Esta semana chegou aos meus ouvidos o relato de um episódio bastante curioso que se passou com o saudoso Rav Mordechai Eliyahu, Rabino-Chefe de Israel por 10 anos que faleceu ano passado.

Certo dia um casal compareceu ao seu escritório solicitando a abertura do processo de divórcio. Quando inquiridos pelo Rabino, a mulher tomou a dianteira e revelou amargurada:

"Todo Shabat antes da refeição meu marido canta como de costume o Eshet Chayil (Cântico de Louvor à Mulher Exemplar), mas ao invés de olhar para mim ele fita a minha sogra!”

O marido pediu a palavra e confirmou ser verdade a queixa da esposa, mas se defendeu: “O que posso fazer se ela não é uma mulher exemplar? Não cuida da casa, não cozinha... completamente diferente da minha mãe!”

Inconformado com o motivo da discórdia, o Rabino percebeu que para dissuadi-los de se separarem ele teria de usar a sua criatividade. Assim,pediu para conversar em particular com o marido.

"Veja,” disse o Rabino, “é conhecido o incrível poder multifuncional do cérebro humano! Gostaria de sugerir que vocês voltem para casa e a partir do próximo Shabat, ao cantar Eshet Chayil, você use a sua mente para se concentrar e pensar na sua mãe, e dirija seus olhos exclusivamente para a sua esposa”.

O marido aceitou a proposta, e o casal reconciliado retornou ao lar.

Após algumas semanas, o marido voltou a bater à porta do Rabino Mordechai Eliyahu.

”Com licença Rabino: após seguir sua orientação minha esposa mudou totalmente – ela assumiu as suas responsabilidades de dona de casa e se tornou uma mulher realmente exemplar. Agora me surgiu uma dúvida: ao cantar o Eshet Chayil, posso quebrar minha promessa e passar a pensar nela em vez de ter em mente a minha mãe?"

Segundo Maimônides, “é sábio aquele que sempre elogia o próximo.” Maimônides não propõe que se distribua elogios falsos aos outros, mas que ao se dar ênfase às qualidades do próximo (e não há alguém que não possua algum ponto positivo!), podemos revelar e incentivar outras qualidades que estejam encobertas.

No caso relatado pelo Rabino Mordechai Eliyahu, observamos que faltava um simples olhar carinhoso para que a harmonia entre o casal revelasse todo o seu potencial.


A data de Lag Baomer celebra, entre muitos acontecimentos, o dia místico ligado ao venerado Rabi Shimon Bar Yochai, autor do Zohar, livro básico da Cabalá. A palavra “Zohar” literalmente significa brilho, esplendor. Rabi Shimon costumava sempre ver e enfatizar o lado positivo das pessoas, dando importância à alma de cada um. E foi seguindo esta filosofia que o movimento Chassídico trilhou, desde o Baal Shem Tov, Rabi Levi Yitzchak de Barditchev e os seus demais seguidores. Que possamos aproveitar de seus ensinamentos e contribuir para espalhar uma força positiva e de união entre todos nós.