Chacham Yosef Chaim (1832-1909), conhecido como o Ben Ish Chai, foi um erudito de Torá e mestre da Cabalá, altamente reverenciado. Baseado em Bagdá, ele era reconhecido pela comunidade sefaradita tanto localmente quanto internacionalmente como uma importante autoridade haláchica.

Juventude

Yosef Chaim nasceu em 27 de Av de 1832, numa longa cadeia de figuras rabínicas famosas pela sua influência espiritual na comunidade judaica de Bagdá no decorrer dos séculos. Seu pai, Eliyahu Chaim, filho de Moshê Chaim, era rabino chefe e líder da comunidade judaica de Bagdá.

Quando tinha sete anos, Yosef Chaim caiu num profundo fosso no quintal de sua casa, enquanto brincava com a irmã. Foi salvo por um milagre, e em gratidão a D'us resolveu dedicar a vida ao estudo de Torá. Quando menino, passava muitas horas absorvendo Torá nos livros da extensa biblioteca do pai. Frequentou Beit Zilka, o seminário judaico de Bagdá, dirigido por Rabi Abdalah Someich.

Quando Yosef Chaim tinha catorze anos, chegou para seu pai uma pergunta vinda de Rabi Chaim Palag’i, o rabino chefe da Turquia. Seu pai estava muito ocupado e não pôde responder por vários dias, portanto o jovem Yosef Chaim respondeu a questão no lugar do pai. O rabino turco ficou tão impressionado com a resposta do garoto que previu que ele seria um grande sábio. Numa carta ao pai de Yosef Chaim, ele disse: “Seu filho, tão caro à sua alma, precedeu você e decidiu este caso. Que o pai possa alegrar-se por ele…”

Numa sala especial reservada ao estudo, Yosef Chaim continuou a esforçar-se rumo à perfeição espiritual, estudando Torá dia e noite. À meia-noite ele se levantava para recitar o Tikun Chatzot, lamentando a destruição do Templo Sagrado, e ao nascer do sol ele recitava as preces matinais. Durante seis anos consecutivos, ele jejuou durante o dia e comia somente à noite, para enfraquecer os anseios físicos que poderiam interferir com seu serviço Divino. Construiu um micvê, um banho ritual, em sua casa, para que pudesse purificar-se a qualquer hora.

Aos dezoito anos, casou-se com Rachel, filha de Rabi Yehudah Someich, parente de seu professor. Juntos, tiveram um casal de filhos. Yosef Chaim era conhecido pela atenção que dedicava aos filhos, ensinando-lhes Torá e conversando com eles, apesar de seu trabalho exigente. Sempre inventava adivinhações e quebra-cabeças para entretê-los, e alguns estão registrados em seu livro Imrei Biná.

Líder da Comunidade de Bagdá

Quando Yosef tinha vinte e cinco anos, seu pai faleceu, e ele tornou-se o líder não-oficial da comunidade de Bagdá. O título Chacham – “o sábio”, tradicional título sefaradita dedicado aos rabinos – foi agregado ao seu nome. Apesar da pouca idade, ele era muito respeitado, e um dos seus discípulos, Rabi Dovi Chai HaCohen, dizia que se Rabi Yosef Chaim tivesse vivido na época do Templo, este jamais teria sido destruído. Pois ao contrário daquele tempo, quando os judeus tinham desrespeitado as advertências dos profetas, a comunidade de Bagdá inteira obedecia carinhosamente cada palavra pronunciada por Rabi Yosef Chaim.

Durante sua vida, com a sua influência, todos os judeus de Bagdá observavam o Shabat e a Lei da Torá. Chacham Yosef Chaim recusava um salário pelo seu serviço público. Em vez disso, sustentava a família trabalhando em sociedade com o irmão. Ele pessoalmente fundou a editora de seus livros, recusando patrocínio ou caridade, e qualquer renda proveniente desses livros era distribuída aos pobres. Ele também era famoso por doar seus livros a eruditos de Torá.

Ele tentou aproximar as comunidades sefaraditas e askenazitas, que com frequência seguiam práticas bastante diferentes, usando como referência seus contemporâneos de outros países, e refletindo sobre suas abordagens em suas próprias obras. Ele sentia fortemente que os eruditos de Torá precisavam demonstrar reconhecimento mútuo uns pelos outros, mesmo quando discordavam, para que seus nomes não fossem esquecidos com a passagem do tempo.

