expande seus horizontes, desafia o seu ego, e leva você a um local mais profuundo dentro de si mesmo. Não deixe passar um dia sem dedicar um tempo ao estudo.

Rochtsá – lavar as mãos: Lave novamente suas mãos. A arrogância que pode vir depois do estudo é perigosa. Esta é a pomposidade “religiosa e erudita” do “eu sei tudo” e “eu sou mais sagrado que você”. Continue humilde, verdadeiro e autêntico.

Motsi – Recitar a bênção HaMotsi, “Ele extraiu pão da terra”: Extraia. Agora você está na posição de extrair as oportunidades, as “centelhas” em tudo com que você entra em contato ou tudo dentro de você. O Judaísmo não defende abominar o mundo nem o ascetismo, mas utilizarmos todos os nossos dons e extrair as possibilidades produtivas e importantes inerentes neles.

Matsá – Recitar a bênção sobre a matsá e comê-la: O Talmud descreve a matsá como o “pão da pobreza”. Extraia as possibilidades em sua vida, mas mantenha a perspectiva e o equilíbrio. Não viva como um narcisista glutão, que sente que deve manter o estilo de vida mais luxuoso. Mesmo que você seja abençoado com riqueza, valorize a simplicidade, o refinamento e o recato. Se você não é rico, não se sinta pressionado a imitar seus amigos e vizinhos. Faça as coisas de acordo com a sua capacidade. Permita que a sua dignidade brilhe de dentro para fora. As pessoas gostarão muito mais de você assim.

Maror – comer as ervas amargas: Empatia. Agora você pode começar a descobrir o maior presente da vida: estar aqui para outro ser humano. Pode olhar alguém nos olhos e dizer: “Estou aqui para você,” e realmente querer dizer isso e cumprir.

Corêch – comer um sanduíche de matsá e maror (nos tempos antigos juntamente com o cordeiro de Pêssach): A vida é uma montanha russa de Pêssach, matsá e maror (o cordeiro de Pêssach, o pão ázimo e as ervas amargas) – momentos ricos, momentos suavez e momentos amargos. A libertação vem quando descobrimos a arte de ensanduichar todos os componentes de nossa vida num único mosaico. A vida é uma jornada que abrange todas as três dimensões. Como o surfista profissional, navegue pelas ondas.

Shulchan Orêch – arrumar a mesa, fazer a refeição festiva: Desenvolva um bom senso de hospitalidade com convidados e ajudando outras pessoas.
Não analise os convidados quando eles deixarem a sua casa. Lembre-se: seus filhos não desejarão ter convidados em seus lares se perceberem o quanto você mostra-se pouco feliz ao receber convidados.

Tsafun – comer o aficoman escondido: A essa altura do Seder, comemos e apreciamos o aficoman escondido. A este ponto em sua vida, há um “negócio escondido” que ainda pode emergir. Como as camadas de uma cebola, quando você descasca uma camada, surge outra. Não fique assustado ou deprimido; pelo contrário, agora que você conquistou tanto, novos esqueletos ocultos podem aparecer, pois você agora é capaz de lidar com eles. Aprecie o desafio. E além do mais, isso lembra a você que ainda precisa de D’us.

Berach – recitando graças: Agora você pode começar a abençoar D’us por todo momento, encontro e experiência em sua vida.

Halel – recitar Salmos de louvor: Agora, você começa a expressar louvor por todo momento. Nada é aceito como garantido. Toda respiração que você  dá e cada movimento que faz é uma oportunidade para louvar e agradecer.

Nirtsá – Nosso serviço é agradar a D’us: Mas na verdade, alguém se importa? No quadro geral, não somos menores que partículas de poeira? Por que se incomodar?
A resposta: Nirtsá. O desejo de D’us ao criar o mundo foi para construírmos um relacionamento íntimo e pessoal com Ele, e transformarmos nossa alma animalesca e nosso mundo numa morada para o Divino. Sim, você pode fazer muitas perguntas, mas ao final do dia, é isso que seu Criador deseja. “No próximo ano em Jerusalém!*


Este artigo é baseado na Hagadá da Chida e em vários escritos de Mussar e Chassidismo. Meus agradecimentos ao meu irmão Rabino Simon Jacobson por seus “Quinze Passos”.