D’us Esqueceu? - Por Micah Gimpel
A porção desta semana da Torá contém a tochachá, a famosa advertência severa aos Filhos de Israel por não seguirem os caminhos que D'us ordenou. Entretanto, embora a longa passagem comece com uma nota negativa, termina de modo inspirador. D'us nos diz que perdoará os Filhos de Israel assim que se arrependam e mudem seu modo de agir. Esta seção enaltecedora começa com um interessante versículo: "Lembrarei de Meu pacto com Yaacov, e também Meu pacto com Yitschac, e também Meu pacto com Avraham lembrarei, e lembrarei da Terra" (Vayicrá 26:42).
Linguisticamente, este versículo é bastante difícil por várias razões. Rashi cita um Midrash que faz uma pergunta óbvia e esclarecedora: por que a Torá usa a linguagem de "lembrar" referindo-se a Yaacov e Avraham, mas não em relação a Yitschac? Seria possível que D'us lembre-Se menos de Yitschac que dos outros?
O Midrash, conforme foi citado por Rashi, dá uma resposta que requer alguns esclarecimentos. Declara que o Criador vê as cinzas de Yitschac como se fossem juntadas e colocadas sobre o altar; portanto, lembrar é desnecessário no caso de Yitschac. Esta declaração está se referindo à akeidá, o quase-sacrifício, de Yitschac na mão de seu pai, descrito no final da Parashá Vayerá (Bereshit 22:1-19).
Deixando-se de lado a aparente irrelevância da akeidá ao assunto em discussão, devemos em primeiro lugar entender sobre o que o Midrash está falando, pois como deve se lembrar, Yitschac jamais foi sacrificado, e portanto nunca foi queimado sobre o altar. No último momento Avraham rescindiu Sua ordem. Se é aquele o caso, como pode o Midrash dar uma resposta aparentemente tão errônea, falando sobre as cinzas inexistentes de Yitschac?
A akeidá foi um tremendo teste de fé, que serve como paradigma da grandeza de Yitschac. Contando já 37 anos e maduro de caráter, Yitschac concordara em agir de acordo com a ordem de D'us e dar sua vida. Este fiel atributo brotou da natureza passiva de Yitschac. Durante toda sua vida, sua grandeza foi demonstrada por sua falta de iniciativa. Voltou às mesmas cidades que Avraham havia visitado anteriormente, a fim de reforçar o que seu pai já havia feito; poucas vezes fez algo por sua própria iniciativa. Foi durante a akeidá que a passividade de Yitschac mostrou-se mais fortemente, e isso caracteriza sua vida inteira e toda sua personalidade.
O Criador, portanto, viu Yitschac como se efetivamente tivesse sido sacrificado sobre o altar, pois estava desejoso de entregar sua vida até mesmo no último momento. As cinzas teriam representado a realização do sacrifício e permanecem perante D'us como um lembrete permanente da grandeza de Yitschac. Portanto, o Chofetz Chaim explica, como as cinzas de Yitschac são sempre vistas, não há necessidade de lembrete.
Este entendimento sobre Yitschac esclarece ambas as perguntas. A razão pela qual Yitschac não é "lembrado" no versículo é simplesmente porque jamais foi esquecido. É desnecessário lembrar algo que permanece constantemente no primeiro plano da consciência. Portanto, ao responder esta questão, o Midrash refere-se à akeidá – o meio pelo qual ele jamais fora esquecido – para expressar a grandeza de Yitschac, sua passividade. Moshê está dizendo aos Filhos de Israel os castigos que advirão pelos seus pecados, e como Ele os perdoará. As ações dos Filhos de Israel foram tão ofensivas que não podiam pedir misericórdia por suas iniqüidades. Mas pelo mérito de Yitschac, que representa a grandeza pela falta de ação, os Filhos de Israel poderiam arrepender-se e pedir a D'us para deixar passar seus horríveis pecados, concentrando-se em sua falta de ação.
A passividade de Yitschac permite-nos sermos grandes através de nossa própria passividade. Evitarmos uma situação negativa pode por vezes ser equivalente a realizar um ato positivo.
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