Os filósofos há muito lutam contra a grande questão do nosso livre arbítrio por um lado, e do outro a nossa crença num destino mais elevado. A vida é determinada pelo destino, ou desfutamos de genuína liberdade?

Geralmente, o Judaísmo parece concordar com uma liberdade pessoal em questões de moralidade, fé e opções éticas que fazemos na vida. Mas quando se trata de coisas como vida e morte, e até saúde e riqueza, por mais que gostemos de pensar que estamos na direção, parece que estamos sujeitos a forças além do nosso controle. Onde vivemos, quanto tempo iremos viver, com quanto conforto viveremos – tudo isso está nas mãos de D'us. O que podemos e devemos escolher é que tipo de vida levaremos. Se será uma vida justa, Divina, moral, decente e honesta – isso cabe a nós decidir, e somente a nós. D'us dá espaço para nos conceder a liberdade de determinar quão bons, honestos e judaicos seremos, ou não seremos.

E Yaacov ergueu seus pés e seguiu seu caminho (Bereshit 29:1). Este versículo da nossa Parashá fala da jornada de Yaacov na sua fuga da ira de Esav. Ele estava a caminho de Haran, onde terminaria por estabelecer sua família e lançaria os alicerces para o povo judeu. Mas por que a curiosa expressão “E Yaacov ergueu os pés”? A Torá precisa realmente nos dizer que para se mover, temos primeiro de erguer os pés? Ele estava atolado num pântano ou algo semelhante?

Muitos de nós olham para nossas circunstâncias e dão de ombros: “Nu, o que se pode fazer?” Se nascemos na pobreza ou fomos criados num ambiente não-privilegiado, nos resignamos a estar destinados ao fracasso. Muitas pessoas me disseram que foram parte da “geração perdida” d ejudeus que não tiveram educação ou criação judaica. Seus pais imigrantes estavam tão ocupados na luta pela sobrevivência num novo mundo que não tiveram tempo nem espaço para criar os filhos com o sistema de valores judaico que eles próprios tinham tido na Europa. Tragicamente, esses indivíduos sentiram que, judaicamente, eles estavam para sempre perdidos.

Rabino Jonathan Sacks (Rabino Chefe do Reino Unido) conta a história de como, quando era estudante de filosofia em Cambridge, ele viajou pelo mundo visitando líderes.

Quando foi ver o Rebe, este lhe perguntou o que estava fazendo pelos estudantes judeus em Cambridge. Ele começou dizendo: “Nas circunstâncias em que me encontro atualmente…” quando o Rebe o interrompeu e disse: “Ninguém ‘se encontra’ em circunstâncias. Nós criamos nossas próprias circunstâncias.”

É claro, há épocas em que nos encontramos em circunstâncias além do nosso controle; mas no decorrer da vida, encontraremos amplo objetivo e oportunidades para melhorar nossas circunstâncias. D'us dá a cada um de nós qualidades únicas, talento e potencial, e cabe a nós usar e desenvolver estes dons. A vida está repleta de exemplos inspiradores de indivíduos que superaram incapacidades e desvantagens de um ou outro tipo. No mundo judaico, muitos chegaram à proeminência vindos das origens mais humildes. A Torá é direito de nascença de todo judeu. Temos apenas de sair para reivindicá-la.

As palavras da nossa Parashá são bastante deliberadas e bem escolhidas. “Yaacov ergueu os pés e seguiu seu caminho.” Alguns seguem seus pés onde quer que eles os levem. Não importa a direção, eles simplesmente seguem, permitindo que seus pés os levem. Não Yaacov. Ele mandava nos próprios pés e nas circunstâncias. Colocou os pés na estrada certa, e tornou-se dono do seu destino.

Que possamos todos ser inspirados a nos elevar acima das nossas circunstâncias.