A prece pode ser examinada a partir de dois pontos de vista – do ponto de vista da Halachá e do ponto de vista dos ensinamentos chassídicos.
Há diferentes opiniões a respeito do status da mitsvá da prece. Segundo o Ramban (Nachmânides), a Torá obriga a pessoa a rezar e implorar a D’us quando se encontra em tempos difíceis; foram os Sábios que estabeleceram a mitsvá de rezar diariamente. Em contraste, o Rambam (Maimônides) é da opinião que a Torá exige que rezemos todos os dias, e os Sábios apenas estabeleceram o número e formato de nossas preces. Mesmo assim, segundo as duas opiniões, a essência da prece é o pedido do homem ao Eterno, bendito seja, para suprir nossas necessidades. Isso é expresso no Sefer HaChinuch da seguinte maneira: "A Torá ordena o homem a requisitar suas necessidades a D’us, pois esta é a oportunidade que o Mestre de todas as coisas deu ao homem para receber tudo que precisa."
Segundo a perspectiva da Chassidut Chabad, a essência da prece é totalmente outra questão. É o "serviço do coração." Este é um serviço de largo alcance, que vai muito além de pedir pelas necessidades de alguém, como saúde e sustento, de D’us. Ao servir a D’us por meio da prece, o homem conecta sua mente à grandeza do Criador, e seu coração é despertado no verdadeiro amor e reverência a seu Criador. Como resultado disso, seu estudo de Torá e seu cumprimento dos preceitos são muito mais elevados. Além disso, ele recebe a capacidade de purificar seus atributos emocionais inatos. O benoni que nunca cai no pecado, mas mesmo assim está bem consciente de sua má inclinação no decorrer do dia, consegue efetuar a subjugação e a anulação de sua alma animal até certo ponto, durante suas preces.
Um Tempo auspicioso
No décimo segundo capítulo do Tanya, Rabi Shneur Zalman explica que a hora de recitar o Shemá e a prece Amidá é um tempo em que "o Intelecto Celestial acima está num estado sublime. Como aqui em baixo, o tempo [da prece] é propício para todo homem" ascender a um nível espiritual mais elevado.
O versículo declara: "E quanto a mim, que minha prece a Ti, ó Eterno – seja numa hora propícia." Quando um judeu reza da maneira que deveria, transforma o tempo da prece numa hora propícia, quando D’us prontamente escuta sua prece. É nessa hora que "o Intelecto Celestial está num estado sublime" – pois os mundos celestiais estão iluminados com uma revelação da Divindade em maior extensão que a usual. Em geral, a radiância da Luz Infinita ilumina o mundo somente de maneira limitada, a fim de criar constantemente os mundos e sustentá-los. Isso é chamado de "luz imanente" na linguagem da Cabalá. Refere-se à força vital e energia de apoio que preenche e permeia os mundos. No entanto, na hora da prece, os mundos são iluminados com uma luz Divina ilimitada, que na terminologia cabalista é chamada de "transcendente", ou luz "toda abrangente".
O tempo para recitar o Shemá e a Amidá é também uma ocasião propícia para toda pessoa domar suas faculdades intelectuais "meditando profundamente sobre a grandeza do bendito Ein Sof – o Infinito. Esta é a intenção do primeiro verso do Shemá: "Ouve, ó Israel, o Eterno é nosso D’us, o Eterno é Um" que explica a mitsvá de unificar D’us. É nessa hora que uma pessoa pode conseguir, por meio da prece, "despertar um amor ardente [a D’us] na parte direita de seu coração." Esta é a instrução do versículo que se segue à mitsvá de unificar D’us: "Ama o Senhor teu D’us com todo teu coração…" Além disso, ele merece apegar-se a D’us através do cumprimento da Torá e mitsvot, com amor.
O mal dorme
O benoni utiliza por completo este tempo propício. Ele se esforça para despertar amor e reverência em seu coração, por meio da meditação. A luz de D’us o ilumina e ele consegue afastar a alma animalesca. Durante todo o período da prece, a alma Divina domina e tem soberania sobre a alma animalesca.
Durante a prece o benoni não está propenso a cair no pecado em pensamento, palavra ou ação. Além disso, ele consegue provocar a subjugação e a anulação das dez faculdades da alma animal. Como declara o Tanya, "o mal no lado esquerdo do coração está sujeito, e é anulado, perante a bondade que se espalha pelo lado direito de seu coração." Esta subjugação e anulação é expressa no fato de que a alma animalesca do benoni é também imbuída com amor a D’us na hora da prece. E portanto, a interpretação de Nossos Sábios sobre o versículo "Com todo o seu coração" – é cumprida, pois a pessoa passa a amar a D’us tanto com o yetser tov como com o yetser hará, como foi explicado no capítulo anterior.
Quanto àquelas más qualidades que se enraizaram na alma animalesca, e que o benoni não pode mudar, no capítulo 13 do Tanya Rabi Shneur Zalman explica que em virtude do amor a D’us que arde no coração do benoni na hora da recitação do Shemá, o mal simplesmente é colocado para dormir.
Até no auge de seu serviço a D’us, o benoni não consegue transformar as más faculdades de sua alma animalesca em santidade, ou afastá-las completamente. Tudo que ele pode fazer é colocá-las para dormir. Aqui um certo perigo espreita. Pois imediatamente após a prece, depois do tempo propício para subjugar a alma animalesca, o mal dentro dele pode mais uma vez retornar e ser despertado de seu sono. O benoni deve estar em alerta, no caso de que isso possa acontecer.
ב"ה
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