O Talmud declara que os justos são julgados pelo yetser hatov, a boa inclinação, e os perversos pelo yetser hará, a má inclinação. Aqueles ao nível de benoni "são julgados por ambos". No capítulo 13 do Tanya, Rabi Shneur Zalman explica que Nossos Sábios usaram a expressão "juízes" e "julgamento" para nos dar uma descrição precisa da maneira pela qual estas duas inclinações funcionam no homem.
As inclinações no homem não são como ditadores que têm autoridade absoluta sobre a "cidadezinha", onde cada expressão da vontade é na realidade um comando a ser cumprido. Ao contrário, cada inclinação é simplesmente "um magistrado ou juiz que expressa sua opinião no assunto sendo examinado. Cada juiz, mesmo que seja uma opinião solitária, deve explicar seu argumento. Pois dessa maneira é possível que ele convença seus colegas de que sua opinião está correta, e eles aceitem seu ponto de vista. Mesmo assim, cada juiz está consciente de que sua opinião não é necessariamente definitiva, pois é possível que o veredicto seja de acordo com os outros juizes, cujo privilégio é discordar dele.
Segundo esta analogia, podemos entender que as ações de uma pessoa não dependem de suas inclinações, pois elas não podem forçar suas opiniões sobre ele. Podem apenas mostrar-lhe seus respectivos pontos de vista. Há também outros fatores que influenciam uma pessoa, e pode ser que estes estabeleçam o caminho que ele seguirá.
A natureza da batalha
A declaração de Nossos Sábios de que um benoni é julgado pelas suas duas inclinações sugere que o conflito entre as inclinações existe somente num benoni, pois o tsadic exterminou seu yetser hará e somente o yetser hatov pronuncia seu julgamento. Ele não tem motivações contraditórias. Exatamente da maneira oposta, um rasha que está perto do pecado, ouve somente a opinião de seu yetser hará.
No benoni, porém, há duas opiniões opostas sendo expressas. Apesar disso, na guerra entre as inclinações de uma pessoa não há discussão ou briga entre elas. Também não há qualquer concessão. A alma Divina jamais concordará com os maus aspectos de sua alma animalesca, e da mesma forma, o mal de sua alma animalesca não aceitará a opinião do bem de sua alma Divina. Cada uma das duas almas tenta sobrepujar sua colega, e convencer a pessoa a realizar seu desejo específico.
Na luta das inclinações num benoni, a má inclinação expressa sua opinião no lado esquerdo do coração, e consegue despertar os desejos adormecidos da alma animalesca residindo no coração. Como resultado, pensamentos de pecado sobem do coração para o cérebro, para serem avaliados. No entanto, "ele é imediatamente desafiado pela alma Divina [que reside] no cérebro, que se expande até o lado direito do coração onde mora o yetser tov."
Assim, o benoni recebe opiniões opostas. Após cada uma dessas ter sido ouvida, é necessário arbitrar entre elas. Esta decisão é obviamente um estágio mais avançado no processo inteiro da ação precedente.
Como é Tomada a Decisão?
Nem todos os benonim podem ser classificados numa só categoria, embora seja verdade que, na hora da prece, o amor a D’us arda como uma chama de fogo no coração de todo benoni, e o mal dentro dele adormeça. No entanto, após a hora da prece, existem aqueles cuja prece deixa neles uma impressão duradoura por todo o dia, como se gravada no cérebro, pois eles rezaram apropriadamente, ao passo que com outros a impressão de suas preces desaparece logo em seguida.
Agora, o precedente tipo de benonim consegue sobrepujar os desejos de sua má inclinação através da vontade no cérebro, "pois o homem assim foi criado desde o nascimento, e toda pessoa pode, com o poder da vontade em seu cérebro, restringir-se e controlar a ânsia dos desejos de seu coração, impedindo que estes desejos se expressem em ações, palavras e pensamentos." A segunda categoria de benoni, no entanto, deve confiar na ajuda do Alto para ativar o poder da vontade no cérebro, para que eles possam realmente decidir em favor do yetser hatov. Como disseram Nossos Sábios: "Não fosse a ajuda do Todo Poderoso, ele não conseguiria dominá-lo [o yetser hará]."
A essência desta ajuda do Alto é explicada por Rabi Shneur Zalman como sendo "o brilho da luz Divina que ilumina sua alma Divina, para que esta possa adquirir superioridade sobre as tolices do 'tolo', a má inclinação, como a superioridade da luz sobre a escuridão". Nossos Sábios declaram que, "uma pessoa não transgride, a menos que o espírito da tolice entre nela." Os ensinamentos chassídicos explicam de maneira mais profunda. Para assegurar que suas reações e posição estão corretas, a pessoa deve adquirir o entendimento e opinião adequados, pois "onde não há conhecimento, como pode haver distinção entre uma coisa e outra?" Aquele que está determinado a não cair no pecado, mas cujo status espiritual do momento é que sua mente ainda não domina seu coração, é auxiliado pelo Eterno, bendito seja, que lhe fornece a perspectiva apropriada, pela qual ele pode distinguir entre a luz e a escuridão, e caminhar ao longo da trilha correta do serviço Divino.
ב"ה
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