Assassinato é um dos crimes mais hediondos – e mais antigos – do mundo. Na primeira porção da Torá, quando o mundo tem apenas alguns dias de idade, lemos que Abel foi assassinado pelo seu próprio irmão, Caim. Parte daquilo torna tudo tão chocante que parece surgir do nada. Aqui está o relato enigmático da Torá:
“Ora, aconteceu que ao final dos dias que Caim levou do fruto do solo uma oferenda ao Senhor. E Abel, ele também levou o primeiro primogênito de seus rebanhos e de seus mais gordos, e o Eterno voltou-se a Abel e para sua oferenda. Mas para Caim e sua oferenda, Ele não se voltou, e isso aborreceu muito Caim, e seu semblante caiu. E o Eterno disse a Caim: “Por que você está aborrecido, e por que seu semblante caiu? Não é que se você melhorar, será perdoado? Se você não melhorar, no entanto, no início, pecado é mentir, e para você é seu desejo, mas você pode dominá-lo.
“E Caim falou com a Abel, seu irmão, e aconteceu que quando eles estavam no campo Caim ergueu-se contra seu irmão Abel e o matou.1
Em resumo, Abel era um pastor e Caim era um fazendeiro. Caim levou uma oferenda a D'us do fruto de sua colheita, e Abel levou seu primeiro filhote de ovelha. D'us aceitou a oferenda de Abel, mas não a de Caim. Caim ficou aborrecido, e D'us falou com ele, deixando-o saber que o pecado o aguardava ( no futuro) a menos que ele se arrependesse. E então, de repente, Caim encontrou Abel no campo e o matou, ostensivamente por inveja.
Mas parece haver mais nessa história. Pouco antes de Caim matar Abel no campo, o versículo diz: “Caim falou com Abel seu irmão”2 – porém a Torá não nos diz sobre o que se tratava essa troca final de palavras. Eles poderiam ter discutido sobre algo que levou ao assassinato de Abel? O Midrash nos oferece uma série de explicações, cada uma das quais representa um motivo filosófico diferente para a rivalidade entre irmãos.
Sobre Herança e Propriedade
Segundo um Midrash, tudo se resume àquilo que tem causado muito conflitos nas famílias ao longo dos tempos, a saber, a divisão de propriedade e herança.
Vendo que eles eram os únicos seres humanos ao redor, Caim e Abel decidiram dividir a “posse” do mundo. Um pegaria todas as terras e coisas que crescessem dela, enquanto o outro iria pegar objetos móveis como animais e semelhantes. Assim, um se tornou fazendeiro e o outro pastor. Aconteceu, entretanto, que Caim disse a Abel: “A terra em que você está é minha,” enquanto Abel respondeu: “O que você está vestindo é meu.” Um disse: “Tire”; o outro respondeu: “Saia fora do solo.” Foi devido a essa disputa que Caim se levantou e assassinou Abel.3
Outros dizem que ambos dividiram as terras e os objetos móveis, mas eles estavam discordando sobre qual parte o futuro Templo deveria ser construído.4
Sobre uma Mulher
Outra explicação é que eles estavam lutando por – o que mais? – uma mulher. Segundo o Midrash, tanto Caim como Abel nasceram com irmãs gêmeas, com quem eles se casaram. No entanto, Abel nasceu com duas irmãs, e elas brigaram para ver quem se casaria com a esposa extra. Caim disse que era o mais velho e portanto era seu direito, enquanto Abel alegava que como ela nascera junto com ele, era seu direito.
Sobre Teologia
Caim, ao ver que sua oferenda não foi aceita mas a de seu irmão sim, disse a Abel: “Parece que D'us não é justo e mostra favoritismo.” Abel respondeu: “O Céu não permita que seja como você diz; mas sim, o motivo pelo qual minha oferenda foi aceita foi porque era melhor.” Caim, por sua vez, respondeu: “Parece que não há recompensa e punição para o bem ou para o mal.” Disse Abel: “Certamente os justos são recompensados e os ímpioss punidos.” Foi a partir dessa briga que Caim acabouu matando Abel.5
Conclusão
Embora o Midrash explique que Caim em última análise matou Abel por causa de dinheiro, uma mulher ou teologia, talvez uma razão pela qual a Torá registra o incidente de uma maneira enigmática é para nos ensinar uma importante lição. Caim pode ter ficado com ciúmes porque D'us aceitou a oferenda de Abel, não a sua, mas D'us explicou a ele foi por sua própria culpa que sua oferenda não foi aceita. A oferenda de seu irmão não tornou sua oferenda pior ou melhor em comparação; a responsabilidade recaiu sobre Caim para melhorar a si mesmo. Da mesma forma, não devemos ter inveja dos outros; em vez disso, cabe a nós melhorarmos a nós mesmos.
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