Pergunta:
Por que devemos verbalizar a prece? Uma vez que D'us conhece nossos mais secretos pensamentos, por que não apenas meditar? Uma vez que D'us sabe o que é melhor para nós, deveríamos ter confiança de que Ele nos dará tudo o que precisamos.
Resposta:
Não rezamos para informar a D'us sobre algo, pois Ele, de fato, sabe melhor do que nós do que precisamos. Rezamos para nos conscientizar de nossa dependência de D'us. Às vezes tentamos nos iludir que controlamos nosso destino. Podemos pensar que o que fazemos ou transpiramos são de fato causa e efeito. Portanto, devemos ser lembrados com freqüência que, exceto onde se aplica o princípio do livre arbítrio moral, nosso destino é controlado por D'us.
E por que verbalizar a prece? A fala nos caracteriza como humanos e nos distingue das formas inferiores de vida. Sem dúvida os animais pensam e sentem, mas apenas os seres humanos podem falar. Ao ficarmos frente a D'us, precisamos lembrar que somos humanos e que, como tal, nossas metas e comportamento devem ter a dignidade de humanidade.
Pergunta:
Como o judaísmo explica o conceito de Paraíso, Purgatório e Inferno? Que fim terão os pecadores?
Resposta:
O ser humano é a única criatura da obra Divina dotada de livre arbítrio. D'us lhe deu a possibilidade de optar entre praticar o bem e o mal. Porém, D'us condicionou sua escolha com a devida conseqüência, como consta na Torá: "Vê que hoje pus diante de ti a vida e o bem, e a morte e o mal..." Ou seja, ao fazer o bem recebemos a vida; ao praticarmos o mal ocorre o contrário.
Nossos sábios explicam que "vida e morte" citadas no versículo não têm apenas o significado literal. Vida significa a recompensa, e morte, o castigo. Qual é a recompensa pelo cumprimento das mitsvot, simbolizada pela vida? No Talmud, nossos sábios afirmam que não existe recompensa suficiente para uma mitsvá neste mundo material, somente no Mundo Vindouro. Mas várias vezes encontramos na Torá referências a recompensas físicas pelo cumprimento de certas mitsvot; há várias interpretações para estas recompensas.
Maimônides, em suas leis sobre teshuvá, retorno, explica que a principal recompensa para as mitsvot é o Paraíso, para onde se dirigem as almas após a morte. Esta é chamada a verdadeira e eterna vida, aludindo ao versículo acima e é a explicação do dito talmúdico que afirma que "os justos, mesmo após a morte, são chamados de vivos".
Com relação à recompensa material, Maimônides explica que esta não é a recompensa definitiva; é apenas um meio para ajudar no cumprimento das mitsvot, como consta na Ética dos Pais: "Todo aquele que cumpre Torá em pobreza, finalmente a cumprirá em riqueza." Isto quer dizer que, ao homem que se dedica ao estudo de Torá e cumprimento das mitsvot, D'us dará condições materiais para que possa cumprir Torá com mais tranqüilidade. Ou seja, as recompensas materiais são apenas uma ajuda para trilhar o caminho do bem.
Já Nachmânides explica, e assim também é a visão da Chassidut, que a recompensa do Paraíso ainda não é o objetivo final. A recompensa definitiva será a Ressurreição dos Mortos, que ocorrerá após a Era Messiânica. O Paraíso, chamado Gan Êden, é onde ficam as almas que esperam o momento da Ressurreição.
O Guehinom, traduzido como Inferno ou Purgatório, é um dos estágios de purificação e expiação para as almas que, ao se despedirem deste mundo, não estão aptas a entrar no Paraíso. O judaísmo, à luz da Chassidut, não considera o castigo como um objetivo por si. É apenas um meio para purificar a alma, preparando-a para um nível superior, a exemplo de um micvê, banho ritual, que purifica um impuro, dando-lhe um estado mais elevado.
Porém, tudo isto não pode ser chamado de verdadeira recompensa para as mitsvot, preceitos. O Talmud afirma: "A recompensa da mitsvá é a [própria] mitsvá." Ou seja, nada pode recompensar a mitsvá mais do que seu próprio cumprimento.
A Chassidut explica que a palavra mitsvá vem do radical "tsavtá", que significa união. Isto quer dizer que a maior recompensa da mitsvá é a união com D'us proveniente dela. Este é o verdadeiro contexto de "vida", como aparece em outro versículo da Torá: "E vós que aderis a Hashem, vosso D'us, estais todos vivos hoje." Neste contexto, aquele que transgride as leis da Torá, se afasta de D'us e até fazer teshuvá (arrepender-se do passado), está temporariamente ligado com o contrário da vida.
Entre os chassidim, narra-se que, de vez em quando, em suas ascensões espirituais, o Alter Rebe (Primeiro Rebe de Chabad), costumava exclamar: "D'us, não quero Teu Paraíso, nem Teu Mundo Vindouro. Quero apenas a Ti."
Faça um Comentário