D'us criou Adam e Chava despidos, e eles caminharam pelo Jardim do Éden… nus. Se a nudez em público estava bem para D'us, por que a Torá nos diz para sermos recatados, nos cobrirmos, para subjugar nosso desejo natural? O que mudou?

Tudo começou depois que Adam e Chava comeram da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Antes, eles não estavam cônscios de sua nudez;1 até se engajavam em intercurso perante os olhos de todos”!2 Mas após comerem daquela árvore, sua perspectiva mudou. O universo inteiro mudou.

Antes o bem era obviamente bom e o mal era obviamente mau. Mas depois disso o mundo era diferente, no qual santidade e impureza se tornaram mesclados.

Na verdade, quanto mais sagrado algo é, mais susceptível é à corrupção. Energia potente, sagrada com frequência é descartada pelas forças da profanidade.

Antes de comerem da árvore, Adam e Chava não estavam constrangidos pela sua nudez, porque percebiam que a sexualidade era boa, natural e sagrada. O intercurso era uma atividade criada por D'us para unidade e procriação. Depois que eles mudaram para o mundo do bem e do mal, imediatamente sentiram a necessidade de proteger sua sexualidade. Na verdade, como a sexualidade era tão sagrada, estaria mais vulnerável à corrupção. Estava no radar do mal – todo o tempo!

Sexualidade é uma maneira de nos conectarmos com nossa alma gêmea e com D'us, e prazer é o ponto alto daquela conexão. Mas as forças do mal nos fazem crer que aquela sexualidade é toda sobre nosso prazer pessoal. Portanto Adam e Chava instintivamente se tornaram um pouco egoístas, e então ficaram envergonhados de si mesmos. Vestiram roupas para que sua aura sexual não ficasse vulnerável a equívocos. Desde então, os seres humanos usam roupas.3

Há uma história na Torá sobre um filho que era protetor da beleza de sua mãe. Aquele menino era Yossef. Vamos começar a história pelo final…

Quando Yaacov estava em seu leito de morte, abençoou todos os seus filhos individualmente. Entre as coisas que disse a Yossef estavam essas palavras incomuns: “Um filho encantador é Yossef, um filho encantador ao olho. As mulheres correm para vê-lo.”4

Ora, essa parece uma bênção um tanto superficial. Yaacov estava simplesmente focado na boa aparência de seu filho? Essa era a sinopse final das boas qualidades de Yossef? Que tipo de mensagem significativa essas palavras transmitem?

Vamos desvendar o versículo:

בֵּן פֹּרָת יוֹסֵף
Ben porat Yossef
Um filho charmoso é Yossef .

בֵּן פֹּרָת עֲלֵי עָיִן
Ben porat alei ayin
Um filho charmoso ao olho.

בָּנוֹת צָעֲדָה עֲלֵי שׁוּר
banot tza’adá alei shur
Mulheres, [cada uma] corriam para vê-lo.

Rashi diz que a palavra hebraica para “charmoso”, porat, também significa “ser frutífero5 e crescer.” Portanto com a palavra porat, Yaacov estava dizendo duas coisas a Yossef: “Você é charmoso, e cresceu.” A bênção de Yaacov continua, “alei ayin”, que é traduzida como “[encantador] ao olho.” Mas literalmente, as palavras alei ayin significam “acima do olho.” Portanto tudo junto, Ben porat alei ayin significa “um filho que cresceu [alto] acima do olho.” A que as palavras crípticas de Yaacov estavam se referindo? Esse Midrash, como citado por Rashi, explica tudo:6

Quando Esav chegou perto de Yaacov, todas as outras mães saíram da frente de seus filhos para se prostrarem. A respeito de Rachel, no entanto, está escrito: “e em seguida, Yossef e Rachel se aproximaram e se prostraram.”7 [denotando que Yossef precedeu Rachel]. Yossef disse: “Esse canalha tem um olho arrogante. Talvez ele leve seu desejo à minha mãe.” Então ele se posicionou na frente dela, esticando-se para escondê-la. Seu pai estava se referindo a isso quando o abençoou, “um filho que cresceu,” [significando] “Você aumentou a si mesmo acima do olho de Esav. Portanto, você atingiu grandeza.”8

Em sua épica reunião de família, Yaacov e Esav se encontraram após 34 anos de afastamento. Muito tinha mudado naquelas décadas. Yaacov se tornara um homem de família com quatro esposas e 12 filhos. Ele arrumou seu clã em grupos para que cada unidade de família encontrasse Esav separadamente.9 Havia duas mulheres, porém, que Esav não teve o privilegio de conhecer.

