A caminho de Haran, fugindo da ira de seu irmão gêmeo, Esav, Yaacov parou para descansar e teve seu famoso sonho: ele viu uma escada fixada ao solo, cujo topo alcançava os céus, com anjos de D’us subindo e descendo.1

Curiosamente, o Baal Haturim2 comenta que a palavra hebraica para escada, סלם (sulam), tem o mesmo valor numérico (130) que a palavra hebraica סיני (Sinai) . Qual é a conexão entre a escada do sonho de Yaacov e o Monte Sinai?

Rabino Moshe Avigdor Amiel, que atuou como rabino-chefe de Tel Aviv durante 10 anos até seu falecimento em 1946, explica3 que a parte da escada encravada na terra simboliza Avraham, que representa a bondade. A bondade e a compaixão de Avraham se expressaram principalmente em sua hospitalidade — em coisas materiais e terrenas como alimentar, nutrir e receber com hospitalidade as pessoas. Avraham era o modelo de chessed — bondade e compaixão.

O topo da escada, que chegava aos céus, simboliza Yitschac. Ele era aquela alma celestial que quase foi sacrificada no altar e, assim, tornou-se o símbolo eterno da avodá — serviço espiritual e compromisso fiel a D’us.

Yaacov representa a Torá. Ele é descrito como Yoshev ohel,4 o estudioso que trabalha na tenda do estudo da Torá. A Torá une chessed e avodá, fundindo dois opostos, como o céu e a terra.

E assim, temos sulam , a escada de Yaacov, numericamente igual ao Sinai. A escada, como o Sinai, caracteriza aquilo que está firmemente enraizado na terra, mas pode alcançar os céus.

Onde vemos que o Sinai também simboliza a ideia de preencher a lacuna entre o céu e a terra?

O Rebe, em muitas palestras ao longo dos anos, abordou esse conceito longamente. O processo de unir o céu e a terra começou com a experiência do Sinai. Avraham pode ter sido o primeiro judeu histórico, mas não foi o primeiro judeu haláchico.5 Isso só aconteceu com Moshê e sua geração quando receberam a Torá no Monte Sinai.

Foi quando nosso povo recebeu o mandato de guardar a Torá e seus mandamentos.

Embora Avraham, Yitschac e Yaacov, e todas as gerações anteriores ao Êxodo e à experiência do Sinai, possam ter cumprido a Torá antes mesmo dela ter sido outorgada, era algo opcional naquele ponto, com base em sua própria visão profética do que a Torá ensinaria. D’us ainda não os havia ordenado a guardá-la. Até o Sinai, o céu era o domínio de D'us, a terra era o domínio da humanidade e “os dois nunca hão de se encontrar”. Como resultado, as mitsvot realizadas pelas gerações pré-Sinai não tinham a capacidade de transformar a matéria com as quais eram realizadas.

Mas depois que “D'us desceu sobre o Monte Sinai,”6 e o mortal Moshê ascendeu à montanha,7 céu e a terra não eram mais intransponíveis. Desde então, os humanos podem aspirar mais alto e podem de fato mudar e santificar o mundo, consagrar o material e tornar a palavra física espiritual e sagrada.

Assim, como escreve o Baal Haturim, Sulam, a escada, é igual ao Sinai, o momento em que o céu e a terra se encontram.

Estamos condenados a viver nossas vidas no materialismo vazio de um mundo oco e plástico? A única maneira de escapar da grosseria do mundo material é fugir para mosteiros reclusos ou para as montanhas do Tibete?

Para isso, a Torá diz um enfático “Não!” Desde o Sinai, recebemos o poder de introduzir a espiritualidade em nossas circunstâncias materiais. Não precisamos fugir para lugar nenhum. Devemos nos envolver com nosso mundo material, lidar com ele de frente e, de fato, transformá-lo em algo sagrado.

Aqui está um exemplo simples.

O dinheiro é certamente a coisa mais material de todas. Que símbolo, mais do que o poderoso dólar, caracteriza o materialismo? Mas quando doamos nosso dinheiro suado para os pobres e outras causas dignas, transformamos o material em algo significativo, com propósito e, sim, até sagrado.

É assim que cumprimos o propósito de D' us ao criar o mundo. “No princípio, D'us criou o céu e a terra.”8 O mesmo Criador que fez os céus também fez a terra e tudo nela. O céu e a terra, o espiritual e o material, não são opostos inacessíveis e inalcançáveis. São dois lados da mesma moeda. Não devemos rejeitar o físico, nem devemos sucumbir às suas atrações vazias. Em vez disso, devemos usá-lo de maneira positiva e significativa, elevando-o assim ao seu potencial como algo criado por D'us para um propósito maior.

Quando o fizermos, por mais físicos e finitos que sejamos, podemos subir a escada de D'us e ascender aos próprios céus.