Embora suas decisões legais tivessem mais peso entre a população sefaradita, os judeus askenazitas reconheciam seu gênio, tinham grande respeito por ele, e sempre citavam suas leis.

Durante cinquenta anos, desde sua nomeação até sua morte, ele palestrava uma hora diariamente sobre Lei da Torá e Agadah (material histórico) na Tsallat L’ziri, “a pequena sinagoga”. Quatro vezes ao ano, ele discursava na Grande Sinagoga de Bagdá, construída com terra vinda de Israel.

Chacham Yosef Chaim entendia que a lei rigorosa da Torá não atrairia muitos, portanto a maior parte de seus discursos era associada a Cabalá e Agadah. Ele ajudava seus seguidores a fazer associações entre a doutrina bíblica e a lei, para que seus corações fossem atraídos para a sabedoria da Torá, e eles se lembrassem dela.

Sua obra mais importante, o Ben Ish Chai, é baseada nas aulas de três horas que apresentava todo Shabat. Ele começava cada palestra com uma interpretação cabalística em linguagem simples, da porção da Torá da semana, e então apresentava uma seleção de leis práticas relacionadas. Duas figuras importantes orientavam seu trabalho: Rabi Shimon bar Yochai, autor do Zohar, e Rabi Isaac Luria, o Arizal. Sua abordagem era baseada na preservação das tradições locais, até em leis haláchicas. Ele não recomendava uma mudança na tradição local a menos que houvesse uma forte razão para fazê-lo. Suas regras eram prova de sua abordagem inovadora, que dava crédito à tradição local, e da mesma forma à leis askenazitas e sefaraditas.

O Ben Ish Chai tornou-se o livro referência padrão paraa a lei de Torá entre os sefaraditas. Atraía uma grande plateia, eruditos e pessoas comuns, incluindo mulheres, que geralmente não recebiam educação religiosa. Devido à grande popularidade da obra, Chacham Yosef Chaim chegou a ser chamado pelo nome de seu livro. Muitas histórias atestam a sua grandeza. Em certa ocasião, um erudito de Bagdá visitou um grande rabino em Jerusalém, Rabi Yaakov Shaulk Elishar, para pedir suas bênçãos. O idoso sábio respondeu: “Por que veio a mim? Você tem Chacham Yosef Chaim em Bagdá. Não há ninguém como ele no mundo.”

Chacham Yosef Chaim amava profundamente a Terra de Israel. Ele patrocinava o assentamento judeu imprimindo todos os seus livros ali, e no decorrer de sua vida, deu dinheiro aos mensageiros de Israel que iam coletar para os pobres.

Em 1869, ele viajou a Israel onde visitou os túmulos de numerosas figuras sagradas em Jerusalém e Hebron, e conheceu importantes cabalistas. Embora tenha recebido a oferta de um cargo rabínico ali, ele decidiu retornar ao Iraque. Levou consigo uma grande pedra para ser colocada na entrada da sinagoga onde fazia palestras.

Dias antes da sua morte, em 8 de Elul, Chacham Yosef Chaim foi numa peregrinação ao túmulo do Profeta Ezekiel, e logo depois ficou doente. Em 13 de Elul de 1909, ele faleceu e foi enterrado naquela mesma noite. Foi profundamente pranteado, e ao seu funeral compareceram mais de dez mil pessoas – tanto judeus como não-judeus. Anos após sua morte, os judeus ainda costumam visitar seu túmulo toda sexta-feira.

Legado

Apesar de seu falecimento há mais de 100 anos, seu legado está bastante vivo nos corações daqueles que continuam a viver pela sua obra principal, o Ben Ish Chai. Muitos dos seus discípulos se tornaram grandes eruditos de Torá que continuaram a divulgar seus ensinamentos.

A extensa obra de Chacham Yosef Chaim abrange todos os aspectos do Judaísmo: Lei da Torá, Cabalá, P&R, sermões, parábolas, provérbios, preces, liturgias e poesia para o Shabat e festas. Sua obra reflete simultaneamente um vasto conhecimento de ciências, medicina, astronomia, física e economia. Sua abordagem à Torá, embora rigorosa, está imbuída com amor pela sua prática, e seus seguidores, cujo número continua a crescer mesmo atualmente; respeitam seu apego à lei da Torá e a inspiração que ele trouxe a ela.

Muitas escolas, especialmente em Israel, foram construídas em seu nome. Milhares continuam a banhar-se na sabedoria de Chacham Yosef Chaim, estudando seus livros, e mais importante, vivendo segundo eles.