A porção desta semana da Torá pinta um quadro sinistro para os fazendeiros do Israel. Após receberem ordens na Parashá Kedoshim (Vayicrá 19:9) de que algumas porções da colheita devem ser deixadas para os pobres (como os cantos dos campos, a produção esquecida quando da colheita, etc.), esta semana a Torá informa ao fazendeiro que deve também observar a Shemitá, permitindo que seu campo permaneça inculto a cada sete anos.

Certamente, esta é uma pílula difícil de engolir: manter-se casher e celebrar o Shabat são uma coisa, mas sacrificar o próprio meio de vida por um ano inteiro parece equivalente ao suicídio financeiro. Por que a Torá exigiu tanto de simples fazendeiros?

Embora vários comentaristas ofereçam interpretações do mandamento da Shemitá, o Keli Yacar rejeita a maioria destas explicações e em seu lugar oferece sua própria hipótese. Ele teoriza que a Torá havia exigido a cessação de toda atividade agrícola a fim de inculcar no povo judeu um senso de confiança e fé em D'us. Se eles tivessem permissão de plantar e colher à vontade, chegariam à conclusão equivocada que seu meio de vida e sustento devem ser atribuídos à sua própria labuta e esforço. Os judeus deduziriam erroneamente que seu próprio controle sobre as forças naturais do mundo estabeleciam seu destino e seu sucesso.

Portanto, o Criador instituiu o ciclo Shemitá para que o povo judeu percebesse que suas conquistas e realizações dependem completamente da graça e boa vontade Dele. Quando confrontado com a realidade da colheita inexistente, os judeus não têm outra escolha a não ser voltar-se para D'us por sustento e apoio.

Embora muitos de nós, como não somos fazendeiros, não possamos apreciar completamente a importância de um ano Shemitá, mesmo assim podemos também extrair uma lição para nossa vida. Muitas vezes tornamo-nos presas de nosso sucesso, dando-nos tapinhas nas costas e nos congratulando por um trabalho bem feito. Deixamos de perceber a verdadeira fonte de nossa prosperidade. Iludimo-nos pensando que "minha força e o poder de minha mão trouxeram-me esta riqueza" (Devarim 8:17). Apenas quando passamos por tempos difíceis finalmente percebemos nossa impropriedade.

A fim de lembrarmo-nos do verdadeiro Provedor de nossas necessidades, o Criador deve tomar atitudes severas que nos forçarão a reexaminar nossa autoconfiança. Ao suportar estes tempos duros e que exigem muito de nós, podemos chegar a uma total apreciação da bondade e compaixão de D'us.