Aquilo que D'us ordena, o homem deve aceitar – exceto quando Ele nos diz que está limitando Seu envolvimento em nossas vidas

Pensamentos para Pêssach Sheni, 14 de Iyar, no próximo domingo

Havia pessoas que estavam ritualmente impuras… e não podiam levar a oferenda de Pêssach naquele dia. E elas aproximaram-se de Moshê… “Por que devemos ser privados, e não podemos levar a oferenda a D'us…?” E D'us falou a Moshê, dizendo:

“… Um homem entre vós, e nas futuras gerações, que estará impuro através do contato com os mortos, ou numa estrada distante da vossa, deverá observar um Pêssach para D'us no décimo quarto dia do segundo mês…” Bamidbar 9:1-11

Nossos Sábios afirmam que os versículos acima aparecem na Torá fora do contexto cronológico. Descrevem um evento que ocorreu no mês de Nissan no ano 2449 após a Criação (1312 AEC), porém na Torá eles vêm após uma descrição do censo feito um mês depois, em Iyar daquele ano.1

Por que, na verdade, a Torá não relata estes eventos na ordem em que ocorreram? Porque, dizem nossos Sábios, não deseja começar o Livro de Bamidbar com algo que é “uma desgraça para Israel, pois nos quarenta anos em que o povo judeu esteve no deserto, essa foi a única oferenda de Pêssach que eles levaram.”2

Mas por que isso deveria ser considerado uma “desgraça”? O motivo pelo qual os judeus não levaram outra oferenda de Pêssach (korban Pêssach) até que entraram na Terra de Israel foi que D'us não lhe permitiu fazê-lo. D'us tinha instruído que a oferenda anual de Pêssach deveria ser observada somente “quando entrarem na terra que D'us dará a vocês”;3 os primeiros dois Pessachim – o primeiro observado no Egito, e aquele observado no deserto no ano seguinte – foram exceções a essa regra, especificamente ordenadas por D'us. Então sobre qual deficiência no comportamento deles os Sábios estão falando?

A resposta está na própria história do “Segundo Pêssach.” UM grupo de judeus tinha se encontrado num estado que, por decreto Divino, os absolvia do dever de oferecer o korban Pêssach? Porém eles se recusaram a concordar com isso. Não aceitaram que essa avenida do seu relacionamento com D'us fosse fechada a eles. E sua súplica e pedidos apaixonados “Por que devemos ser privados?” – fez D'us mudar de ideia e estabelecer uma nova instituição, o “Segundo Pêssach”, para permitir a eles, e a todos que se encontrassem numa situação semelhante nas futuras gerações oferecer o sacrifício de Pêssach.

Nisso está baseada a “desgraça” dos 38 anos sem Pêssach no Deserto do Sinai. Por que o povo judeu se reconciliou com o decreto Divino? Por que eles aceitaram este vácuo em seu relacionamento com D'us? Por que não exigiram a oportunidade de servir a Ele na maneira plena e perfeita que as mitsvot da Torá descrevem?

Durante mais de 1.900 anos agora, nossos Pessachim têm sido incompletos. Comemos a matsá e as ervas amargas, bebemos os Quatro Copos de vinho, fazemos e respondemos as Quatro Perguntas, mas o coração e essência do serviço de Pêssach, o corban Pêssach, está ausente da nossa mesa do Seder. Pois D'us escondeu Sua face de nós, removeu o Beit Hamicdash, o trono da Sua presença manifesta nessa terra física, do meio de nós. A lição do nono capítulo “mal colocado” de Bamidbar é clara: D'us deseja e espera de nós que recusemos a nos reconciliar com o decreto da galut, que abalemos os portões do Céu com o grito, o apelo e a demanda: “Por que devemos ser privados?”

Baseado num discurso do Rebe em Shabat Parasha Behalot 5741 (1981)