Ótima pergunta! De fato, em um nível básico, é exatamente por isso que mergulhamos – para que você faça a pergunta “porquê?”
Quando a Torá nos instrui a relatar a história do Êxodo do Egito no seder, ela expressa o mandamento como se fosse uma conversa hipotética entre pai e filho: “Se o teu filho lhe perguntar no futuro… Você deverá dizer ao seu filho… ‘Fomos escravo do faraó no Egito, e o Senhor nos tirou do Egito com mão forte.’” 1 Os sábios assim compreenderam que o relato da história do Êxodo pretende estar em um formato de perguntas e respostas (e mesmo que não tenha nenhuma criança para indagar as perguntas, você mesmo as faz).
Os sábios, portanto, instituiram uma série de rituais durante o seder com o único propósito de despertar a curiosidade das crianças e suscitar perguntas. 2 Um desses rituais é a imersão do carpás. Pegamos um vegetal que normalmente só seria comido como parte de uma refeição, mergulhamos e o ingerimos antes da refeição - assim, levando a criança a perguntar por que estamos fazendo as coisas de forma diferente nessa noite.
O costume comum é mergulhar o vegetal em água salgada simbolizando as lágrimas que os judeus derramaram durante sua escravidão. Ao mergulhar o vegetal, também obtemos uma pergunta extra de Pêssach - "Por que estamos lavando as mãos antes de comer os carpás?"
Lavar as mãos antes de comer vegetais molhados
Estamos acostumados a lavar as mãos somente antes de comer pão, então este passo do seder, Urchatz, parece incomum. No entanto, pode ser surpreendente saber que este ritual não se limita ao seder - de acordo com o Talmud, "qualquer alimento que é mergulhado em um líquido requer a lavagem das mãos antes de ser ingerido".." 3
Os comentaristas explicam que mesmo aqueles que não estão habituados a lavar as mãos para comer alimentos molhados durante o ano todo, fazem isso na noite do seder por algumas razões a) esse mergulho é mais significativo, uma vez que faz parte do seder e portanto é tratado com mais rigor e respeito 4 e b) essa noite é toda sobre despertar perguntas e, portanto, o próprio fato de está fazendo algo diferente resultará em uma pergunta adicional. 5
Tecnicamente, você só precisa lavar se irá ingerir um alimento molhado com as mãos, então o ideal é comer seu carpás com as mãos, assim, justificando a lavagem que precede essa etapa do seder. 6 No entanto, se por qualquer motivo você usar um garfo, você ainda deve lavar as mãos. 7
O nome carpás
O Talmud não especifica qual vegetal deve ser mergulhado, e de fato qualquer vegetal pode ser usado, além daqueles que podem ser usados para o maror. No entanto, muitos têm o costume de usar um determinado vegetal pelo nome de carpás, uma vez que a palavra carpás (כרפס), quando invertida, pode ser lida como ס 'פרך. A letra samach tem o valor numérico de 60, e perach significa "trabalho duro", assim a palavra carpás alude às sessenta miríades de judeus (600.000) que foram escravizados com o trabalho pesado. 8
Mas qual vegetal é identificado como carpás? Alguns dizem que é de um verde frondoso, como salsa ou aipo. No entanto, muitos têm o costume de usar vegetais de raiz, como batatas, rabanetes e cebolas. O costume Chabad é usar cebolas ou batatas.
Sem bênção posterior
Quando recitamos a bênção de hadamá sobre o carpás, devemos ter em mente que a ela serve também para o maror. Não fazemos uma bênção posterior, mesmo se ingerirmos uma quantidade maior que normalmente exigiria uma prece após comê-lo. 9
O paradoxo místico da imersão
Numa nota mística, mergulhar um alimento é um ato de negação – parte do gosto do próprio alimento é anulado a fim de absorver o sabor do mergulho. Na verdade, a palavra hebraica para mergulhar, טיבול, é um anagrama para a palavra ביטול, anulação ou negação. Por outro lado, o fato de mergulhar alimentos demonstra ser um conhecedor de que falta algo na comida e sabe o que adicionar para obter o sabor correto.
No entanto, a imersão na noite do seder é "diferente de todas as outras noites". Pois nesta noite, até mesmo nosso ato de mergulhar é um sinal de negação e humildade. Ao celebrarmos nossa liberdade, ao mesmo tempo estamos comemorando nosso nascimento como uma nação a serviço de D'us. Ao festejar o êxodo de um exílio, também rezamos pelo nosso próprio êxodo. 10
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