Yaacov e sua família estabeleceram-se nas cercanias da cidade de Shechem (Nablus).

Imediatamente, ao chegar em Israel, após uma ausência de vinte e um anos, Yaacov adquiriu uma gleba de terra, simbolizando assim que não era mais um transeunte, mas morador, residente na terra que D'us prometera a seus descendentes. Yaacov queria estabelecer o direito inalienável à terra através da aquisição. (Este é um dos três locais que a Torá assegura a propriedade do povo judeu. Como nos relata a parashá, Yaacov comprou-o com moeda inconteste. Os outros dois locais são a Gruta de Machpelá em Hebron, comprada por Avraham, e o local do Templo Sagrado em Jerusalém, adquirido pelo rei David.)

Um dia, a filha de Yaacov, Dina, ouviu o som de músicos e tambores do lado de fora da sua tenda.

"Quem será que está tocando?", pensou. Dina esgueirou-se sozinha para fora da tenda para assistir ao espetáculo.

Mas enquanto ela assistia, alguém mais a estava vigiando. Era Shechem, um príncipe de Chivi (uma tribo de Canaã). Quando viu Dina, gostou dela. Decidiu raptar Dina e levá-la para seu palácio. Ela seria exatamente a mulher que ele queria!

Tentou a persuadi-la a ficar em sua casa, com palavras convincentes. "Seu pai foi obrigado a gastar uma enorme quantia em dinheiro para adquirir uma propriedade em Shechem," disse-lhe. "Sou o governador desta cidade. Se você ficar comigo, dar-te-ei a cidade inteira, com seus campos e vinhedos!"

Quando Yaacov e os filhos voltaram dos campos, Dina havia desaparecido. Logo ouviram que Shechem a havia levado e ficaram perturbados e muito enraivecidos.

Imediatamente, Yaacov enviou dois servos para resgatar Dina da casa de Shechem; porém estes foram expulsos.

Shechem, que arrependeu-se de ter pego Dina ilicitamente, pediu a seu pai que contactasse Yaacov e lhe pedisse para dar-lhe Dina como sua legítima esposa.

Chamor, pai de Shechem, procurou Yaacov e seus filhos e lhes disse: "Meu filho Shechem deseja muito Dina para esposa. Daremos a vocês todo o dote que desejarem. Por favor, aceite! Por que não podemos nos tornar uma grande família? Nossos jovens casar-se-ão com suas filhas e vocês com as nossas."

Dentre os filhos de Yaacov, Shimon e Levi eram os mais abalados pelo maldoso feito de Shechem: além de ter raptado Dina, também a violara e a fizera sofrer. Exclamaram: "Este ato abjeto é proibido até de acordo com suas leis! Em vez de falarem por aí: 'Uma moça judia sofreu abuso,' melhor que digam: 'Idólatras foram mortos porque pegaram a filha de Yaacov, uma moça judia."

Decidiram punir não só o raptor Shechem, mas todo o povo da cidade que não havia protestado pelo sequestro.

(Shimon e Levi agiram de acordo com a lei ao planejarem matar os habitantes de Shechem, porque todo o povo de Shechem merecia pena capital, de acordo com as Sete Leis de Nôach, leis universais aceitas por toda a humanidade. O próprio Shechem era passível de pena capital, por ter raptado Dina, e transgredira a proibição de "Não roubarás". Seus concidadãos também eram culpados, uma vez que sabiam de seu ato, mas não o levaram à justiça. Violaram, portanto, mais uma das Sete Leis de Nôach, a obrigação de administrar a justiça. Mereciam morrer, por terem falhado em aplicar a punição apropriada a Shechem).

Sem consultar seu pai, Shimon e Levi, que àquela época tinham treze anos de idade, decidiram: "Amanhã não haverá mais vestígios da cidade de Shechem!"

Shimon e Levi responderam ao pai de Shechem. "Sabe que nós, judeus, temos circuncisão. Não podemos permitir que desposem nossas filhas, a menos que todos os homens da cidade concordem em submeter-se a um berit milá."

Eles não tinham intenção de aceitar a proposta de Shechem e Chamor. Por isso, a Torá nos diz que responderam a Chamor com astúcia e inteligência. Escolheram a circuncisão como meio de incapacitar os habitantes de Shechem, a fim de infligir dano ao órgão que Shechem usou para agredir Dina.

O pai de Shechem voltou à sua cidade e persuadiu o povo. "Façamos a circuncisão, então tomaremos as filhas de Yaacov para nós e poderemos dar nossas filhas a eles."

O povo de Shechem aceitou ser circuncidado, porque pensou: "A família de Yaacov é rica. Se nos casarmos com suas filhas, teremos acesso a seu dinheiro."

No terceiro dia após os homens de Shechem terem feito berit milá, sentiram-se fracos e doentes. Shimon e Levi cingiram as espadas e entraram na cidade. Mataram Shechem e seu pai, assim como todos os homens da cidade. Em seguida, trouxeram sua irmã Dina de volta para casa.

Quando Yaacov ficou sabendo o que Shimon e Levi haviam feito, assustou-se bastante. "Não agiram com prudência!", repreendeu-os. "Agora todo o povo de Canaã nos atacará em vingança! O vinho no barril estava claro como o cristal, mas vocês o turvaram! Apesar dos canaanitas saberem que um dia conquistaremos sua terra, acharam que a conquista só se tornaria realidade num futuro distante. Por isso, estavam quietos, e não nos causavam mal. Mas agora que vocês os atacaram, pensam que começamos a tomar posse da terra. Portanto, irão empreender todos os esforços para nos destruir!"

Shimon e Levi argumentaram que agiram como agiram a fim de proteger suas esposas e filhas. "Tínhamos que atacá-los," declararam, "a fim de mostra-lhes que nossas moças não estão disponíveis para serem tomadas. Fizemos isso para impedir a reincidência de ocorrências similares no futuro!"

D'us ajudou Yaacov e sua família. Quando os canaanitas atacaram a família de Yaacov, D'us os protegeu. Os canaanitas perderam todas as batalhas contra a família de Yaacov. Desde então, tinham medo de lutar contra Yaacov ou seus filhos.

Não obstante, Yaacov era da opinião que Shimon e Levi colocaram em perigo a família inteira, e portanto, no final de sua vida amaldiçoou a raiva que os levou a atacar a cidade de Shechem.

Asnat Filha de Dina

Dina, a filha de Yaacov, deu à luz a uma filha a quem deu o nome de Asnat, derivado da palavra 'asson', infortúnio. "É meu infortúnio", lamentou ela, "ter tido uma filha de Shechem, filho de Chamor, que me tomou à força."

Os filhos de Yaacov não suportavam ver Asnat, que os lembrava do desagradável episódio. Yaacov percebeu este sentimento e ficou preocupado. Pegou uma corrente de ouro, escreveu a palavra 'kedoshá' num amuleto e pendurou-o no pescoço dela. Então a mandou embora, para um lugar onde teria uma vida melhor.

"Mas aonde eu irei?", perguntou Asnat. "O que farei? Ainda sou jovem." Yaacov tranqüilizou-a, dizendo: "D'us a protegerá aonde quer que você vá."

Asnat deixou a casa de Yaacov. O anjo Gavriel a acompanhou e conduziu-a ao Egito, onde ela conheceu a esposa de Potifar, que não tinha filhos e de bom grado adotou a menina. Muito tempo depois, esta mesma Asnat se casaria com seu tio Yossef.