Rosh Hashaná e Yom Kipur são dias muito poderosos; têm uma aura especial. Não trabalhamos, passamos muito tempo nos serviços, muitas pessoas até se vestem de branco – simbolizando a pureza, etc. Em Yom Kipur, não comemos; somos quase como anjos, vivendo num casulo espiritual.
Porém esta não é a vida normal. Passamos nossos dias correndo para lá e para cá, equilibrando nossas responsabilidades, negócios, famílias, hobbies, etc. Somos apenas humanos. Agora temos estes feriados especiais. Como chegamos de cá para lá?
Falando praticamente, podemos virar a moeda – trocando do mundano para o [espiritualmente] monumental? A resposta é que temos um grande período de transição, que é vital para a significativa experiência das Grandes Festas. Chama-se Elul.
Posso ouvir alguns de vocês perguntando: “O que é Elul? Como é possível que eu jamais tenha ouvido falar?” Bem, Elul é um mês, de grande beleza. Eis aqui a ideia: o Calendário Judaico tem vários períodos de elevada sensibilidade e consciência espiritual. Podemos sempre nos conectar com D’us; porém alguns dias são mais propícios que outros. Em alguns dias há uma recepção mais clara.
Pense dessa maneira: se estou numa sala, e não posso ver, pode haver dois motivos: meus olhos estão fechados, ou as luzes estão apagadas. Ou, talvez, os dois fatores podem ser verdadeiros; meus olhos estão fechados e as luzes estão apagadas. Podemos usar essa metáfora para nossa Divina percepção. Deixado por conta de si mesmo, o mundo é “escuro”; parece vazio e desconectado. Não há “luz” Divina para ver.
Portanto, precisamos de dois fatores. Primeiro, tenho de abrir os olhos. Afinal, é comum (pelo menos superficialmente) passar pela vida com os olhos fechados à luz espiritual. Portanto preciso me abrir para a presença do Divino dentro da realidade.
Mas, eu posso apenas apreciar a divindade que é revelada em minha órbita; ainda preciso que a luz esteja acesa. Quando D’us acende a luz e abro meus olhos, o relacionamento prospera.
Felizmente, D’us emana santidade para que a apreciemos. Porém nisso também há níveis e graduações. No Shabat, por exemplo, D’us projeta um senso celestial de Si mesmo – se conseguirmos nos conectar, “abrir os olhos”, interiorizá-lo. Outras festas judaicas são também “momentos sagrados” – fases raras nas quais podemos alcançar níveis de conexão que poderiam não estar disponíveis numa terça-feira comum.
Fontes cabalísticas ensinam que Elul é um período semelhante de intensa revelação Divina. Este é o presente de D’us para nós, permitindo-nos chegar aos Dias Festivos.
Porém a pergunta deve ser feita: os outros momentos sagrados do calendário parecem ser todos Shabat ou Festas (Yom Tov). Aqueles dias – nos quais não trabalhamos, quando vamos à sinagoga, o seder, o shofar, etc. – estes são os dias de revelação cósmica. Por que Elul não tem feriados? Por que Elul é um mês normal se a Divina projeção na verdade é tão impressionante?
Há uma resposta: quando você pensa a respeito, isso mesmo (a “normalidade” do mês) revela seu verdadeiro poder. Quando as pessoas estão encapsuladas na espiritualidade, mergulhadas na beleza de uma Festa Judaica, são aprimoradas pela experiência Divina. A Divindade se encaixa no modelo do dia. Por outro lado, a vida mundana parece fechada à Divindade. A santidade não se encaixa muito confortavelmente.
Porém D’us é infinito, sem fronteiras. Não aceitamos a ideia de que D’us não pode nos alcançar em nossa vida normal. É preciso simplesmente uma revelação mais profunda e mais potente para nos atingir naquele nível não convidativo.
Pense sobre isso: medimos a potência de uma lâmpada pela distância a que ela projeta sua luz. É preciso mais força para projetar a iluminação longe da fonte. O mesmo se aplica à Divindade. A revelação para aqueles em meditação não exige tanta “potência” quanto a revelação para aqueles num estado desconectado.
D’us nos concede este presente especial porque precisamos dele; estamos perto das Grandes Festas. Portanto D’us – misericordiosamente – nos dá um mês de inspiração. Precisamos que as nossas vidas mundanas sejam transformadas. Precisamos transcender a superficialidade da vida material, elevando-nos para nos conectar com sua santidade latente.
Portanto D’us vem até nós, em nosso vertiginoso vórtice da vida física, para nos tocar, nos inspirar. D’us nos dá um pequeno “empurraozinho” para nos despertar – reconhecer nossa necessidade de um significado, de santidade, para Ele.
Para apreciarmos as Grandes Festas, temos de sair da nossa auto-absorção. Precisamos reconhecer nossas limitações e ansiar pela conexão com o Divino.
Elul é uma época na qual D’us nos ajuda a encontrar aquele anseio interior, altruísmo e santidade. Porém isso se afasta de nós; D’us nos prepara, mas temos de dar um passo nesse sentido. O “Cântico dos Cânticos” é uma metáfora para isso; anseio entre D’us e nós. Um dos versículos diz isso sucintamente: “Ani le dodi ve dodi li” – “Eu sou para meu Amado como meu Amado é para mim”.
Nossa tradição diz que estas quatro palavras hebraicas formam o acrônimo “Elul”, porque este é o tema de Elul. Elul é o tempo de encontrar aquele anseio interior. É por isto que é tradicional tocar o shofar todos os dias de Elul; o toque puro do shofar reflete o grito da alma por um significado.
Você pode fazer isto; a hora é agora. D’us ajuda você a encontrar aquele amor interior, especialmente neste mês. Você precisa apenas dar um passo para saudar seu Amado – cumprir uma mitsvá, comparecer a uma aula... apenas dê um passo.
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