Vamos examinar o versículo em Bereshit: “Lea e seus filhos se aproximaram e se prostraram, e depois [deles], Yossef e Rachel se aproximaram e se prostraram.”10 Veja a mudança na ordem. Primeiro Lea e seus filhos. Isso é compreensível; ela na frente, seus filhos em seguida. Então Yossef e Rachel.

Por que Yossef é mencionado antes da sua mãe? Vimos que a Torá está sutilmente anunciando que Yossef ficou na frente de sua mãe para bloqueá-la totalmente da linha de visão de Esav, um ato cavalheiresco pelo qual Yaacov o elogiou.

O outro membro da família que Esav não conheceu foi Dina. Ela estava escondida numa caixa. Isso é sugerido pelo seguinte versículo na Torá: “[Yaacov] levantou-se durante a noite, pegou suas duas esposas e suas duas criadas e seus onze filhos, e cruzou a passagem [do] Jabok.”11 O que há de problemático sobre esse versículo é que a Torá mencionou o nascimento de todos os filhos nascidos para Yaacov enquanto ele estava morando com seu sogro em Charan. No total, 12 filhos nasceram ali, 11 meninos e uma menina.12 Por que ele cruzou este rio com somente 11 filhos? Onde estavam os 12?

O Midrash, citado por Rashi, responde essa pergunta:

Onde estava Dina? [Beniomin ainda não tinha nascido, mas Dina deveria ter sido contada.] Ele a colocou num baú e a trancou ali, para que Esav não colocasse os olhos sobre ela. Portanto, Yaacov foi castigado por escondê-la de seu irmão – [porque, se ele tivesse se casado com ela] talvez ela o torna-se uma pessoa melhor  – e ela caiu nas mãos de Shechem.13

Se Yaacov percebesse que estava errado em esconder Dina de Essav, por que ele louvaria Yossef por fazer o mesmo com Rachel?

A resposta é que Dina era uma moça solteira. Se Dina e Esav se conhecessem e quisessem se casar, teria sido provável que Esav iria desistir de suas escapadas ocultas e para se tornar um cavalheiro refinado e um estudante da Torá para agradar Dina.14 Mas Yaacov subestimou o poder de sua filha, e a oportunidade foi perdida.

Rachel já estava casada. Esav não iria pensar e casar com a esposa de seu irmão.15 Mas ele provavelmente gostaria de olhar para ela – pois era muito formosa! Mas Yossef não permitiu que isso ocorresse, o que foi positivo. Yaacov o abençoou por isso.

Há outra interpretação para a bênção de Yaacov para Yossef: “Um filho que cresceu – você está acima do olho,” significando o olho mau, o ayin hara. Quando alguém atrai atenção, outras pessoas tendem a ficar invejosas. Aquela energia invejosa pode prejudicar o sucesso da pessoa. (Usamos as expressões kein ayin hara e Ben porat Yosef para expulsar aquela energia invejosa, prejudicial que outros podem projetar.16) Após Joseph proteger a beleza de sua mãe dos olhos de Esaú, ele ficou imune ao olho mau, diz o Midrash.

A beleza é um assunto delicado. A beleza de Dina poderia ter tocado o coração até do homem mais insensível que viveu. Talvez aquilo signifique que num casamento, a beleza de uma mulher pode suavizar e sensibilizar seu marido para um lado mais espiritual. No contexto de um relacionamento, o encanto feminino é sagrado.

Mas Beleza é um Assunto Delicado

Atrair a atenção de alguém que não é o próprio marido difunde aquela energia poderosa e a deixa vulnerável às forças do mal. Yaacov realmente apreciou quando Yossef garantiu que nenhum outro homem iria apreciar a beleza de Rachel. Não porque Yossef tivesse medo de que Esav a levaria embora, mas porque Esav não tinha direito de ter prazer com uma mulher que não fosse sua esposa. Como Yossef bloqueou Rachel da visão de Esav, ele foi protegido de um ayin hara – inveja e energia doentia projetada sobre ele.

Citando o Talmud e o Zohar, o Rebe enfatizou 17 que fortalecer a conduta de modéstia de alguém é uma maneira infalível de ser abençoado com boa saúde, sustento e muitas alegrias – o verdadeiro orgulho judaico de filhos e netos.18

Que sejamos todos abundantemente abençoados.