Pêssach é a festa mais antiga de nosso calendário. Comemora, ontem e hoje, o nascimento de um povo livre e independente. Ano após ano, famílias se reúnem para contar a história da liberdade.
Na Hagadá há um trecho de Raban Gamliel que diz: "Quem não pronunciou as seguintes três palavras em Pêssach não cumpriu com sua obrigação: Pêssach (cordeiro pascal), matsá (pão ázimo) e maror (ervas amargas)."
Por que Raban Gamliel mudou a ordem? O mais certo seria iniciar com maror. Afinal, a vida amarga e dura, representada pelas ervas amargas, precedeu por muitos anos o primeiro sêder e o Êxodo. Quem sabe colocou o maror no final para dar às ervas amargas uma importância especial e uma mensagem eterna.
O homem moderno está sempre buscando a felicidade. Pode possuir tudo o que necessita, e até tudo o que quer, mas ainda quer aquela paz de espírito que não é facilmente alcançada. Está desapontado, pois esta busca é a maior fonte de progresso humano. O "maror" da vida é o grande incentivo; estimula-nos a trabalhar para melhorar a sociedade.
Muito se fala e se ouve sobre a união dentro de nosso povo. Mas na prática é um mero sonho - uma projeção do que gostaríamos que fosse. Somos divididos em muitas facções, grupos e organizações, cada um visando suas próprias metas, muitas vezes ignorando o bem-estar geral. Reunimo-nos apenas e tão-somente quando enfrentamos um perigo. É o fator "maror" mais uma vez que traz um espírito de união em nosso meio.
Mais uma lição importante ensinada por Raban Gamliel é que nunca devemos esquecer o passado, mesmo quando ele lembra amargura. Devemos lembrar os momentos de opressão mesmo em dias de liberdade. Ao lembrar as dificuldades de ontem, poderemos sentir as mesmas em nosso semelhante hoje. Após o cordeiro pascal e a matsá (símbolos de liberdade), Raban Gamliel fala do maror, que lembra da amarga escravidão de nossos antepassados no Egito.
Esta atitude, típica da tradição judaica, aparece novamente no preceito das primícias:
O antigo fazendeiro trazia seus primeiros frutos para o Templo Sagrado como uma manifestação de gratidão a D'us pela colheita. Na hora de entregar a cesta com os frutos para o sacerdote, o doador recitava um texto bíblico, frisando o passado duro de nossos ancestrais. No auge da alegria lembramos nosso começo humilde. Não nos desligamos do passado difícil, pois este é a matéria-prima com a qual o presente e o futuro serão construídos.
Possam as lições de Raban Gamliel levar cada um de nós a um reposicionamento. Que o "maror" possa ser um incentivo para mais sucessos nobres para nós e para toda a humanidade e que nosso passado abra caminho para um futuro mais glorioso ainda.
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