Fui visitar Rabino Rabinowitz em sua sinagoga no Bronx, Nova York. Para minha surpresa, o idoso rabino estava sentado a um canto da mesa e não na cabeceira.

“Ninguém se senta naquele lugar,” explicou ele.

Notando minha reação, ele começou a seguinte história:

“Quando cheguei aos Estados Unidos, tive o privilégio de conhecer o Rebe Anterior. Contei a ele tudo que tinha me acontecido na Europa e perguntei o que eu deveria fazer com minha vida. O Rebe disse: ‘Como você é um erudito de Torá, deveria procurar um cargo como rabino de uma comunidade.’

“Pouco depois disso, fui recomendado para um cargo em seu shul (sinagoga), aqui no Bronx. Quando perguntei ao Rebe se deveria aceitar, ele respondeu: ‘Um shul é um shul, e portanto muito adequado. Porém eu não gosto do zelador daquela sinagoga.’

“Por que o Rebe mencionou o zelador, eu me perguntei. O Rebe viu que eu estava confuso e repetiu: ‘Um shul é um shul, mas eu não gosto do zelador.’

“O tempo passou. Tudo parecia estar correndo bem, até eu descobrir que o zelador não gostava de mim. Após o falecimento do rabino anterior da sinagoga, o zelador tinha assumido muitas responsabilidaes e se tornara o rabino não-oficial. Ele sentia que eu o tinha deixado de lado e começou a criar problemas para mim.

“Por fim a situação tornou-se insustentável. Fui falar com o Rebe, que tinha assumido a liderança após o falecimento de seu sogro, o Rebe Anterior, em 10 de Shevat de 1950. Antes que eu sequer tivesse a chance de abrir a boca, o Rebe disse: ‘Meu sogro disse que um shul é um shul e ele não gostava do zelador. Continue a servir como rabino no Bronx. Quanto às extravagâncias desse zelador, ele logo terá de se preocupar sobre quanto tempo conseguirá manter o emprego.’

“Fiquei surpreso pelas palavras do Rebe. Quando eu falara com o Rebe Anterior, não havia mais ninguém na sala, e eu jamais discutira o assunto com seu genro, o Rebe Menachem Mendel.

“Algumas noites depois, eu não conseguia dormir. Ao amanhecer decidi ir para a sinagoga um pouco mais cedo que de costume. No caminho, fiquei surpreso por encontrar o presidente e gerente também se dirigindo à sinagoga.

“O gerente apontou para uma luz na janela do shul. Desconfiados, abrimos a porta e entramos. Encontramos o zelador segurando as caixas de caridade e esvaziando-as, colocando o dinheiro nos bolsos. Desnecessário dizer, nós o despedimos.

“Os anos seguintes passaram tranquilamente. Então aconteceu algo ainda mais incrível.

“O shul compartilhava uma parede adjacente a um açougue. Quando o negócio expandiu-se, o açougueiro encontrou uma loja muito maior e vendeu a antiga para o shul, que precisava de mais espaço. Após algumas negociacões amigáveis, foi selado o negócio. A transação toda foi feita verbalmente, sem um contrato.

“Alguns anos depois o açougueiro começou a procurar um depósito. Quando não achou nenhum disponível, ele lembrou-se que não havia um contrato oficial com nossa sinagoga. Sem qualquer escrúpulo, ele foi ao gerente do shul e pediu-lhe para devolver a loja. Ele contratou um advogado, certo de que o tribunal decidiria a seu favor visto não ter havido uma venda formal, um documento por escrito.

“Após um breve caso no tribunal, a diretoria do shul recebeu um aviso oficial forçando-os a vagar o local até uma determinada data. À medida que a data se aproximava, fui ao Rebe pedir uma bênção.

“Quando descrevi a situação, o Rebe disse: ‘Meu sogro disse claramente a você que um shul é um shul. Tudo vai ocorrer da maneira devida.’

“Na noite anterior à data crítica, eu tive um sonho que jamais esquecerei. No sonho eu fui à sinagoga e vi o Rebe Anterior sentado na cadeira à cabeceira da mesa – a mesma cadeira na qual eu jamais deixara alguém se sentar. De pé ao lado dele estava o Rebe Menachem Mendel, que disse: ‘Não se preocupe. D'us fará com que tudo ocorra para o melhor.’ Ele então olhou para o Rebe Anterior. ‘O Rebe lhe disse que um shul é um shul. Por que você precisa se preocupar?’

“Fiquei embasbacado. O Rebe Anterior estava bem ali, embora tivesse falecido há dez anos. Eu ainda estava me maravilhando com essa visão quando acordei.

“Corri até a sinagoga o mais depressa que pude. Lá fora, uma multidão estava reunida e as pessoas discutiam com os policiais que tinham bloqueado a entrada e começado a retirar a mobília. Então algo dramático aconteceu.

“Numa rua próxima, na loja grande do açougueiro, uma instalação de luz caiu subitamente do teto. O açougueiro foi atingido e ficou inconsciente. Quando ele recobrou os sentidos, suas primeiras palavras foram: ‘Por favor, parem de esvaziar a sinagoga..’ Quando a polícia chegou, o açougueiro admitiu que tinha feito falsas acusações contra o shul e que na verdade, tinha recebido pagamento pela antiga loja.

“Agora você entende por que não deixo ninguém sentar-se naquela cadeira. A imagem do Rebe Anterior sentado ali estará para sempre na frente dos meus olhos,” disse Rabino Rabinowitz quando terminou de contar sua história.