2 de julho, 2016
Escritor, ativista, ganhador do Prêmio Nobel da Paz faleceu aos 87 anos
Elie Wiesel, quem perpetuou a memória do Holocausto, reconhecido internacionalmente por ter combatido o mal e a intolerância em todas as suas formas, e recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1986, faleceu em sua casa em Manhatan aos 87 anos.
“Wiesel é um mensageiro para a humanidade”, escreveu o comitê Nobel. “Sua mensagem é de paz, expiação e dignidade humana. Sua crença de que o combate às forças do mal no mundo podem ser vitoriosas é uma crença duramente conquistada.”
Elie Wiesel nasceu em 1928 filho de Shlomo e Sarah Wiesel em Sighet, Romênia, onde recebeu uma educação em uma yeshivá tradicional. Seu avô materno, Dodye Feig, era um membro do ramo chassídico Vishnitz e teve uma forte influência sobre o desenvolvimento de seus valores que o levaria a conquistar o Prêmio Nobel.
Em 1940 a Hungria anexou Sighet e seus residentes judeus foram forçados a habitar em dois guetos onde viveram em extrema pobreza até maio de 1944, quando os nazistas, em um acordo com a Hungria, transferiu a comunidade inteira para Auschwitz.
Wiesel foi levado para o trabalho no campo em Buna Werke, antes de ser transferido perto do final da guerra para uma série de outros campos de concentração, incluindo Buchenwald. Seu livro “Noite”, publicado em 1960, detalha a vida angustiante de um adolescente de 15 anos em um campo de concentração nazista.
Wiesel estudou em Sorbonne após a guerra e começou a trabalhar como jornalista, traduzindo artigos em hebraico para o yidish para a milícia de Irgun. Visitou Israel em 1949 como correspondente do jornal francês L’arche, e mais tarde contratado pelo diário Yedioth Ahronoth como seu correspondente em Paris. Também trabalhou como escritor freelancer cobrindo o julgamento do criminoso de guerra o nazista Adolf Eichmann. Durante os próximos anos dedicou-se a escrever romances, artigos e palestras para manter a memória do Holocausto e suas atrocidades vivas na consciência do mundo.
Por meio de seu trabalho como repórter e colunista ele encontrou um colega jornalista, Gershon Jacobson, que sugeriu a ele que se encontrasse com o Lubavitcher Rebe, Rabino Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória. “Mas eu sou um chassid Vishnitzer”, Wiesel brincou com Jacobson, que sugeriu que visitasse o Rebe “como jornalista, não como um Vishnitzer”. Wiesel concordou e visitou o Rebe na primeira de uma série de audiências particulares que mantiveram ao longo dos anos.
O primeiro encontro, o qual Wiesel chamou de “transformador’, durou até as primeiras horas da manhã, e nele discutiram os primeiros trabalhos de Wiesel nos quais ele apontava sua “ira contra D’us” .
Desde o primeiro encontro no início da década de 60, Wiesel formou uma profunda relação com o Rebe, a quem ele considerou ser seu guia espiritual mantendo uma correspondência constante sobre questões analisadas em profundidade sobre D’us, a vida após o Holocausto, questões de fé pessoal, bem como questões familiares.
Wiesel frequentemente citava a inspiração que recebia do Rebe para suas palestras em todo o mundo.
Na conclusão de uma longa carta sobre como ajudar pessoas que passam por sofrimento e perda, o Rebe concluiu: “Uma carta tão longa? Se, no entanto, com boa sorte você se casar após a Festa de Shavuot, segundo a tradição de Moshê e Israel, essa carta longa, bem como o tempo que você passou lendo, terão valido a pena.”
Subsequentemente, Wiesel se casou, e atribuiu essa decisão, em parte, ao incentivo do Rebe. Como relatou em uma reunião, o Rebe ficou encantado com a notícia: “O maior buquê de flores que já recebi foi o do Rebe para o meu casamento,” escreveu Wiesel. “Ele estava [sempre] incentivando-me a casar. Tenho cartas – uma delas na qual falamos sobre teologia judaica – sete, oito páginas sobre teologia. Ao final [da carta] ele disse: ‘E por falar nisso, quando você vai se casar?’ Como se as duas coisas tivessem algo em comum.”
Enfrentando o Mal com a Fé
Em uma carta a Wiesel escrita em 1965 o Rebe declarou que apenas um verdadeiro crente poderia sinceramente confrontar D'us com a pergunta ‘O Juiz de Toda a Terra Não Fará Justiça?’ O desafio para a humanidade, concluiu o Rebe, é não apenas relembrar o Holocausto, mas trabalhar ativamente contra a “solução final” de Hitler.
Em 1992 Wiesel falou num jantar congressional em Washington por ocasião do 90º aniversário do Rebe. “Espero que eu vá sempre me lembrar do que senti quando entrei pela primeira vez em seu escritório, há cerca de trinta anos, e aquilo que dissemos um ao outro,” relembrou Wiesel. “O tempo na presença dele começa a correr num passo diferente. Você se sente inspirado, auto-examinado, e fica se perguntando sobre a busca por significado que deveria ser o seu. Na presença dele nada é superficial, nem artificial. Na presença dele você faz um contato mais próximo com seu centro de gravidade interior.”
“Graças ao Rebe,” Wiesel continuou, “um judeu se torna um judeu melhor, portanto um ser humano melhor, dessa maneira tornando seus irmãos, os seres humanos, mais humanos, mais hospitaleiros, abertos a um senso de generosidade maior.”
Mais tarde, Wiesel falou na cerimônia de premiação da Medalha de Ouro Congressional do Rebe. Embora ele tenha dito certa vez que jamais voltaria ao seu lar anterior, ele retornou em 2009 para ajudar a homenagear o 20º aniversário das atividades Chabad-Lubavitch na Hungria.
Homenagem feita pelos líderes mundiais
A reação à notícia sobre o falecimento de Wiesel foi rápida. Nos Estados Unidos, o Presidente Barack Obama lembrou Wiesel como “uma das maiores vozes morais de seu tempo, e em muitas maneiras, a consciência do mundo.”
“Como milhões de admiradores,” continuou Obama, “conheci Elie pela primeira vez através da sua narrativa do horror do Holocausto simplesmente porque ele era judeu,” disse ele. “Mas também fiquei honrado e profundamente humilde ao chamá-lo de um amigo querido. Sou especialmente grato por todos os momentos que partilhamos e nossas conversas, que iam desde o significado da amizade até nosso compromisso compartilhado com o Estado de Israel.”
A devoção de Wiesel ao Judaísmo ficava evidente em suas obras escritas e conduta pessoal no decorrer de sua vida, bem como seu forte apoio a Israel, especialmente nos anos mais recentes.
“Mais do que qualquer outro, Wiesel não permitiu que as lembranças do Holocausto se dissipassem,” disse rabi Yehuda Krinsky, diretor de Merkos L’Inyonei Chinuch, o ramo educacional de Chabad-Lubavitch, e um amigo pessoal há longa data. “Ele defendeu corajosamente a honra e a lembrança das vítimas do Holocausto mesmo quando teve de confrontar o Presidente Reagan sobre sua visita ao cemitério Bitburg em 1985,” lembra Rabi Krinsky. “Sua eterna determinação de manter viva a memória de seu povo, e despertar a conscientização da humanidade sobre a capacidade e indiferença para o mal, são um raro legado.”
O Primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu elogiou Wiesel como “um farol de luz” na “escuridão” do Holocausto e disse que o Estado de Israel e os judeus no mundo inteiro estavam “derramando lágrimas amargas” pelo seu falecimento.
“O Estado de Israel e o Povo Judeu lamentam o falecimento de Elie Wiesel.Através de seus livros inesquecíveis, comoventes palavras e exemplo pessoal,Elie personificava o triunfo do espírito humano sobre o mais inimaginável dos males. Das trevas do Holocausto, Elie se tornou um farol de luz, iluminando a verdade e a dignidade foi um exemplo de humanidade que acredita no bem inerente no homem.
“Sua vida e trabalho foram uma grande bênção para o Povo Judeu, o Estado Judeu e toda a Humanidade. Sinto-me afortunado por tê-lo conhecido e ter aprendido de sua prodigiosa sabedoria. Em nome de todo o povo de Israel, enviamos condolências à toda a família Wiesel.Que a memória de Elie Wiesel, um elevado espírito que nos ensinou a lembrar, seja para sempre abençoado”.
O Presidente de Israel, Reuven Rivlin disse que Wiesel foi “um herói do povo judeu, e um gigante de toda a humanidade.” Rivlin chamou-o como “um dos mais notáveis filhos do povo judeu, que tocou os corações de tantos, e nos ajudou a crer no perdão, na vida, e no eterno vínculo do povo judeu.
“Sua vida foi dedicada à luta contra todo e qualquer ódio e pelo bem do homem criado à imagem de D’us. Ele era um guia para todos nós. Um dos maiores filhos do Povo Judeu, que tocou os corações de tantos e ajudou-nos a acreditar no perdão, na vida e no vínculo eterno do Povo Judeu. Que sua memória seja uma bênção eternamente gravada no coração da nação”.
Wiesel deixou sua esposa, Marion, o filho Shlomo Elisha Wiesel, sua nora Jennifer e dois netos.
Shimon Peres, o nono Presidente de Israel lamentou a perda de Wiesel: “Hoje, o Povo Judeu e o mundo perderam um indivíduo maior do que a vida: o sobrevivente do Holocausto,escritor e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel.
Wiesel deixou sua marca na Humanidade através da perseverança, da defesa do legado do Holocausto e do envio de uma mensagem de paz e respeito entre as pessoas por todo o mundo. Ele suportou as mais graves atrocidades da humanidade. Sobreviveu e dedicou sua vida a transmitir a mensagem de ‘Nunca Mais’.
“Tive a honra e o privilégio de agradecê-lo pessoalmente por seus numerosos anos de trabalho e por salvar o mundo da apatia quando dei a ele a Medalha Presidencial em nome do Estado de Israel. Que sua memória seja uma bênção para todos nós”.
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